Diversas formas do Amor

Vazio

Quantos mais óvulos são produzidos por ciclo, maiores são as chances de um ciclo de Fertilização In Vitro ser bem-sucedido. Porém, em algumas mulheres, não há bom desenvolvimento, simplesmente os ovários não respondem as medicações para esse amadurecimento.

E eu sou essa mulher.

Nunca serei mãe.

Perdi meu bebê com oito semanas de gestação.

E eu morri com ele.

Pela terceira e decididamente a última vez.

***

Muitas vezes eu me agarrava aos lençóis como se fossem meu escudo de salvação. Se enfiar na cama e passar o dia inteiro lá, era doloroso e ao mesmo tempo reconfortante. Mesmo que houvesse sempre alguém na minha casa para me "acompanhar", me sentia sozinha. Sozinha, daquele jeito que Ivan me perguntou se eu já havia sentido antes. Sim, Ivan, agora sei bem o que você estava falando. Depois que perdi meu terceiro bebê, Isaac ficou quinze dias inteiros ao meu lado, eu sempre o encorajava a trabalhar, mas ele disse que ficaria comigo. Mas no fundo, eu não queria ele, não queria ninguém. Eles falavam, mas eu não escutava. E para falar a verdade, eu odiava ouvi-los, odiava com que as pessoas ficassem o tempo todo me reconfortando, inclusive Isaac. Quinze dias depois, Isaac voltou ao trabalho, mas sempre alguém vinha me visitar, eu fingia sempre estar com sono, sempre fingia estar dormindo, porque abrir a boca e falar qualquer coisa, era esgotante.

Mas o pior de tudo, era quando chegava à noite e Isaac me fazia companhia. Eu não conseguia olhar nos olhos dele. Doía saber que nunca, nunca eu poderia realizar o sonho dele. O nosso sonho. Eu sempre dormia com os punhos fechados, segurando forte minha barriga, culpando-a por ser tão defeituosa, como se eu pudesse de alguma forma afetar algo em mim.

No começo eu achei que essa angústia passaria, que com o tempo voltaria a respirar melhor. A medida que vi dias se transformando em semanas, e semanas em meses. Percebi. Essa era o tipo de luta que eu jamais conseguiria ganhar. Eu estava rapidamente me afundando. Ou enlouquecendo.

Não voltei mais a trabalhar e minha vida se resumia a casa, quarto e cama. Isaac ainda tentava conversar comigo, trazia até Isis, Isabel e Marina para ficar ao meu lado, mas esse tipo de cuidado só me fazia ter acessos de raivas.

EU NÃO QUERO NINGUÉM. - Minha cabeça gritava constantemente.

Eu simplesmente recusava a tudo e a todos. E me odiava ainda mais por isso. Eu estava indiferente a qualquer coisa que rodeasse a minha volta. Eu sentia como se a vida estivesse me dando um empurrãozinho para saltar do vigésimo andar e eu parecia querer saltar ...

Era uma noite de sexta feira quando Isaac chegou do trabalho e eu estava no banheiro, onde passei horas sentada dentro da banheira sem fazer nada. Nada. Meus dedos estavam enrugados e água havia esfriado completamente. Eu o ouvi me chamar em casa, mas não respondi. Eu não queria falar com ele, hoje eu estava em meu pior dia. Escutei os passos se aproximando e a luz acessa me denunciou que eu estava no banheiro, me levantei rapidamente para fechar a porta, mas ele chegou antes.

- Ei, tudo bem?

Fiz sim com a cabeça, pegando o roupão e vesti.

- Trouxe pizza para nosso jantar, peguei os sabores que você mais gosta.

- Obrigada. - Sai de dentro do banheiro, ele agora parecia pequeno demais para nós dois, fui a cozinha.

- Peter me ligou, ele e Bianca estão querendo sair um pouco, vamos?

- Não obrigada. - Peguei a faca e comecei a partir a pizza.

- Acho que seria bom se a gente ....

- Já disse: Não quero! - Falei rudemente e ele parou respirando fundo.