Capítulo 11

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O homem caminhava pelo castelo mal iluminado conforme as orientações que havia recebido. Deveria seguir para a torre mais alta na direção do lago, e se apresentar devidamente vestido. O mestre não tolerava atrasos e era bom que tivesse boas maneiras, pois ele era fácil de ser tirado do sério. Vestiu seu melhor casaco, ainda que não fosse novo, e lustrou as botas o melhor que pôde. Não era um homem de posses, mas os saques aos vilarejos haviam lhe rendido alguns bons trocados. Não conseguiu se formar na Academia Marcial de Koholt, o que ele achava que poderia ter lhe proporcionado uma vida um pouco melhor. Talvez tivesse ido para Ydheran, onde vivia a maior parte de sua família. Acreditava não ter vocação para mais nada além de empunhar uma espada, mas foi considerado apenas razoável para o exército holt. A família de sua esposa criava cavalos, e apesar de não serem os do tipo reais, eram muito procurados. Sua esposa queria que ele fosse ajudar no negócio da família, mas se perguntava quem ela pensava que ele era. Não se sujeitaria a isso. Era um guerreiro, um cavaleiro, e não um peão qualquer. Havia encontrado um capitão da Guarda de Kael numa taberna em uma noite difícil. Estava quase sem dinheiro, e o homem lhe pagou uma boa refeição, falando sobre como a Guarda costumava ser generosa com aqueles que lhes eram fiéis. Logo que se apresentou, foi encarregado de levar algumas caixas e embrulhos ao porto de Koholt. Ao retornar com o dinheiro do pagamento, recebeu uma boa recompensa e então, suas atividades com a Guarda se tornaram cada vez mais frequentes.

Fora ridicularizado nos últimos dias. No acampamento só se falava do quanto fora ingênuo ao tentar render a Arquimaga, e como aquilo os prejudicava, pois a segurança havia dobrado na região. Ele transmitiu o recado da maga, que ao que parecia, não era o primeiro. Ou ela era realmente formidável, ou estava abusando da sorte. Mas, no dia anterior, recebeu a notícia que deu um ponto final às piadas e comentários sarcásticos dos colegas. O mestre havia ordenado que fosse a sua presença. Cruzava um salão ricamente decorado e antes que seguisse pelo corredor, a figura escondida num manto negro veio ao seu encontro. Carregava uma lamparina graime, feita em ouro que deveria valer mais que a sua casa. Seguiu o homem, passando por corredores, às vezes por salões onde membros mais importantes da guarda bebiam e conversavam; outros salões onde haviam belas mulheres, e leitos suntuosos que pareciam estar aguardando convidados. Um jantar estava acontecendo, pois ouviu o barulho de talheres e uma conversa animada vindo de algum lugar. Esbarrou num homem trajando escuro, carregando um arco, o rosto coberto por um capuz, que parecia com pressa, e segundos depois notou que estava diante de uma imensa passagem para a sala do trono. Iluminada por archotes e decorada com vitrais que certamente à luz do sol deveria causar um efeito magnífico. O tapete vermelho abafava seus passos e por um momento pensou em recuar. Nos cantos da sala do trono, flutuando quase imóveis, estavam os principais oficiais do mestre, armados com suas poderosas foices, aguardando que cumprissem alguma ordem. Mas, era tarde demais. Já estava diante dele. Quando falavam do mestre, ele costumava imaginar um monstro de aparência horrível e poder inimaginável. Sua imagem do mestre era totalmente diferente do que via naquele momento. Usando uma veste luxuosa, digna de um rei herac, negra como as que o próprio Elran usava, o homem não deveria aparentar mais de quarenta anos. Seus cabelos aloirados, curtos, e olhos verdes intensos que lembravam esmeraldas. E quando ele falou, foi como se um ser divino tivesse se manifestado.

- Conte-me sobre seu encontro com a Arquimaga - disse Kael.

O homem contou que estava pela região cobrando alguns favores devidos à guarda e que havia visto duas jovens graimes que pareciam estar perdidas. Depois de horas observando, ele conseguiu ter a certeza de quem ela era. E quem era sua companhia, a irmã do Cavaleiro Celestial. Mas, de fato, foi ingênuo tentando rendê-la. Viu Kael sinalizar para que se aproximasse dele, e seu lacaio fez com que se ajoelhasse diante do rei. Kael colocou sua mão direita sobre a cabeça do homem, que naquele instante foi tomado de um pavor silencioso, enquanto o seu mestre examinava sua mente. De fato, era ela. Então Ihgraime tinha uma Arquimaga, afinal. O último Arquimago que pisou em Ambarys era um dos maiores magos de todos os tempos. Perguntava-se o quão poderosa ela era.

- É o bastante - ele disse, fazendo um sinal com a mão para que o lacaio afastasse o cavaleiro dele. - Pode levá-lo.

- Levar para onde... - o homem se atreveu a perguntar. - Mestre, eu vim para servi-lo.

- E como pretende fazer isso? Mal sabe segurar uma espada. Não tem nenhuma habilidade mágica. - Kael sorriu de forma cruel. - Não tem sorte nem mesmo com as mulheres, já que a sua o trocou pelo filho do dono da taberna, aquela mesma que você estava quando um dos nossos capitães o encontrou.

- Tenho me dedicado inteiramente à guarda, meu Rei. - O homem se ajoelhou diante dele. - Por favor, majestade, eu não quero voltar a ser um ninguém!

- Hora da sua refeição. - Kael olhou para o espectro no canto esquerdo da sala do trono, que veio flutuando ao encontro do cavaleiro, que gritava horrorizado.

Ele caminhou lentamente pelo tapete vermelho enquanto o espectro proporcionava ao membro da Guarda uma morte horrível e dolorosa, sugando sua energia vital, seu sangue, transformando-o em nada após incendiá-lo diante dos seus irmãos, que permaneciam inertes em seus devidos lugares.

O lacaio acompanhava Kael apressadamente, esperando as ordens do Rei. Ele se dirigia a passos rápidos à torre dos magos e certamente mais alguém viraria lanche de espectro se não lhe dessem boas notícias. Os graimes que estavam a seu serviço tentavam achar uma maneira de reverter o banimento que Arnon havia conjurado antes de morrer, e que Noah, seu filho, havia seguido perfeitamente as instruções para terminar. Estava recuperado em seu corpo físico, mas nessa forma não conseguiria atravessar o portal. Havia conseguido uma vez, ainda fraco e quase destruído, através do medo de uma criança, mas o menino havia crescido, e agora teriam que se enfrentar. Como se não bastasse, o irmão dele possuía a única arma que poderia ajudá-lo a vencer seus inimigos. Como se isso não bastasse, havia um Cavaleiro Celestial em Ambarys, pronto para combatê-lo sob a proteção de divindades. Estava com pressa, e não havia encontrado uma solução para aquele problema. Tinha seus comandados em outros reinos, providenciando a queda de Elran. Queria estabelecer o caos em Ambarys antes de voltar, e ser o senhor dos reinos de Thaanator.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde histórias criam vida. Descubra agora