Acordo Silencioso

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Priscila já tinha recebido alta, quando decidi fazer uma visita a ela em sua casa. Era uma tarde de sábado e passei na sorveteria quando comprei sorvete de baunilha para ela. Estacionei o carro, soltei Montanha no quintal e bati na porta. Para minha surpresa, não foi Isaac que abriu a porta, era ela. E parecia tão bem.

- Oi Nicole. - Ela sorriu feliz.

- Uau! Você está tão bem. - Nos abraçamos.

- Estou me sentindo bem!

- Que bom! - Falei animada. - Trouxe algo para você. Mas depois fiquei me perguntando se você pode.

- O que é? - Ela falou curiosa olhando para mim.

- Sorvete de baunilha.

- Claro que posso. - Ela pegou o porte de sorvete da minha mão - Ai meu Deus, eu amo sorvete de baunilha.

- Eu sei!

- Venha, vamos nos servir. - Ela falou enquanto entravamos na cozinha - Perfeito, hoje está um pouco quente.

- Verdade! - Assim que entramos mais uma vez fui pega de surpresa pela decoração da casa. Poucas coisas haviam mudado ali. Sentei e ela nos trouxe vasilhas, colheres e o sorvete. - Deixe-me ajudá-la. - Então nos servi. Ela olhava pela janela, vendo Montanha correr de um lado para outro, atrás dos passarinhos.

- Ele adora brincar aqui, não é? - Ela perguntou.

- Ele adora um quintal! - Respondi dando minha primeira colherada. - Hum... nossa, isso sim é um sorvete. - Priscila saboreou, fazendo o mesmo.

- Isso! Era disso que eu precisava. - Ela gemeu, fechando os olhos enquanto saboreava.

- Que bom que gostou.

- Claro que gostei! - Ela olhou para mim sorrindo e em seguida pegou minha mão. - Estou feliz que tenha vindo. Obrigada por não desistir de nós!

Sorri em resposta. Voltamos para o sorvete quando Priscila perguntou:

- Você acredita que estamos aqui para algum propósito?

- Acredito sim. - Respondi mexendo meu sorvete com a colher

- Fico me perguntando se foi esse meu propósito aqui na terra.

- Qual?

- Talvez eu tenha entrado na vida de vocês, para isso. Para dar a vocês um filho. Duas para falar a verdade.

- Você fala como se tivesse certeza que vai morrer Priscila. Pare com isso!

- Temos que começar a encarar os fatos!

- Você me prometeu que assim que elas nascessem iria começar o tratamento.

- Mas eu farei isso caso eu tenha tempo. Eu prometi e quero cumprir. Deus, como eu quero .... Mas eu ficaria mais esperançosa se o parto estivesse mais próximo. Não sei se irei aguentar daqui para lá. Às vezes me sinto tão fraca ....

- Precisamos manter a esperança sempre em pé! Tem tomado suas vitaminas?

- Sim, tenho. - Ela olhou o sorvete e em seguida para mim - Mas vamos imaginar que eu vim para isso. Não é perfeito? - Ela riu e seus olhos se encheram de lágrimas.

- Não, não é! - Coloquei a colher de lado - É difícil aceitar isso. Saber que só terei filhos se você morrer. Não, não é perfeito!

- Claro que é Nicole. Todas nós vamos morrer, mas a minha morte só trará felicidade.

- Não diga uma coisa dessas... - Falei indignada.

- Não estou dizendo que vocês vão sorrir de felicidade quando isso acontecer. Mas fico pensando umas coisas. Primeiro, não tenho pais, os avós que me criaram já morreram. Não tenho irmãos e nem família para se apegarem a mim. E nunca, nunca amei outro homem além de Isaac. - Ela arregalou os olhos ao falar - Talvez tenha sido por isso que nunca deixei de o amar. Muitas vezes me perguntei, porque eu simplesmente não conseguia esquecer Isaac? Mas está explicado agora. Tudo na vida tem um propósito e talvez a minha foi dar duas filhas à vocês. Não consigo deixar de enxergar como um plano perfeito. - Ela falou entre lágrimas e sorrisos.

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