MADELIENA
Acendi a vela com um sopro. A chama dançou sobre a vela vermelha. Encarei o fogo por alguns segundos, as marcas feitas na cera foram muito bem trabalhadas. Passei o polegar sobre o nome de Belledisse, um brilho branco preencheu o nome e logo em seguida, se apagou.
— Interessante — alguém murmurou na escuridão do meu quarto. Meu corpo não ficou em alerta e não me senti incomodada com sua invasão. Marco deu um passo à frente, a pouca luz iluminou seu rosto bonito e suas roupas escuras.
— Não deveria estar aqui — avisei, deixando a vela sobre o chão de madeira. Marco sentou no chão para me fazer companhia, o observei por alguns segundos. Seus olhos vermelhos vasculhavam o meu rosto sem a proteção do véu. Ele não piscou quando seus olhos foram para o meu pescoço exposto e depois meus seios. — Já chega. — Ele voltou para os meus olhos.
— Não me interesso por mulheres — rebateu, com a voz firme. Peguei algumas ervas e as rasguei dentro do bule de chá. — Por tanto, devo admitir que entendo o desejo dele por você. — Um sorriso cresceu em seus lábios grossos.
— Obrigada, Marco — agradeci lentamente. Marco lambeu os lábios e engoliu em seco ao escutar seu verdadeiro nome. — O que faz aqui? Sua presença está prejudicando meu feitiço. — Peguei uma pequena pedra redonda e a joguei dentro do bule.
— Eu sei o que você está fazendo — comentou. Não lhe dei muita importância e peguei a cuia escura com água quente. — Acredita mesmo que isso vai enfraquecer a Belledisse? — Depois de despejar toda a água, o encarei.
— Você tem alguma ideia do que eu posso fazer? — questionei, deixando-o em silêncio. — Belledisse me escolheu porque eu possuo a magia mais pura entre nós. — Seus olhos vermelhos desceram para as velas negras espalhadas.
— Não tem medo que usando esse tipo de feitiço, sua magia se torne negra? — perguntou com calma.
— Não estou usando minha magia para prejudicar a Belledisse, é só para me proteger dela. — Sorri para ele. Observei seus olhos se estreitaram. — Por que está aqui? — insisti.
— Estou aliviado por você ter acordado — suas palavras não demonstravam isso. Olhei para seu rosto em silêncio, antes de voltar minha atenção para o feitiço. A chama consumia a cera rapidamente, eu não tenho muito tempo. — E que essa é uma nova chance de você romper sua ligação com ele.
Parei de balançar o bule com sua última declaração. O silêncio perdurou entre nós, as luzes amareladas dançavam em uma música lenta e melancólica. Respirei fundo, sabendo que teríamos a mesma conversa outra vez, voltei a balançar o bule. Escutei a pedra batendo contra o metal e o cheiro forte de ervas me invadir.
— Já conversamos sobre isso Marco. — Peguei o pequeno escorredor e o depositei sobre a xícara de cerâmica. O líquido esverdeado escorreu, assim que a xícara encheu, a vela vermelha se apagou. Marco a encarou rapidamente e depois a xícara. Seu rosto estava calmo, porém pude notar o leve tremor em seus dedos, antes que ele os entrelaçassem. — Você está com medo? — perguntei, sem esconder a malícia em minhas palavras.
Marco sorriu. Um sorriso bonito, que o deixava mais elegante. Marco é um homem belo que poderia conseguir tudo o que desejava com simples palavras. Seus cabelos longos e brancos o deixavam exótico, posso entender porque Tristen um dia o desejou.
— Não tenho medo de você Madaleina. — Seu sorriso continuou. — Já lutei com várias bruxas no decorrer da minha existência. Um simples feitiço não me causaria medo mesmo se eu quisesse.
— Claro que não — pisquei para ele. Soprei uma das velas, apagando a chama. A escuridão aumentou entre nós. — As noites estão terminando e logo não estaremos mais juntos. — Minha declaração parecia vazia e amarga. Eu não queria deixa-lo para trás, como uma lembrança prazerosa. Como a única coisa verdadeira que eu já tive em toda a minha vida.
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Intocada
VampiroDepois de três séculos em guerra. Bruxas e Vampiros estão prontos para negociar uma trégua. Após a perda de centenas de irmãos e irmãs, um tratado está para ser discutido. Terras serão divididas e leis serão feitas para seus próprios benefícios e pr...