Noite XI

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MADALEINA

— Algo está faltando — falei para minha ilusão. — Algo dentro de mim está faltando. — Ela me olhou de volta. — O que aconteceu enquanto esteve em meu lugar? — Acariciei o tecido grosso do me vestido. Minha ilusão me encarava intensamente, sem qualquer brilho de vida em seus olhos.

— Belledisse nos convocou — disse ela. — Ela reuniu todas as Intocadas. Declarou que Marie não era mais uma de nos. — A encarei surpresa.

— Você não é uma de nós — rebati, fazendo-a inclinar a cabeça. — Continue — mandei.

— Ela declarou que Marie queria ser sacrificada. Queria entregar a sua alma para a Deusa. — Ela parou, me fazendo encara-la. — Só assim ela conseguiria se livrar do Deus Caído.

— A Marie estava presente? — quis saber.

— Não. Ela não estava.

Voltei a pensar no dia anterior, antes que Tristen invadisse o meu quarto. Antes do jantar e do banho de ervas. Mas eu não conseguia me lembrar de nada, era apenas escuro. E quanto mais eu tentava lembrar, mais com dor de cabeça e cansada eu ficava.

— Você poderia saber o que aconteceu ontem? Comigo? — Olhei para a janela que estava aberta. O aroma da floresta invadia o meu quarto, não demoraria muito para eu o encontra-lo na floresta. Mesmo que ele não tenha me dado instruções específica, o único lugar que eu conseguia pensar era onde tivemos nosso primeiro beijo. Quando ele retirou o meu véu e viu quem eu era de verdade.

— Não. — Foi tudo o que ela disse antes de desaparecer dentro do espelho.

Passei os dedos entre os cabelos. Meu peito doía e minha cabeça parecia preste a explodir. Pergunto-me se Tristen saberia o que fazer. Vampiros velhos como ele conquistam poderes com o passar dos tempos, eles não possui apenas a imortalidade. Se ele pudesse ver o que estaria faltando dentro de mim, tudo seria resolvido. A história sobre a Marie, a voz que não parava de sussurrar dentro da minha cabeça. O vazio dentro de mim e o modo diferente de como a Belledisse estava me observando. Tudo seria resolvido.

Deixei o quarto em silêncio e segui pelos corredores escuros. As janelas estavam fechadas, assim como as enormes cortinas. Deixei a mansão sem fazer barulho e sussurrando pequenos encantos para passar despercebida. Eu precisava encontra-lo. Mesmo desejando sentir o sabor dos seus lábios, sentir sua pele acariciando a minha, eu teria que deixar tudo aquilo para outra hora. Primeiro, ele teria que me ajudar. Depois disso, poderíamos nos perder um no outro.

Enquanto caminhava pela floresta escura, conseguia sentir algo me observando. Parei perto do lago e olhei ao redor, a sensação de noites atrás voltou a me consumir. A sensação de estar sendo seguida, como se quisessem brincar comigo. Não posso negar que fiquei receosa. Eu estava sozinha no meio da floresta. Se algo me acontecesse, se quem estiver atrás de mim quiser me machucar. Minhas irmãs não me escutariam, seria difícil sentirem minha magia. A mansão estava distante, mesmo sabendo que eu poderia me proteger sozinha, não era bom ter um conflito direto. Não sozinha. Juntas, somos mais fortes.

— Quem... — Minhas palavras morreram quando algo rasgando meu véu e meu rosto. Gritei, quando meu corpo caiu no chão. Sentir o gosto metálico do meu sangue invadindo minha boca. Levantei, sentindo meu rosto queimar. Meu véu estava destruído. Ele caiu no chão completamente estraçalhado e banhado em sangue.

— Você é mais bonita do que imaginei que seria. — A voz um pouco familiar fez meu corpo gelar. Virei-me e dei de cara com a única Vampira que vivia na mansão. Seus cabelos brancos estavam soltos e volumosos. Suas roupas negras apenas realçavam sua pele pálida e seus olhos vermelhos como sangue. — Agora, farei você sofrer por tentar roubar aquilo que me pertence. — Ela se aproximou lentamente. Meus olhos correram para suas longas unhas manchados de sangue. O meu sangue.

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