Acordei cedo, por volta das 7:00 A.M. Tomei um banho rápido, coloquei uma calça jeans rasgada, uma blusa do Super Onze e um vans preto. Fiz duas tranças embutidas no cabelo, coloquei as lentes azuladas nos olhos, passei uma maquiagem pesada - novamente - e coloquei a máscara preta sobre a boca e o nariz.
Peguei a mala e a mochila que já estavam prontas em um lado do quarto e as levei para a sala. Ao chegar na sala, senti um ótimo cheiro vindo da cozinha. Deixei minhas coisas na sala e fui até a cozinha encontrando Hyeri colocando uma porção de ovos mexidos em cima da mesa Olhei para a mesa e tinham algumas frutas, leite e café.
- Bom dia, mãe dois ponto zero - me sentei em uma das cadeiras que haviam na mesa e ela riu do meu comentário.
- Você não cansa de me chamar assim, não é? - assenti rindo e me servi para o café da manhã.
Tomamos o café num clima bom demais para as circunstâncias. Terminamos de comer, lavamos os pratos e fomos para o carro.
O caminho até a rodoviária foi silencioso, uma música clássica que tocava no rádio tomava posse do local.
Hyeri estacionou o carro, nós descemos, pegamos as malas e entramos para fazer o check-in.
- Ah, como eu sentirei saudades da minha segunda família - disse puxando Hyeri para um abraço. Já haviam se passado cerca de uma hora e meia que estávamos esperando ali, e finalmente estava na hora de partir.
- Se cuida garota. Sabe o que fazer quando chegar lá, e toma cuidado com a segurança que vai ter durante o caminho, não quero te ver morta nem presa, menina - ela me abraçou de volta mas logo nos afastamos.
Dei um último sorriso para ela e segui meu caminho em direção ao ônibus que me tiraria desse país para me levar para um pior.
Estava andando em direção ao embarque quando vi um noticiário em uma das televisões do local. Falava sobre a procura dos criminosos que poderiam sair do país por todos os meios, ou seja, as fronteiras, aeroportos, portos e rodoviárias estavam cheios de policiais.
Entrei no banheiro mais próximo que vi e verifiquei minha aparência, estava ok. Tirei a máscara e não estava tão parecido comigo, afinal, eles só tem fotos minhas com cabelo solto e sem maquiagem, maquiagem transforma uma pessoa, fala sério. Por via das dúvidas, eu tinha documentação completa falsificada em outro nome, então acho que poderia seguir.
Dei uma última olhada, coloquei a máscara e sai do banheiro indo em direção ao ônibus.
Passei pelos guardas e eles pediram pra eu tirar a máscara, dei uma leve tremida, mas eles mandaram eu passar. Suspirei, ou esses policiais são péssimos ou eu devia abrir um curso pra maquiagem profissional. Entrei no ônibus e sentei na poltrona que continha o número que estava na passagem.
(...)
A viagem foi cansativa, longa, entediante mas finalmente havíamos chegado.
Liguei para o meu pai e ele disse que estava confuso, porém estava a caminho. Peguei minha mala e sai para fora da rodoviária norte coreana logo dando de cara com o carro dele.
- Oi, pai - disse ao ver ele do lado de fora do carro. Ele me puxou para um forte abraço, sentia saudades dele, nem lembro qual foi a última vez que tinha o visto.
- Quanto tempo, minha pequena! - ele se desfez do abraço e sorriu para mim. - Achei que não ligasse mais para mim.
- Aish, não começa com drama - ri e ele me ajudou a colocar a mala no porta malas do carro.
Entramos no carro e o caminho até a casa de meu pai foi tranquilo, de boas, nada que me lembrasse os últimos acontecimentos do meu querido país natal.
Pude perceber que a vizinhança em que meu pai morava havia mudado muito desde a última vez aqui. Nem parecia que o país vivia em constante guerra.
- Eu tenho que ir trabalhar, você chegou num péssimo horário - ele riu fraco e eu assenti. - Aqui - me estendeu as chaves, provavelmente de casa. - Fique à vontade, volto no fim da tarde.
Assenti. Sai do carro com a mochila e a mala e entrei na casa de meu pai. Da porta da frente eu acenei para ele e vi o carro sumir pelas ruas de Pyongyang.
Deixei minhas coisas em um quarto que, pelo que aparentava, era de hóspedes e me deitei no sofá da sala. Liguei a televisão em um filme e fiquei por ali, até adormecer.
(...)
Acordei horas mais tarde com alguém batendo as portas e alguns gritos. Me assustei e me encolhi rapidamente no sofá. Tentei escutar e depois de muito ouvir, deduzi que meu pai estivesse brigando com uma mulher, que pelo diálogo, seria minha possível madrasta.
Lembrei-me de minha mãe, e meus irmãos. Ela viviam brigando com meu pai, tipo, sempre. Hoje em dia ela não aguenta olhar nem pra ele, nem pra mim. É como se nós dois tivéssemos sido dois nadas para a vida dela. E meus irmãos, mais velho e mais novo, também não curtem a ideia de terem pai nem irmã.
Coloquei um fone que eu avistei em cima da estante e conectei no celular colocando uma música no último volume. Tentei voltar dormir, mas o som estava alto em meus ouvidos e o som de fora estava tão alto quanto.
Senti alguém me cutucando, olhei para a direção e era meu pai. Desliguei a música e tirei os fones do ouvido.
- MinJi - ele começou. Claramente não sabia o que falar. - Não era pra você ter escutado. Esquece isso e vamos jantar ok?
Eu tentei fazer uma cara de confusa, como quem não quer nada, porém ele apontou para o fone de ouvido, o que me fez lembrar que eu fazia a mesma coisa toda vez que ele brigava com minha mãe, escutava música no mais alto volume possível.
Suspirei e me levantei indo para a cozinha sendo guiada por ele. Tinha uma mulher na cozinha, chorando, mas ela não deu bola para nossa presença.
Meu pai começou a cozinhar e eu me sentei na cadeira da mesa de jantar para conversar com ele. Não era adequado contar sobre, literalmente, as novidades para ele naquele momento. Não gostaria que aquela mulher soubesse da minha vida pessoal, muito menos que eu sou procurada pelo país por roubo, tráfico, assassinato e outros crimes que cometi com meus amigos que nem sei se ainda são meus amigos por estarem atrás das grades.
Mas ainda sim contei algumas coisas a ele, sempre com cuidado pela presença daquela mulher que não parava de chorar.
Jantamos nós dois e depois fomos para a sala assistir um filme juntos, como nos velhos tempos.
Logo mais a mulher se despediu de nós e saiu da casa de meu pai. Resolvi não perguntar nada, pro bem dele, eu acho né.
Segui com o filme, mas logo adormeci novamente. Sono é o que não me falta nesses últimos dias.
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The Scape | Kim Taehyung
AcakKim Taehyung achava que fazer seu trabalho com êxito era o suficiente. Sempre esteve pronto para qualquer missão designada à ele, independente da consequência que poderia vir. Lee Minji estava presa no mundo do tráfico. Achava que vender ilegalmente...