Capítulo 4

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O restaurante Blue Whale pousava sobre um afloramento de granito, oferecendo aos fregueses uma vista exuberante da costa escarpada. Camila tomava champanhe e observava Lauren retirar habilmente o último pedaço suculento de carne da garra de uma lagosta.

Enfim satisfeita, sorriu ao cruzar com o olhar dela.

— Gostou de ter sido chantageada?

— Muito. — Camila imaginava se era o champanhe ou a companhia o responsável por seu relaxamento.

Fazia tempo que não desfrutava uma noite tão agradável. Haviam conversado animadamente, rindo quando recordaram um incidente esquecido do passado. Lauren parecia cativada pela companhia, e Camila se viu flertando, mais consciente que nunca de sua feminilidade. A alegria presente em sua voz e riso naquela noite, bem como a vivacidade dos gestos e palavras, há muito não se manifestavam. Era como se um encanto tivesse se quebrado, permitindo que ela voltasse a ser a mulher cheia de vida de outros tempos.

— É indelicado oferecer um tostão pelos pensamentos de uma mulher?

A voz sensual tirou Camila do devaneio. Ela riu e pôs a taça na mesa.

— Seria um mau investimento por meio tostão. Tomei champanhe demais e estou tendo dificuldade para me concentrar em qualquer coisa além do meu nome.

— Precisa de um pouco de exercício. — Ela se levantou e estendeu a mão. — Vamos dançar, Camila...

— Tem espírito aventureiro! — Ela o seguiu até a pequena pista — Faz anos que não danço!

— Lamentável, é algo em sua vida social que pretendo preencher. — Lauren a envolveu nos braços, e entraram no compasso da música. — Você se move como um anjo — ela murmurou ao ouvido dela.

— Tive uma boa professora — Camila a lembrou. — E, se não me falha a memória, você julgou tanto a Taylor quanto a mim como casos perdidos.

— Uma prova de que eu não sabia o que dizia. — Ela a apertou mais nos braços. — Aliás, começo a achar que não sabia de muitas coisas naquela época, ou não a teria deixado escapar.

— Não seja boba. — O contato de seus corpos a inquietava, assim como o olhar demorado de Lauren em sua boca. — Você mal me notava  depois que entrou em Harvard. Naquela época, eu era apenas mais uma das dezenas de garotas tolas e risonhas sempre no seu pé.

— Nada disso. Prestava muita atenção em você. Não era menos imune a uma latina morena naquela época do que agora.

— Você faz um bem notável ao meu ego.

— Nem te conto o que faz ao meu. Não existe uma pessoa aqui esta noite que não venderia a alma para tê-la nos braços.

Nem uma mulher que não pagasse o mesmo preço para trocar de lugar com ela, Camila pensou, consciente dos olhares de admiração à sua volta.

Formavam um par vistoso. Ela havia adquirido um bronzeado invejável naquela semana, e o vestido que lhe deixava os ombros de fora realçava o brilho dourado da pele. Camila parecia uma cigana com a cabeleira negra caindo pelas costas. O rubor nas faces salientava os olhos castanhos.

— Já pensou em mudar para Nova York?

— Nova York? Por quê?

— Porque moro lá. E seria bem mais fácil levá-la para dançar todas as noites, se largasse essa vida inconstante e vivesse comigo.

O coração de Camila deu um salto.

— Isso é uma proposta, senhorita Jauregui?

— Chame como quiser.

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