Capítulo 8

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— Não é bem assim. — A negação a tudo que Lauren dizia escapou sem que Camila pudesse evitar. — Lauren, não é assim que deve ser. Não pode simplesmente se fechar por causa de um erro. Não pode deixar uma experiência frustrada arruinar o resto de sua vida...

— Não é tão fácil. Antes fosse.

— Eu sei. Quando Matt morreu, foi como se uma parte de mim tivesse morrido também. Parecia vazia e fria. Entorpecida até. Sinceramente, pensei que jamais voltaria a sentir alguma coisa, fosse felicidade, raiva ou amor... — As lágrimas brotaram tão subitamente que ela não teve como reprimi-las. — Ah... que droga!

— Camz?

— Desculpe! — Ela virou o rosto. — Isto não acontece há quase dois anos.

Lauren a abraçou, e ela fechou os olhos na tentativa de cessar o choro. Instantes depois, o nó na garganta se desfazia. Camila reabriu os olhos e respirou fundo.

— Desculpe — repetiu, encabulada. — Não sei o que me deu. Não costumo agir assim...

O abraço se intensificou, e ela recostou a cabeça no ombro de Lauren, preocupada com o que ela estaria pensando. Sequer se lembrava da última vez que se descontrolara daquele jeito. O pior era que nada tinha a ver com a morte de Matt. As lágrimas haviam sido motivadas pela angústia de Lauren. Ela acariciava suas costas naquele momento. O toque e as batidas compassadas do coração dela eram relaxantes, e Camila cerrou os olhos, envolvida por uma languidez. Um longo tempo pareceu passar antes de sentir cócegas no pescoço, causadas pelo roçar dos lábios de Lauren. Então, de repente, ela riu e se afastou.

— É melhor voltarmos para o hotel antes que eu perca o controle e te arraste para trás da duna mais próxima.

— É uma mulher honrada, Lauren jauregui — Camila brincou. — Uma espécie rara hoje em dia.

— Honrada? — Ouviu-se uma gargalhada sonora. — Louca, talvez, mas não tão honrada. Aprendi da forma mais cruel que pessoas honradas acabam perdedores... e não gosto de perder. — Lauren se virou e começou a subir a praia, as mãos enfiadas no bolso da jaqueta.

Camila a seguiu com o olhar, então suspirou e se abaixou para apanhar os sapatos. Os de Lauren também continuavam ali, aparentemente esquecidos. Munida dos dois pares, pôs-se a caminho, acompanhando as pegadas que costuravam a areia em linha reta até onde a neblina permitia enxergar.

Lauren a esperava na entrada da propriedade de Seahaven, recostada a uma árvore.

— Trouxe os seus sapatos — ela explicou, estendendo-lhe o par.

— Obrigada.

Tomaram o rumo do hotel lado a lado, em silêncio. O cheiro de madeira e terra molhada impregnava o ar. Camila arriscou um olhar para Lauren. Seria possível que ela a recriminasse por colocar a tentação ao seu alcance? Ou a si mesmo por deixar as emoções interferirem numa relação casual na praia? Ou, ainda, talvez estivesse simplesmente confusa e contrariada com as mudanças que só agora começava a perceber em seu comportamento.

Lauren seria provavelmente a última pessoa a admitir, mas mudara. Provara isso ao interromper o contato, preferindo não levar o ato às consequências naturais. A mulher frívola que a convidara sem rodeios para a cama há alguns dias não pensaria duas vezes. Se tudo que desejava era uma relação breve e descomplicada, tivera a oportunidade perfeita naquele dia. No entanto algo o detivera, talvez um resquício de senso de responsabilidade, um vago sentido de cavalheirismo não aniquilado pela traição da mulher.

— É boa marinheira?

— Marinheira? — A pergunta inesperada a confundiu.

— Pretendo sair com a Pretty amanhã, se o tempo melhorar. Gostaria de ter outra moça bonita comigo, para dar sorte.

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