O Primeiro Amor

356 25 7
                                    

São sete e meia da manhã e já estou apreensiva. Minhas mãos estão suadas e sinceramente odeio a ideia de acordar e ir para essa nova escola. Odeio. Tenho dez anos e já passei por mais escolas que minha mãe na vida toda dela. Minha irmã Marina, me chama e relutantemente atravesso a porta e a acompanho. Ela tem doze anos, mas acha que tem mais. Vive dando ordens para mim.

- Tchau querida, divirta-se.

Olhei com cara feia para minha mãe. Porque ela faz isso?

- Anime-se! - Ela me beijou e ajeitou o fio do meu cabelo que saía pelo coque que ela mesmo fez. - Querida, não fique chateada. Seu pai agora trabalha para o governo e é um funcionário fixo agora. Não iremos mais nos mudar.

- Ele falou isso da última vez.

- Mas dessa vez é verdade. Ele agora é funcionário público, e se tiver que viajar, ele irá sozinho, mas sempre irá voltar.

- Espero! Odeio me mudar.

- Mamãe deixe Nicole. Não quero chegar atrasada! - Marina entra no carro e mamãe me solta e com passos lentos vou ao carro, onde meu pai sorri. Eu não retribuo, apenas sento, coloco o cinto e olho para janela.

- Pai, você poderia me dar um dinheiro para o lanche? - Pediu Marina.

- Sua mãe não lhe preparou um lanche?

- Preparou, mas tenho vergonha. Não quero começar na escola nova, comendo lanche de casa.

- Ok ... - Papai me olhou pelo retrovisor - E você Nicole?

- Não, obrigada. Gosto do meu lanche!

- Ok!

Assim que descemos do carro, parei para analisar a escola. Tinha um grande muro, e assim que entramos, percebi da riqueza do lugar, haviam gramas por todos os lados, árvores e banquinhos. Agradável. A maior escola que eu já tinha ido estudar. Papai nos beijou e Marina pegou minha mão e seguimos em frente. Prontas para mais uma jornada. Uma nova jornada.

Marina me deixou em frente à minha sala e se foi. Já sabíamos, todo nosso percurso. Havíamos ido lá antes, para conhecermos a escola e nossas salas. Assim que entrei, todos conversavam, brincavam e sorriam, mesmo sendo o primeiro dia de aula. A turma parecia sincronizada. Todos pareciam já se conhecer. Droga, eu odiava esses primeiros dias. Procurei onde tinha uma cadeira vaga e localizei duas vazias, uma no meio e outra no fundo. Fui caminhando até lá. Todos me olhavam e para diminuir meus passos e chamar menos atenção, escolhi a do meio. A professora entra e todos se calam.

A apresentação foi feita e mais uma vez fui apresentada para a turma. Precisei me levantar a pedido dela, para todos me verem e me "conheceram". Como imaginei, eu era a única novata. O resto foi tranquilo, melhor do que eu imaginava. Ninguém encheu meu saco, ninguém ficou olhando para mim, ninguém chegou perto de mim.

Quando o intervalo chegou, corri para o refeitório, onde eu sabia que iria encontrar Marina e lá estava ela conversando com duas meninas e três meninos.

- Já? - Parei abismada com a facilidade que ela tinha de fazer novas amizades. Me aproximo devagar e assim que ela me ver, ela fala.

- Gente, essa é minha irmã mais nova.

- Oi - Todos me olham e uma delas fala.

- Nossa, vocês se parecem demais. São quase gêmeas.

- É... todo mundo fala isso. - Marina falou. Estávamos acostumadas com as comparações. Fisicamente, éramos bem parecidas mesmo e idênticas a mamãe, a diferença estava apenas na idade e no tamanho. Marina era mais alta. Cabelos castanhos, longos e ondulados, olhos castanhos e pele clara. Era tudo a mesma a coisa. Eu e ela. Ela e eu. Eu ainda acredito que quando chegarmos a ser adultas, iremos mudar. Mas até lá. Somos bem parecidas.

Diversas formas do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora