Capítulo 5

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— Divertiu-se ontem à noite? — Debruçada sobre o balcão da pequena cozinha do chalé de Camila, Taylor se serviu de um biscoito de chocolate.

— Muito. Sua irmã dança bem. — Camila colocou três canecas e o bule de café numa bandeja de bambu.

— Foram dançar, é? — Taylor arregalou os olhos. — Ora, ora, a velha Lauren não perde tempo, hein? Pelo que me lembro, a última vez que alguém te levou para dançar num certo verão, acabou te propondo casamento.

— Não seja boba. Só fiz um favor a você entretendo sua irmã por algumas horas. — Ouviu-se o som de marteladas do lado de fora. — O seu guerreiro viking pode parar para um cafezinho?

— Lauren te deu um beijo de boa noite?

— Taylor! Se soubesse que sofreria um interrogatório, não a teria convidado para um café.

— Só quero saber o que fez para deixar Lauren de tão bom humor. Ele tratou Erik quase com civilidade esta manhã, e posso jurar que o vi sorrindo sem motivo aparente uma ou duas vezes. — Taylor olhou para a amiga com malícia. — Você também anda com uma expressão abobalhada desde cedo.

— Eu? Trabalhei a manhã toda.

— Passou a manhã sonhando acordada, isso sim. Pensa que não te vi lá fora, com o olhar perdido na baía como se os pensamentos estivessem a quilômetros de distância?

— Contemplação artística — Camila argumentou, enchendo o açucareiro.

Taylor lançou um olhar incrédulo e apanhou a bandeja, assobiando a marcha nupcial enquanto cruzava a sala até a varanda onde Erik trabalhava.

Camila sorriu, balançando a cabeça divertida. Era dese esperar que Taylor fizesse estardalhaço sobre a noite anterior. Estava tão apaixonada por Erik que ultimamente via romance em tudo, e um encontro amigável entre a irmã e a melhor amiga não seria exceção. E a noite anterior não passara disso. Por mais tentador que fosse esperar mais do jantar regado a champanhe e finalizado com um passeio ao luar, haviam apenas partilhado horas agradáveis a recordar os velhos tempos. Realmente houvera uma troca de carícias, mas estimulada por um resíduo de empolgação adolescente da parte dela e um pouco de orgulho da parte de Lauren. 

Aparentemente aquele beijo de dez anos atrás ficara gravado em suas mentes com mais impacto do que se poderia suspeitar.

O que, porém, nada significava. A adolescente ingênua não existia mais, nem a distinta estudante de Harvard por quem ela se apaixonara perdidamente. Lauren Jauregui de agora era diferente: calculista, insensível, pragmática quanto a seus anseios e principalmente às mulheres. Ela poderia oferecer-lhe momentos ardentes de amor, mas nunca se entregaria por inteiro. Haveria sempre um lado distante e ressabiado, e ela não se contentaria com isso. A própria Lauren dissera: para ela, era tudo ou nada.

Camila afastou esses pensamentos, indo se juntar a Taylor e Erik na varanda. Sentada na grade, ela o observava a alisar a última porção de massa na vidraça que trocara.

Erik olhou para Camila por cima do ombro, um sorriso se revelando por entre a barba cerrada.

— Isto deve segurar a vidraça. Algum dia gostaria de saber como se quebrou...

— Quem sabe um dia — Camila respondeu misteriosamente. Sentando-se numa cadeira de pinho, serviu-se de café e apoiou os pés na grade, ao lado de Taylor. — Vi você mostrando o hotel a Lauren esta manhã. Isso quer dizer que estão se falando?

— Mais ou menos. — A fisionomia de Erik se tornou sombria enquanto limpava as mãos num farrapo.

— Erik acha que o único jeito de convencer Lauren é cobri-la de fatos e números — Taylor explicou. — Ele varou a noite elaborando um cronograma de reformas e um orçamento operacional. Logo cedo, levou minha irmã a conhecer todos os cantos de Seahaven. Passaram horas a sós no sótão, examinando as vigas do forro, a parte elétrica e coisas do gênero.

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