Capítulo 23

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Lyra havia recebido um rastreador do Castelo Branco. O Rei solicitava sua presença e deveriam partir para Maherac no dia seguinte. Não estava nada feliz com isso, sua intenção era voltar para Ihgraime e aprender um pouco mais sobre o Cetro da Ascensão. Noah, Sirius e os demais pareciam concordar que era o melhor a ser feito, e que sua presença no Castelo Branco talvez fosse necessária para tranquilizar a todos. Além de tudo, o Rei contava aquilo como uma vitória do reino, o que deveria acalmar os demais reinos que poderiam estar agindo às suas costas. Vivian estava animada, tinha com ela a certeza de que seriam recebidos com honras e quem sabe até com um baile, ou mesmo um banquete. Finalmente teria a oportunidade de conhecer a Rainha, e o Castelo Branco. Sirius não queria desanimar a Arquimaga, mas possivelmente teriam que resolver a questão das minas em Koholt, e não bastasse isso, poderiam ter problemas com a guarda no caminho. Não teriam como ir direto ao castelo por Trendamer. Isso levaria dias, e os Elders deveriam ter um portal aberto para levá-los até lá e além de tudo, Kane já estava na Casa dos Elders.

Estava saindo da sala que Hainor havia ocupado no mosteiro, pensando em ir caminhar por Myran, quando o General veio ao seu encontro.

- Estive pensando - ele disse, se aproximando - Se podemos conversar.

- Claro - ela respondeu, admirando os olhos azuis acinzentados de Sirius, que geralmente ficavam assim quando uma tempestade se aproximava.

Ele revelou sua preocupação a respeito de Koholt. As notícias que vinham de lá o deixavam perturbado. A presença da Princesa Maya parecia não estar ajudando, e tirava o foco do líder holt quanto a segurança do reino.

Lyra foi incisiva quando disse que não o dispensaria para que retornasse a Koholt. Disse sem meias palavras que a responsabilidade dele era com o reino, e com ela. Isso podia até deixá-lo lisonjeado, mas não deixava de se preocupar com o fato de que algo muito grave poderia acontecer nas minas. Ainda não conhecia a princesa pessoalmente, mas já havia ouvido falar sobre como ela conseguiu grande parte da frota de Ydheran. Ela certamente não estava em Ambarys a passeio, era conhecida a sua ambição. Sirius lhe serviu uma taça de vinho e observou o tempo da janela, deveriam sair cedo de Myran se quisessem evitar a chuva. Preocupava-se a respeito de Vivian, se ela ficaria bem em seguir viagem com poucas e rápidas paradas.

Noah viu a porta entreaberta e espiou, procurando por Lyra, esperando encontrar o General lá, mas ficou surpreso com o clima de intimidade entre os dois, que estavam abraçados, próximos à janela. Deu uma batidinha na porta e em seguida entrou, contando que os dois estivessem separados, mas não estavam.

- Eu posso voltar mais tarde... - ele disse.

- Na verdade eu ia procurá-lo, Alteza. - Sirius soltou Lyra delicadamente, e foi em direção ao príncipe. - Deveríamos sair o mais cedo possível.

Lyra serviu uma taça de vinho ao príncipe que àquela altura já ouvia Sirius como se nada tivesse visto. A maga pediu licença, dizendo que tinha algumas providências a tomar antes de partir, mas a verdade é que queria ver o Azure mais uma vez. Agora calmo e a torre mais alta, que dava impressão de chegar ao céu. Pensava que não voltaria tão cedo à Myran, então queria se despedir. Por mais que tentasse negar, o mosteiro havia sido a sua casa muito mais que o Castelo Âmbar, e estava feliz por isso. Por tê-lo protegido das trevas das montanhas rochosas onde reinava. E pela honra de ter sido escolhida a portadora do Centro da Ascensão.

Kael conjurava raios e uma tempestade de fogo sobre Ullayn, tamanha era a sua fúria. Ela havia conseguido. A Arquimaga havia encontrado o cetro de Arnon, mesmo tendo começado a busca muito depois de seus comandados. Os espectros permaneciam em silenciosa vigília enquanto ele exigia respostas. Hainor não teve ao menos competência para achar a porta que dava no calabouço. Como esperava que ele, Kael, pisasse no mosteiro. Sua magia não havia nascido com ele. Perdeu a conta dos inúmeros acordos que fez para conseguir usar magia, ser um mago. Mas estava ali, recuperado de toda traição que sofreu quando tornou-se o primeiro Rei de Ambarys. E até isso haviam lhe tirado. Seu filho Noah foi chamado de Primeiro Rei ambariano. Depois de tê-lo traído e usurpado tudo que havia conquistado.

Arnon, o maldito Arquimago. Ele deveria estar em algum lugar, escondido como um rato, esperando pela menina para lhe passar a responsabilidade que ele próprio havia negligenciado. Era um covarde, oculto nas sombras, e mesmo assim, Ihgraime lhe concedeu um festival em sua homenagem. Kael cerrou o punho e urrou de ódio, quebrando diversos vitrais da sala do trono, provocando o desespero de seus conselheiros. Precisava da localização da espada de Nerar, e precisava reaver sua adaga.

- Onde está Arthur? - ele perguntou, ainda com os olhos faiscando de ódio.

- Majestade, creio que o vi mais cedo saindo da casa de Colin - disse um capitão, exagerando na reverência.

- Da última vez que vi o arqueiro, ele estava na taberna em Vanitaar. Saiu de lá para seguir os príncipes, e depois disso, ele sumiu.

Kael pensou na possibilidade de ter sido feito prisioneiro, mas logo desconsiderou essa opção. Sabia o quanto ele era esperto, e mesmo que fosse capturado ele encontraria um meio de fugir. Ele ordenou que todos saíssem, exceto Lorde Norak, um dos conselheiros do Rei Elran. Era um homem de meia idade, mais respeitado pela fortuna que possuía do que por qualquer outra qualidade, ou como pessoa ou guerreiro. Era desprovido da beleza típica ambariana e sequer possuía inteligência o suficiente para aconselhar alguém da realeza. Mas sua jovem esposa havia caído nas graças da Rainha, e diziam até que nas graças do príncipe herdeiro. Kael fez sinal para que se aproximasse, o homem ajeitou o manto de forma um tanto esnobe e foi até ele.

- Tem alguma informação sobre o paradeiro da espada, milorde? -

perguntou Kael, olhando-o nos olhos.

- Nada até agora, Majestade - ele falou em tom formal e foi se aproximando, como se tivesse alguma intimidade com o Rei -, mas tenho certeza que com a ida da Arquimaga à Maherac, logo surgirão teorias de onde possa estar.

- Gostaria, milorde, que conseguisse uma maneira de tomar a adaga do Príncipe Kane. A minha adaga - o Rei disse, olhando para um de seus espectros, que voltou-se para ele, aguardando sua ordem.

- Farei o possível, meu Rei - garantiu, sem pestanejar.

- E precisamos também de informações sobre o festival - ele disse, misterioso. - Preciso saber cada passo de Lady Lyra.

- Considere feito, Majestade. - Ele reverenciou Kael.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde histórias criam vida. Descubra agora