Assim que Lorde Rupert chegou ao Castelo Branco, o Rei Elran chamou pelos melhores curandeiros da corte e insistiu que nada era mais importante naquele momento do que a recuperação do mago. Lyra seguiu para o quarto onde seus pais estavam hospedados, atenta a todos os procedimentos. Niel tranquilizou-a, mostrando que havia conseguido conter o avanço da marca esverdeada do veneno a poucos centímetros do ferimento. O mago estava desacordado pois os curandeiros concordavam que sob o encantamento ele sofreria menos. Niel achou melhor que Lady Marian e Lyra saíssem do quarto, dizendo que as manteria informadas sobre o estado de Lorde Rupert. A Rainha Lorena acompanhava Lady Marian, e enquanto as duas conversavam, Lyra tentava se distrair. Escolheu um livro que falava sobre as armas lendárias e se refugiou na ala da Rainha, fugindo de qualquer coisa que a pudesse importunar.
Maya estava se sentindo perdida em meio a agitação desde que a Arquimaga chegou ao Castelo Branco. Ela havia tirado toda a atenção que havia conseguido nos últimos dias, e ainda teve a ousadia de chamá-la de inútil por tabela. Ajeitou o decote e seguiu na direção de Kane, que andava distraído pelo corredor.
- Querido - ela disse, sorrindo enquanto passava os braços pelos ombros do príncipe. - Estava mesmo procurando por você.
- Como posso ajudá-la, Maya? - ele perguntou, exibindo seu melhor sorriso.
- Pode me fazer companhia - respondeu ela, denotando certa tristeza na voz. - Não estou entendendo o que está acontecendo, estou bastante confusa.
A princesa grudou-se no braço de Kane, que tentava lhe explicar a situação do reino naquele momento, sem perder a chance de passar a mão pelos cabelos negros do príncipe. Coincidência ou não, tomaram o rumo dos jardins da Rainha e Maya não teve dúvidas em guiá-lo para onde Lyra estava.
A Arquimaga ouviu conversa e risinhos não muito longe de onde estava, mas percebendo de quem se tratava, sequer se deu ao trabalho de erguer os olhos da página do livro.
Ouviu a voz de Kane, obviamente se divertindo com a situação, e balançou a cabeça, tentando ignorar que eles estavam indo em sua direção.
- Ora, se não é nossa Arquimaga! - a princesa de Ydheran falou com sarcasmo. - Sozinha? Não deveria estar na companhia de seus bravos soldados?
- Não lhe devo satisfações, princesa - ela disse, sem desviar os olhos do livro.
- Disse a mesma pessoa que horas atrás garantiu que eu seria informada de tudo que havia acontecido. - Ela abraçava Kane agora sem nenhuma cerimônia.
- Não vejo em que isso possa lhe interessar. - Lyra fechou o livro é encarou Maya. - Você tem exércitos que podem se juntar aos nossos? Quem sabe armeiros que possam fabricar as melhores armas de Thaanator? Quem sabe consiga você mesma, usando seus decotes e fendas, deter a invasão de Kael?
- Como se atreve a falar assim comigo? Eu sou a Princesa Maya, de Ydheran. E você, quem é? Uma maga sem título de nobreza, filha de uma sobrevivente de um povoado extinto que foi vendida como escrava.
Lyra empalideceu e Kane viu os olhos da maga cheios de fúria. O cetro em sua mão brilhou e uma tormenta de pequenas esferas de gelo começou a se formar ao redor da Arquimaga. Maya parecia não se intimidar, mas ele sabia do que Lyra era capaz.
- Miladies, seria bom nos acalmarmos - ele sugeriu, apreensivo.
- Tem razão. Ela não vale meu tempo - Lyra fez com que a tormenta desaparecesse - e espero que nem o seu.
- Está com medo de perder a atenção de Kane, Arquimaga? - Maya riu da maga que estava se afastando.
