Capítulo 30

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Lyra revirou os olhos quando as damas de companhia da Rainha lhe entregaram mais três vestidos para que experimentasse. Os três em cores fortes que ela jamais escolheria. Um cor de rosa escuro muito decotado, que a maga chegou a pensar que não havia como alguém usar algo assim em público sem parecer vulgar. A cor até não era feia, mas com sua pele muito branca, o contraste ficava gritante.

Alguém puxava seus cabelos para cima enquanto faziam com que experimentasse vários sapatos diferentes, um mais desconfortável que o outro. E como falavam. A maga não lembrava de ter visto tanta gente falando ao mesmo tempo sobre o mesmo assunto. O vestido não foi aprovado pela maioria. Ela foi empurrada para trás do biombo novamente, uma aia a ajudando a se despir enquanto a outra já deixava outro vestido a mão. Já era o oitavo vestido e mal o havia colocado, já sentia alguém lhe apertando laçarotes e minúsculos botões, deixando-a quase sem ar. Era vermelho, coladíssimo no corpo, estilo sereia, com um decote que Lyra chamou de indecente.

— Senhoras, acho que achamos o vestido perfeito — comunicou uma das damas de companhia.

— Ahhh, realmente uma visão! — disse outra.

— Veja como o vermelho lhe cai bem, Lady Lyra. — Ela ouviu, enquanto alguém lhe virava para o espelho.

Ela mal conseguia se mexer ou respirar, e quando se viu no espelho ainda não entendia como conseguiram lhe colocar dentro de algo tão apertado. Olhou em desespero para Vivian, que sequer conseguia se aproximar dela, e por sua vez entendeu que somente uma pessoa poderia tirá-la de lá naquele momento. Lady Marian.

Vivian saiu discretamente do quarto e seguiu apressada pelo corredor para os aposentados dos pais de Lyra, em busca da senhora do Castelo Âmbar. Tão rapidamente que acabou dando um encontrão em Noah no meio do caminho.

— Lady Vivian — ele disse. — Onde vai com tanta pressa?

— Estou à procura de Lady Marian. Sua Alteza por acaso a viu? — ela perguntou, aflita.

— Se não estou enganado, ouvi que estaria numa reunião com o Rei e Lorde Rupert. — Ele viu a careta de desânimo de Vivian. — Eu posso ajudá-la?

— Duvido muito, Alteza — ela respondeu. — Trata-se de uma rebelião, e Lyra está sendo mantida prisioneira das damas de companhia e amigas de sua mãe, a Rainha.

Vendo a expressão confusa de Noah, Vivian contou que Lyra estava exausta, mas elas eram muitas e simplesmente não conseguia livrar-se daquelas mulheres. O príncipe pediu que Vivian lhe mostrasse o caminho, e ainda que desconfiada de que ele não tivesse ideia do que o aguardava, ela levou-o até lá. Noah bateu à porta e ouviu alguns sonoros e animados "entre", e foi o que ele fez. Virou o alvo das atenções quando o viram na entrada, e enquanto sua tia Celina lhe fazia elogios e perguntava pela Rainha, além do burburinho das demais, procurou pela maga até encontrá-la no exuberante vestido vermelho. Lyra queria sumir diante do olhar do príncipe, que ignorava a presença das demais. Percebeu a maneira que ele mordeu os lábios assim que a viu, e tinha certeza que deveria estar exatamente da cor do vestido naquele momento.

— Senhoras — ele disse. — Poderiam nos dar licença. Gostaria que apenas as costureiras, as aias e Lady Vivian permanecessem aqui.

Não muito satisfeitas, elas foram todas saindo, ainda olhando para trás para dar uma última olhada ou um aceno para a Arquimaga. O príncipe foi se aproximando de Lyra com um sorriso maroto nos lábios, e ela fechou a cara com os olhos fulminantes em cima dele.

— É um belo vestido! — ele elogiou, gentil. — Esse vermelho escuro a deixa...

— Horrível, eu sei!

— Eu diria "pecaminosa" — Noah retificou, olhando-a nos olhos. — Tire-o.

— Como ousa? — indagou ela, entre os dentes, quase sussurrando.

— Ajudem Lady Lyra a tirar esse vestido e vamos escolher um que não a deixe desconfortável — ele disse, dirigindo-se às modistas.

Lyra estava furiosa, pensando que aquela ideia de baile fora péssima desde o início. Finalmente livre do vestido, e vestindo um robe, ela conseguiu se acalmar, decidida a não fazer mais uma prova sequer. Foi quando a aia se aproximou dela sorrindo timidamente e lhe mostrou um vestido belíssimo. Um cor de rosa muito claro, com decote de ombro a ombro, com bordado delicado de flores pouca coisa mais escuras que o vestido. Lyra o provou e lhe serviu como se tivesse sido feito sob medida para ela. Calçou sapatos no mesmo tom do vestido, e olhou-se, surpresa, no espelho. Nunca gostou tanto de um vestido como aquele. Vivian sorriu, aprovando.

— Ora, parece que o príncipe sabia exatamente o que escolher! — disse uma das costureiras. — Ficou perfeito!

Vivian escolheu um vestido azul claro, de mangas curtas, lindíssimo, e as aias puseram-se a arrumar os cabelos das jovens. Lyra não tinha noção de quanto tempo ficou provando roupas, mas já era noite em Maherac, e com certeza o baile não tardava a começar. Ouviu uma batida na porta e em seguida o mensageiro entrou. Ele trazia duas caixas aveludadas, as quais entregou a Lyra e Vivian.

— Com os cumprimentos do Príncipe Noah! — disse ele, curvando-se e em seguida saindo do quarto.

Vivian olhou, quase sem acreditar, para o lindo colar de esmeraldas que havia recebido. Realçava lindamente seus olhos verdes e mal pôde conter os pulinhos na frente do espelho. Lyra demorou a abrir a caixa. Sabia que quem estava ali, entre aias e modistas, a olhavam como se ela estivesse para abrir um baú do tesouro. Ela abriu e viu uma delicada tiara, adornada de diamantes sobre o cetim branco. Vivian arregalou os olhos diante da beleza da joia. A maga se olhou no espelho, admirando-se, supondo que usar vestidos e tiaras às vezes não era tão ruim como costumava pensar.

Maya cruzou o corredor, confiante de que aquela noite Kane seria seu. Jogou os cabelos negros enquanto Nathan aproximava-se para levá-la para o baile. O achou lindo naquele traje azul e dourado à moda holt, e seu manto negro lhe conferia o porte da realeza. Mas queria um príncipe de verdade, e agora, ele seria seu.

— Vi um mensageiro chegando hoje, com uma entrega para você — Nathan disse, distraído, olhando a beleza da moça num vestido preto com fendas enormes.

— Ahh, querido, tão atencioso! Meu perfume estava quase acabando. Pedi para que trouxessem outro vidro — ela falou, piscando para ele.

— Poderia ter comprado um aqui, não?

— Nathan! Claro que não! Esse perfume foi feito exclusivamente para mim, não deixo de usá-lo nunca! — ela repreendeu, fazendo-se de incompreendida, mas depois lhe deu um beijo como para encerrar o assunto.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde histórias criam vida. Descubra agora