Capítulo 9

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— Sabe, poderia me viciar neste tipo de vida! — Camila ergueu o rosto para o sol, lambendo o sal dos lábios, enquanto Pretty singrava o mar verde-jade com elegância. — É fantástico!,

Lauren sorriu, mais parecendo um pirata ao leme, as pernas apartadas e os cabelos bagunçados pelo vento. De biquíni, podia-se ver o movimento da cintura, ombros e pelo branca, durante as manobras. Perfeita, pensou Camila.

— Segure-se, vou fazer uma curva.

Camila abraçou as pernas dobradas enquanto o convés do Pretty tombava, o vento estufando a vela branca. O barco cortava as ondas espumantes como um golfinho, espirrando água salgada sobre seus ocupantes.

— Quer pegar o leme?

— Sim! — Camila caminhou cuidadosamente pelo convés inclinado e molhado, os pés devidamente calçados com tênis. Ela pulou para a cabine ao lado de Lauren, ofegante de excitação. — O que faço?

— Segure o leme com firmeza e dirija o barco para onde eu indicar. — Lauren ergueu o braço esquerdo sem tirar a mão do leme para Camila se colocar no meio.

Ela segurou o leme experimentalmente, a atenção mais voltada para o corpo quente bem atrás de si. A cabine era estreita para dois, mas Lauren parecia comprimi-la um pouco mais que o necessário.

— Segure bem firme. — A voz dela revelava um traço de divertimento. — Um barco é como uma mulher: difícil de levar e diabolicamente independente. Quando se pensa que a situação está sob controle, é inesperadamente pega à traição.

— Ah, é? — Camila fincou o cotovelo nas costelas dela. — Opa... desculpe.

— Muito bem — ela falou reprimindo o riso. — Mantenha-se na direção daquele rochedo vermelho. Pronta?

— Sim... mas não vá me deixar aqui sozinha.

— Nem pensar — ela lhe sussurrou ao ouvido, aproximando-se mais.

Lauren soltou o leme nas mãos de Camila. O barco parecia uma criatura viva do mar que se dignava, por alguns instantes, a ser controlada por Camila.

— Mantenha a proa alta — Lauren recomendou, ajustando o leme. — Que perfume gostoso está usando.

Uma rajada de vento surpreendeu Camila, inclinando Pretty.

— Pelo amor de Deus, Lauren! Não devia estar fazendo alguma coisa como manejar a vela ou...

— Este barco está equipado para passeio, não para corrida. Apenas relaxe e segure o leme com firmeza.

Relaxar, francamente. Era difícil dizer o que a enervava mais: o barco que parecia ter vontade própria ou a proximidade de Lauren.

— É um bom teste para Pretty, assim perto do rochedo, onde a água é mais turbulenta e o vento forte.

— Não estamos perto demais do rochedo? — Ela olhou nervosa para o porto, onde se erguia uma rocha cinzenta e pontiaguda. Gaivotas sobrevoavam o topo e o mar espumava à base.

— Temos curso livre — Lauren a tranquilizou, as mãos no quadril dela procurando o equilíbrio ameaçado pelos solavancos do barco. — Está gostando?

— Muito! — Ela teve de gritar para se fazer ouvir sob o zunido do vento, tentando ignorar o calor das mãos dela e o frio em seu estômago.

— Este barco foi construído num estaleiro local de quase dois séculos. A construção levou dois anos, pois foi um trabalho manual, sem planta nem sequer desenho. O Pretty saiu passo a passo da cabeça de seu criador.

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