Capítulo 12

83 77 31
                                    

O arqueiro seguia veloz em seu cavalo, atravessando a ponte do castelo do Rei Kael em direção à Vila de Ullayn. Suas missões estavam se tornando cada vez mais arriscadas e agora não seria diferente. Kael estava impaciente com a presença de novos heróis em Ambarys e poderia pôr tudo a perder. Graças ao esforço do Rei Elran em ocultar o que estava acontecendo haviam anos, estavam pela primeira vez em vantagem, e aquele não era o momento para dar um passo em falso. Ele precisava esperar, por pouco tempo para o seu retorno, e isso não era nada comparado há quanto tempo já estava aprisionado em terras ullyaners. Sua missão era difícil. Teria que enfrentar simplesmente o maior guerreiro ambariano de seu tempo. Não o temia, mas sabia que lhe tirar a Morte Escarlate seria quase impossível. Era o portador da adaga, e por mais que pessoalmente não o achasse tão incrível como o resto do reino de Ambarys, reconhecia que ainda assim ele era superior aos demais. Ainda teria que dar sorte de conseguir enfrentá-lo sozinho, o que achava ser muito difícil de acontecer. Os filhos de Elran viviam escoltados, e a guarda no Castelo Branco era conhecida pela eficiência. Ainda poderia ter o azar de cruzar com a Arquimaga, de quem a Guarda toda parecia ter medo. Ainda não a vira, mas estava curioso sobre ela. Havia ouvido todo tipo de comentário, mas estava realmente interessado em conhecê-la. Seguiu pelo vilarejo, a noite enevoada e as luminárias acesas parecendo vigiar quem passava pelas ruas. Ao longe ouvia o som de música e falatório. Iria direto para lá assim que deixasse algumas moedas para Colin. Seu tutor já não era o mesmo há meses, por mais que tentasse esconder. Arthur percebia o quanto ele estava fraco. O mínimo que podia fazer era providenciar poções que aliviassem as dores, e seu sofrimento. De caçador notável, tornara-se homem de confiança de Kael.

Arthur tinha livre acesso ao castelo do Rei, e até algumas regalias. Era sempre bem-vindo para os jantares e diversão com um seleto grupo de moças, de beleza quase inigualável. O mestre tinha preferência por mulheres graimes, mas haviam meia-elfas de Efyr, e algumas representantes de Ydheran. Kaly era sua favorita, e não podia culpá-lo por isso. Os cabelos negros e os olhos violeta pareciam chamar ainda mais a atenção, contrastando com a pele branca. Não saberia dizer se por vontade própria ou a mando de Kael, ela estava procurando-o com frequência, e claro, ousou recusar sua companhia em muitas ocasiões. Mas foi dela quem ouviu a informação de que a Arquimaga estava indo à Myran, causando problemas pelo caminho. Talvez fosse hora de vê-la com seus próprios olhos. Entrou na taberna, desviando-se de uma dupla de idiotas que trocava socos próximo a entrada, e seguiu para a mesa onde costumava ficar até tarde, bebendo e ouvindo tudo que se falava por ali. Viu Lucien se aproximando com cara de que o dia tinha sido difícil. Há dias não o via, talvez ele tivesse alguma novidade de Ambarys.

- Estava no saque, próximo às minas holt, e adivinha? Saímos sem conseguir chegar nem perto das minas antiga - ele falou, depois de um grande gole de cerveja. - Está com fome?

- Não, acabei de voltar do castelo - Arthur respondeu.

- Hum, você está nas graças de Kael - o homem disse após pedir frango e batatas à sedutora garçonete que os atendia.

- Veremos por quanto tempo. - Ele riu.

- Pelo menos ainda não foi rebaixado por ter sido aprisionado pela maga - ele disse, estalando os dedos, pedindo outra cerveja.

- Por isso te enviaram para o saque nas minas? - Arthur perguntou, interessado.

- Sim, sim. - Ele fez um gesto impaciente com a mão esquerda, enquanto segurava a caneca com a outra mão. - A maldita mina está inacessível. E dessa vez haviam caçadores por toda parte. Recuamos, mas não tarda que voltaremos lá com um dos magos do mestre.

- Você tem sorte de Kael tê-lo poupado. Soube que ele fez um membro da guarda de jantar de um espectro - ele comentou, pensativo.

- Aquela maga e aquele príncipe arrogante. - Ele apertava a caneca com tanta força, que o arqueiro achou que fosse quebrá-la. - Eles não têm ideia de com quem estão lidando.

- Como ela é?

- Lady Lyra - o homem disse num tom sarcástico. - Quase não a ouvi falar. Mas é bonita. Ahhh... muito bonita. - Ele sorriu, malicioso.

- Você a viu em combate? - Arthur perguntou.

- Combate? - Ele riu. - Ela acabou em minutos com o exército que saiu do portal. Se ela colocar as mãos no cetro e um terceiro portador se revelar para a espada, Kael precisará de muito mais que aqueles demônios que o servem.

Arthur concordava com isso.

Por mais forte que Kael estivesse no momento, precisaria ascender para poder confrontar heróis ambarianos. Ouviu falar de um oficial em Myran, que tinha informações sobre os passos da arquimaga, mas desconfiava disso. Se ela realmente era tão poderosa, já devia ter percebido o que estava acontecendo ao seu redor. Deu um último gole na cerveja, despediu-se de Lucien e deixou a taberna rapidamente. Seguiu sorrateiro para a estrada que levava a uma vila próxima, Lerinor, e longe dos olhos curiosos de quem quer que fosse. Ele próprio conjurou uma runa, e segundo depois essa runa abriu um portal. Deu uma olhada na aljava às suas costas, e no arco, cobriu novamente a cabeça com o capuz e puxando a rédea do cavalo atravessou o portal.

Não demorou muito para se localizar. Estava na fronteira entre Luz Paranor e Myran, e não muito longe dali percebia uma movimentação discreta. Três cavalos eram conduzidos cuidadosamente pela estrada que estava deserta. Não precisou de maiores pistas para saber que era ela. Haviam três esferas de luz iluminando seu caminho para Myran. Percebeu que ela parou por um instante, como se tivesse percebido algo. Ela fez a volta com o cavalo ao redor de seus companheiros de viagem, e logo depois seguiu seu caminho. Arthur resolveu que iria acompanhá-la de longe, e tentaria descobrir mais sobre ela.

Não poderia odiá-la, poderia?

Ela não havia lhe feito nada.

Estavam apenas em lados opostos naquele momento, mas e se tivessem a oportunidade de se conhecer? Estariam do mesmo lado?

Ele viu as figuras se afastando cada vez mais, e resolveu que não iria usar esferas para iluminar o caminho, iria guiar-se por ela. E talvez, pudesse finalmente conhecê-la.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde histórias criam vida. Descubra agora