Capítulo 16

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Sirius seguia pela tortuosa estrada que levava ao mosteiro de Myran. Havia contornado o litoral passando pelo Porto de Koholt seguido por vilas, até finalmente chegar ao ponto mais escuro do Azure, a encosta do mosteiro. Para sua sorte, não estava chovendo, pelo menos não ainda, e ficava tranquilo que Lyra e Vivian estivessem no mosteiro em segurança com o Elder Phranor. Já havia enviado um rastreador a Lorde Rupert, e sua viagem havia sido rápida e tranquila. Deveria ter ido direto para Ihgraime, mas tinha que vê-la e sair de uma tortura para outra. Viu um aprendiz se aproximando dele, e logo depois Mestre Cassler veio encontrá-lo.

- Sirius El Eliin. - Ele fez uma reverência ao Cavaleiro Celestial. - A que devemos a honra?

- É um prazer vê-lo novamente, Mestre. - Sirius retribuiu o cumprimento do professor. - Vim encontrar minha irmã e a Arquimaga.

- Ahh, sim. Sua adorável irmã e Lyra encontram-se numa busca por pistas dentro do mosteiro - ele disse e em seguida pediu ao aprendiz que cuidasse do cavalo de Sirius e lhe providenciasse um quarto.

- Espero que tenham mais sucesso do que nossa incursão às minas - Sirius disse, seguindo para dentro do mosteiro.

O mosteiro era uma imensa construção encrustada na montanha rochosa mais alta banhada pelo Azure. Suas torres mais elevadas davam a ilusão de estar entre as nuvens, mas tudo se tratava do tempo chuvoso de Myran. Sirius foi informado de que a Arquimaga estava na sala que pertenceu um dia ao Elder Hainor e foi naquela direção. O mosteiro estava praticamente vazio, tendo em vista que muitos já haviam prestado seus exames para conseguir a varinha. Poucos seriam os aptos para usar o cajado ou cetro, entre esses, alguns poderiam buscar uma oportunidade como professores no mosteiro. A maioria gostava da ideia de servir a algum dos castelos, ou se aventurar na defesa do reino. Mas que ascenderiam à Mestre ou Elders, seriam raros. Seguiu por um corredor ladeado por colunas que fazia a ligação entre o hall principal e a ala Norte. A chuva não o acompanhava dessa vez como em outras ocasiões em que esteve ali. Algumas vezes havia sido encarregado de levar Lyra e Vivian no início do ano, e outras vezes foi buscá-las para o festival. Mas nós últimos anos era somente Lyra, já que Vivian havia conseguido a varinha. Entrou em silencioso no salão e escolheu a porta à esquerda, antes de subir alguns lances de escada e percorrer um longo corredor onde encontrou a antiga sala de Hainor. Sirius parou na soleira da porta e observou as moças. Vivian estava absorta, lendo um livro grosso e antigo, enquanto Lyra fazia anotações, próxima a janela. Viu o vento suave bagunçar o cabelo loiro dourado dela, mas ela não parou de escrever para tirar a mechinha dos olhos, desenvolvendo alguma teoria. Ele bateu discretamente à porta e Vivian olhou para ele, demorando alguns segundos para lhe sorrir, o que lhe deu a certeza que estava concentrada em sua leitura. Vivian saiu levando-o consigo para o corredor, dizendo para que ele fizesse companhia à Lyra enquanto iria buscar um bule de chá. Ele sabia que aquilo era uma desculpa. A mais esfarrapada delas, que sua irmã teve coragem de falar, para que ele ficasse a sós com Lyra. Mas assentiu. Precisava mesmo conversar com a Arquimaga sobre as minas, sobre Noah, Kane, e claro, sobre eles. Entrou novamente na sala, dessa vez sem bater, e ela olhou em sua direção, enquanto se aproximava.

Sirius tirou a mechinha de cabelo dourado da frente dos olhos dela e Lyra esboçou um sorriso, ainda como se estivesse arquivando alguma informação importante para anotar depois. Fechou seu livro e abraçou seu General, feliz por vê-lo bem depois de dias de incertezas.

- Soube que você foi o herói na mina - ela disse, enquanto ele sentava-se ao lado dela no divã próximo a janela.

- Tivemos sorte - ele falou, preocupado. - Se Nathan já não tinha muita simpatia do Rei, não acredito que a situação irá melhorar agora.

- Eu achei que ele tivesse superado essas questões com o Rei, afinal ele foi a Maherac e parecia estar colaborando...

- Noah passou dias em Koholt e agora Nathan não pode pensar sem dar satisfações à Maherac - