— Ouça, já causei muito transtorno por uma noite — Lauren disse, como que consciente do embaraço dela. — Se me emprestar um cobertor, dormirei no carro para te deixar...
— Que bobagem! Arrumarei um dos quartos do hotel para você.
— Não discutirei com você. Se soubesse como é dormir numa Ferrari...
— Isso está um pouco além das minhas possibilidades.
— Normalmente, eu seria cavalheiro demais para perguntar isto — ela a seguiu para fora do banheiro —, mas falava sério quanto a ter companhia aqui? — Ergueu o olhar para o mezanino. — Confesso que não gosto da ideia de um namorado ciumento à espreita lá em cima, mirando a minha nuca com algo mais certeiro que aquele atiçador de fogo.
Camila riu.
— Aquilo foi um blefe desesperado. Não há ninguém aqui além de mim e um rato cinzento que não oferece muita ameaça, exceto para eventuais farelos de biscoito.
— Não é uma companhia muito reconfortante para noites frias.
— Realmente, mas é quieto, fácil de alimentar e não ronca.
Foi a vez de Lauren rir.
— E há alguém especial à sua espera em San Francisco?
— Não... Não mais...
— Camila, sinto muito! — Lauren a tocou no ombro num gesto de conforto. — Taylor me disse sobre o que aconteceu. O nome dele era Matt, não?
— Matthew, Matthew Hussey.
— Aconteceu há uns dois anos, não? Num acidente de carro?
— Faz quase dois anos e meio agora. Havia caído uma nevasca na cidade, provocando um caos. Matt e eu tínhamos combinado jantar juntos e ele insistiu em não deixar nada estragar nossos planos. Ele estava a caminho do meu apartamento quando um pneu furou e parou para trocá-lo. Um caminhão surgiu de trás de uma lombada e o atropelou. Foi morte instantânea. Nunca localizaram o caminhão. Um motorista que passava pelo local socorreu Matt e chamou a polícia.
Lauren soltou um palavrão baixinho.
— Taylor disse que estavam noivos há cerca de um ano.
— Íamos casar três semanas depois do acidente. Matt havia alugado uma cabana em Aspen e brincou dizendo que ficaríamos ilhados pela neve durante toda a lua-de-mel.
Lauren tocou-a no ombro de novo, numa demonstração silenciosa de simpatia. Camila sorriu, grata.
— Olhe, estou completamente sem sono — ela disse. — Que tal uma xícara de café?
— Aceito. Tenho, a impressão de que não conseguirei dormir muito esta noite. — A voz rouca parecia querer dizer mais do que as palavras. Camila desviou o olhar, súbita e inexplicavelmente envergonhada.
— Com licença — ela sussurrou. — Acho melhor me trocar.
— Uma boa ideia. Enquanto isso, prepararei o café.
Será que nunca ia crescer! Camila vestiu impacientemente um par de jeans desbotados e um blusão branco. Mirou-se no espelho da penteadeira com espírito crítico. Havia sentido uma empolgação adolescente por aquela mulher que a beijara... uma vez. Dez anos — um noivado e um coração partido — haviam se passado, levando embora a garota tímida de catorze anos. Examinou o reflexo no espelho: era mulher feita agora. Os olhos de um castanho se destacavam no rosto de pele morena e traços delicados, emoldurado por um cabelo longo e castanho.
Houvera uma época nos últimos dois anos e meio em que se, olhava no espelho e não reconhecia a criatura fantasmagórica ali refletida. A tristeza sombreava o olhar e encovava as faces. Entretanto, por mais impossível que tivesse parecido, o tempo operara a cura. O sorriso voltava a alegrar suas feições e os olhos cor dourado, encaravam o mundo com humor e ávida curiosidade.
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Lugar Distante
FanfictionAdaptação do livro de Naomi Horton. História G!P, por favor se não gosta, não leia! O ruído de vidro se estilhaçando acordou Camila. Ela se sentou na cama num pulo, o coração batendo forte, e ouviu os últimos estilhaços da janela quebrada se espal...