Capítulo 28

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O dia estava ensolarado em Maherac e dessa vez Noah parecia não estar com pressa de ir ou chegar a lugar algum. Seguiam contornando o Castelo Branco, ladeando a Floresta Nabrav em direção ao deserto herac. Noah olhou por mais tempo do que achava necessário para ela, enquanto a ouvia contar sobre a infância em Ihgraime. Parecia que sair do castelo a deixava mais bonita.

O sorriso era espontâneo, os olhos pareciam mais brilhantes e a voz mais suave do que na maioria das vezes, quando ditava ordens e tinha que se impor. Ela riu quando lhe contou sobre como ele e Kane costumavam ir para a floresta quando eram crianças, mas como não se atreviam a ir muito longe, com medo das histórias que ouviam sobre ali existir uma passagem para Phallenor. Lyra pensou que não havia crianças ambarianas que não houvesse escutado as histórias sobre Phallenor e seus portões de cristal. Os guardiões touro e urso. As ninfas-deusas, os leões alados, o tesouro de Tanout; as forjas de Kadrenan e os poços de água da imortalidade de Aphyra. Eram assustadores, mas fascinantes. Ela mesma ouviu vários deles, e gostaria de ver Phallenor. Noah apontou o deserto a poucos quilômetros à sua direita, acelerou o galope a fim de chegar a tempo de mostrar a ela a vista da parte montanhosa da floresta. Noah desceu do cavalo e Lyra fez o mesmo. A maga olhou para o ponto no deserto que o príncipe apontava, curiosa com todo aquele mistério. Ele segurou-a delicadamente pela cintura, virando-a mais para a esquerda, mas Lyra nem se importou diante do que viu. O Palácio de Phallenor apareceu no deserto com seus portões de cristal, fazendo-a prender a respiração, sem acreditar no que via.

- Mas como...

- Está protegido por um encantamento desde que o próprio Tanout lacrou a rebelião de Hadrir toda dentro do palácio - Noah contou, protegendo os olhos do brilho que vinha dos portões, agora que o sol brilhava forte sobre eles.

- Eu nunca imaginei que ele pudesse ser visto de algum lugar do reino. Acreditava que Phallenor era alguma masmorra oculta e inexplorada, como as muitas das quais ouvimos falar. - Ela estava maravilhada com a visão do palácio, que parecia ser coberto de madrepérola cintilando no sol do deserto.

O sol foi mudando de posição e com o passar do tempo a visão do palácio foi desaparecendo. Lyra voltou-se para Noah sorrindo, e agradeceu por ele ter lhe mostrado Phallenor. O príncipe deu um meio sorriso, pensando se já seria tempo o suficiente para levá-la a um outro local não muito longe dali.

Seguiram por uma trilha entrando na floresta, que pelo menos ali não era tão fechada, e minutos depois estavam diante de ruínas. Lyra observou que se tratava de uma construção que deveria ser grande e apesar de estar quase toda em ruínas, ainda assim, no meio da vegetação, das flores silvestres, o lugar era lindo.

- Aqui foi um dia o primeiro mosteiro, mas com o passar dos anos foi abandonado, creio eu por ser pequeno demais. Existe a possibilidade de que foi considerado perigoso manter estudantes de magia perto de Phallenor, também. - Ele riu.

Observou Lyra explorar curiosa as ruínas, sem se aproximar muito de onde ela estava. A maga lançou feitiços reveladores e acabou achando uma passagem, um alçapão, surpreendendo Noah, que desceu primeiro, tendo o caminho iluminado pelas esferas conjuradas por ela. O local parecia jamais ter sido explorado e o piso branco gelado estava impecável. Lyra pensou por um instante se alguém vivia ali, pois tudo estava extremamente organizado. Livros na estante, poucos móveis, mas de excelente qualidade, e algo que ela não conseguia decifrar. Era mágico, profundo e misterioso.

Ela novamente usou os feitiços de revelação, e dessa vez sentiu que havia algo ali, mas não conseguia passar pela proteção mágica. Ela deu uma busca nos livros, mas não havia nada ali além de magia básica. Noah apoiou-se na mesa, sugerindo que voltassem quando Lorde Rupert estivesse recuperado, e Lyra achou que seria realmente o melhor a fazer. Ela examinou as paredes com cuidado em busca de alguma passagem, e quando estava próximo de desistir, encontrou. Era um lugar escuro e podia-se escutar o barulho de água, porém, ao iluminar viu que a sala estava vazia. Imaginou que talvez fosse só uma parte da construção mesmo, já que não havia nada ali que pudesse ser revelado ou alguma passagem, mas o barulho da água ainda a intrigava. Saíram do alçapão e ela ainda explorou as ruínas em busca de alguma passagem, mas não encontrou nada além de uma linda vista do deserto e de um céu muito azul.

Noah pegou em sua mão, levando-a em direção ao outro lado das ruínas, onde ela esperava ter mais o que explorar. Ele perguntou se estava com sede ou fome, fazendo Lyra pensar que além do chá que sua mãe lhe serviu, realmente não havia tomado seu café da manhã. Mas, o sol estava alto e desconfiava ser hora do almoço.

Para sua surpresa, Noah havia pensado em tudo. Uma estrutura que lembrava um pequeno gazebo havia sido montada no pátio do velho mosteiro. Uma mesa para dois havia sido posta ali, e um serviçal do Castelo Branco estava aguardando-os para servi-los. O príncipe afastou a cadeira para que ela se sentasse, e em seguida sentou-se de frente para ela depois de tirar a jaqueta militar. Lyra pensou que em outras ocasiões ele iria parecer exibido com aquela camiseta justa, só faltaria virar a cadeira com o encosto para frente. Mas naquela manhã o achou quase perfeito.

Noah evitava olhar para Lyra por muito tempo, não querendo que ela achasse que aquilo era um encontro, mesmo que parecesse um. Mas achava que a Arquimaga precisava ver Phallenor, e por que não passar um tempo fora do castelo? Serviu uma taça de vinho graime para ela, e outra para si. Ela elogiou o cordeiro que foi servido, os pãezinhos recheados com queijo e ervas, e ele pensou que fez bem em pesquisar sobre o gosto pessoal da maga. Dizia a si mesmo que todo aquele esforço era simplesmente para agradar a Arquimaga, uma aliada poderosa e que os olhos claros e o nariz arrebitado e os cabelos dourados de cheiro doce eram somente um atrativo. Haviam garotas muito mais bonitas em Maherac.

- Obrigada pelo passeio - ela agradeceu antes de deixarem as ruínas, fazendo o príncipe virar-se para ela.

Noah conseguia ver um minúsculo pontinho âmbar no olho esquerdo de Lyra quando ela olhou em seus olhos depois de beijar o seu rosto, ainda nas pontas dos pés. Ele a segurou pela cintura e ela estremeceu quando sentiu seus lábios próximos dos dela. Porém, ele recusou-se a beijá-la, erguendo-a do chão com facilidade e a colocando em cima do cavalo, fazendo-a corar. Segurou o riso enquanto montava o corcel, mas estava sério quando disse que estaria sempre à disposição dela, antes de voltarem ao Castelo Branco.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde histórias criam vida. Descubra agora