Noite V

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TRISTEN

Encarei o corpo decapitado do Thomas no chão. Seu sangue negro manchava o piso de madeira do meu quarto. Joguei-me na poltrona de couro e peguei um lenço branco que estava na pequena mesa ao lado. Limpei o sangue que sujava minhas mãos sem pressa. Passei o lenço na camisa preta e no rosto, posso sentir o sangue escorrendo pela minha bochecha.

— Isso era... Necessário? — questionou Turno em pé ao lado do corpo estirado no chão.

— Eu queria fazer isso em você — declarei, fazendo-o piscar os grandes olhos vermelhos. — Mas, ele foi o primeiro a me irritar... Então, sim. — Joguei o lenço perto de Thomas e cruzei as pernas, esperando que Turno começasse a falar.

— Elas querem Massachusetts a todo custo. Não cederão as nossas exigências sem abrirmos mão do que elas desejam. — Turno deu um passo para trás, fugindo do sangue que escorria na sua direção.

— Entregue Massachusetts — mandei, fazendo seus olhos se arregalarem. — Não podemos perder essa trégua, temos coisas mais importantes para resolvermos.

— Não farei isso — retrucou, com os punhos cerrados. O encarei em silêncio. Há quanto tempo ele não se exaltava dessa maneira? — Massachusetts é importante para nós. Ela representa a nossa vitoria, não farei esse acordo. Não deixarei que você nos humilhe tomando tal decisão. Não permitirei isso.

Com um movimento rápido, deixei a poltrona e segurei seu pescoço com força. Seus olhos vermelhos se arregalaram, mas não de surpresa. Turno segurou meu braço tentando se livrar do aperto.

— Abaixe seu tom, Marco. Não esqueça com quem está falando — a citação do seu verdadeiro nome fez seu corpo estremecer. — Você fará o que eu mando, entregará Massachusetts aquelas bruxas e será o vampiro mais cortes e gentil da porra desse mundo. — O soltei bruscamente, fazendo-o cair. — Elas não são mais nossas inimigas. Você sabe muito bem disso. Enquanto estamos presos na merda dessa floresta, nossos verdadeiros inimigos crescem a cada noite.

Marco levantou com dificuldades. O analisei endireitar a camisa branca e arrumar os cabelos longos.

— Está completamente certo, senhor. — Seus olhos encararam o sangue na madeira. Seus dedos tremiam e seu maxilar estava tenso. Dei-lhe as costas e voltei a me sentar. Esperei que ele se retirasse, mas ele não o fez. Apenas ficou imóvel, encarando o sangue escorrendo lentamente até seus sapatos. — É como o senhor disse — começou, levantou o rosto pálido. — Elas não são mais nossas inimigas. Mas se Belledisse saber o que você anda fazendo com a jovem bruxa. A Intocada. Thomas não será o único a ter um fim tão lastimável.

— Eu posso lidar com Belledisse sozinho. Obrigado pela preocupação, Marco — falei sem interesse.

— A preocupação que eu sentia por você, se foi há muito tempo. — Explicou seriamente. — Estou preocupado com que você decidiu fazer. Acredita mesmo que com essa trégua, as bruxas lutaram ao nosso lado? — perguntou, incrédulo.

— Acredito.

Um silêncio pesado se formou no quarto. Encarei seus olhos vermelhos, Marco me encarou de volta.

— Preciso me retirar — anunciou, depois de um tempo. — Acho melhor você não ir à reunião. Como bem sabemos sua impaciência não será de grande ajuda. — Disparou ao se virar e seguir para a porta de madeira. Seu sapato de couro deixará um rastro de sangue pelo caminho. Antes que Marco se retirasse de vez, ele parou no vão da porta e me encarou. — Devo admitir, é divertido ver você dessa forma por causa de uma mulher. — Um sorriso sombrio surgiu em seus lábios.

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