- É disso que se trata, então? - Lyra voltou-se para a princesa. - A atenção de Kane? Mesmo depois que ele recusou a sua mão em casamento? Você não tem o mínimo respeito pelo Nathan, que não merece ser tratado dessa maneira. Está esperando o que, Alteza? Por que você não o beija e o arrasta para os seus aposentos como tem planejado desde que chegou?
- Lyra, se acalme. - Kane segurou o braço da maga. - Venha comigo, vou levá-la a sua mãe. O incidente com seu pai e tudo que aconteceu nos últimos dias talvez você precise de um descanso.
Lyra cedeu ao abraço do príncipe, e por mais que quisesse ignorar Maya, agiu de maneira impulsiva. Segurou Kane pela gola da jaqueta militar e o beijou nos lábios, demoradamente, permitindo que ele a segurasse mais próximo e acariciasse seus cabelos. O príncipe nunca na vida achou que se sentiria como naquele momento. Seu coração disparou e teve uma leve sensação de vertigem.
- Uau! - ele exclamou quando ela parou de beijá-lo, abrindo os olhos atônito. - Mas o que foi isso... Uau!
- Está vendo, princesa? Nem foi difícil. - Ela piscou para Maya e saiu pisando duro em direção ao seu quarto.
Kane nem ouvia mais o que Maya dizia. Não sabia se devia deixá-la ali, e ir atrás de Lyra; se deveria esclarecer as coisas com Maya e falar que não estava interessado; ou se deveria fazer de conta que aquilo nem aconteceu, afinal ela o havia beijado num momento de raiva, e para provocar Maya. Fosse como fosse, havia gostado da experiência.
Lyra entrou no quarto, furiosa. Parecia que Maya tinha um jeitinho só dela de deixá-la irritada. Não bastava a invasão. Kael, seu pai, estar gravemente ferido. Ela tinha que lidar com Maya, e quem sabe até com Arthur. Jogou-se na cama, exausta, querendo ir para Ihgraime, para a paz do Castelo Âmbar. Ou voltar para seu quarto em Myran, onde dormiria tranquila com o barulhinho da chuva.
Pensou em Arthur por um instante. Se realmente ele foi o responsável pelo disparo da flecha que atingiu seu pai, queria entender o porquê.
Ele estava do outro lado da batalha?
Se estivesse, ele servia à Kael. Não entendia como isso seria possível. Ele não poderia ser assim. Arthur era um arqueiro impressionante e talentoso, não poderia servir a um monstro como Kael.
Tinha que chegar até ele antes de Kane, ou provavelmente o príncipe o mataria pelo que aconteceu ao seu pai. A verdade é que tinha afinidade com o arqueiro e uma conexão que não conseguia explicar.
- Está remoendo o que acabou de fazer? - Era Vivian entrando em seu quarto.
- Hum, a que você se refere...
- Ter beijado Kane no meio de uma discussão com a Maya...
- Você viu? - Aquilo soou como uma pergunta. Se alguém mais havia visto.
- Quando Ambarys toda vê faíscas entre você e Noah... - Vivian piscou para ela.
- Não mesmo! - Lyra levantou-se, encarando Vivian.
- Vamos lá, Lyra, qual o problema? Você passou a vida inteira no mosteiro, vive salvando o dia, ninguém vai julgá-la por ter beijado alguém.
- Acho que eu devo desculpas a ele - ela disse. - Farei isso assim que o constrangimento passar.
- Bom, não foi por isso que vim procurá-la - Vivian explicou. - Estava indo procurá-la para avisar que seu pai acordou e já tomou as poções.
Lyra pareceu ganhar ânimo com a notícia, e foi vê-lo. Afinal, depois de um dia tão complicado, ao menos uma notícia boa.
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Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia Ambarys
FantasyLyra Amaphyre sempre soube que seu destino estaria ligado a um homem poderoso, mas jamais esperaria que fosse reclamada ao seu pai por dois jovens príncipes, extremamente atraentes, intensos e irresistíveis enquanto cumpre seu dever para com o reino...