3º Tentativa

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Viver a vida a dois.

Bom, estávamos tentando viver ela. Dessa vez, Isaac passou a morar de vez em nossa casa, finalmente. Tentamos tocar para a frente, ele agora estudava a noite, duas vezes na semana e abriu seu próprio escritório, próximo ao escritório da sua mãe. Para mim, tudo melhorou. Íamos e voltávamos juntos. Às vezes jantávamos fora, as vezes em casa e as vezes eu fazia sanduíche e comíamos no parque. Era delicioso. A companhia de Isaac era maravilhosa. Toda vez que estou com ele, é como ter aquela sensação de quando chegamos em casa, após um longo dia de trabalho. Aquela sensação de quando chegamos, respiramos fundo e dizemos satisfeita: Enfim, em casa.

Dois anos se passaram depois da nossa segunda perda. Muitas vezes eu ficava imaginando se eu não os tivesse perdido, como estaríamos. Como eles seriam. O primeiro teria quase quatro anos o segundo teria mais de um ano. Nossa casa seria uma bagunça, nosso dinheiro talvez nem desse para termos tudo o que temos hoje, mas se eu pudesse trocar tudo o que tenho hoje, por eles. Eu trocaria. Toda vez que eu ficava no período fértil, eu sempre achava uma perda de tempo não tentar um bebê. Eu e Isaac nunca tocamos no assunto depois da segunda perda, exceto um dia quando estávamos em um jantar com Peter e Bianca. O que para mim, era sempre uma surpresa ver esses dois juntos, sinceramente não achei que duraria tanto. Isaac e Peter havia bebido um pouco mais da conta, eu e Bianca seríamos a motorista da vez. Pois é, também estava sendo novidade para mim, ultimamente Isaac havia aprendido a beber e parecia estar gostando. Conversa vai, conversa vem .... Quando Peter pergunta.

- E então, qual o maior sonho de vocês? - Dei de ombros, não iria falar qual era. E não sei porque Peter havia tocado nesse assunto.

Mas a bebida as vezes fazia Isaac ser mais ousado.

- Ser pai!

Olhei para ele surpresa. Ele nunca havia me falado tão abertamente assim sobre isso, depois de nossas perdas. Falávamos sobre nossas profissões, sobre projetos, sobre plantas, decoração, sobre a feira e comida, falávamos sobre Isis, Isabel, dos nossos pais, Marina, falávamos até de Peter. Mas nunca, nunca mais falamos sobre filhos. Era um assunto doloroso. Uma ferida feia e incurável.

- Não acha que está na hora de tentar novamente? - Bianca perguntou.

- Com licença, vou ao banheiro! - E me levantei.

- Ela não fala sobre esse assunto! - Isaac falou bebendo sua bebida, nem se quer olhou para mim. Fingi que não ouvi e sai sem responder.

Fui ao banheiro, lavei meu rosto e respirei mil vezes. Queria ir embora. Olho no espelho, quando vejo umas das cabines do banheiro se abrir e vejo Priscila saindo de dentro e ela me olha pelo espelho.

- Oi. - Ela sorri para mim, nos cumprimentamos e em seguida ela pega um batom de dentro da bolsa.

- Oi Priscila. - Enxuguei minhas mãos.

- Tudo bem com vocês? - Ela perguntou. Priscila era linda, tipo loira e corpão. Acho que éramos do mesmo tamanho. Nossa única semelhança fisicamente, porque éramos totalmente diferentes. Não que eu fosse feia, eu não me achava, mas ela era o tipo de deixar queixos de mulheres e homens caídos. Muitas vezes me perguntei porque Isaac havia escolhido a mim, ao invés dela. Ela era legal, lembro bem do nosso tempo de escola, e talvez se não existisse o problema de amarmos o mesmo homem naquela época, talvez fossemos grandes amigas. Digo, naquela época, porque eu espero do fundo do meu coração que ela tenha partido para outro.

- Tudo bem! E você?

- Estou bem. Correndo bastante. Ser empresária hoje em dia não é fácil. O mercado está mais acirrado do que nunca. - Ela falava enquanto penteava os cabelos - Às vezes dá vontade de jogar tudo para o ar, e viver como esses hippies. - Ela riu.

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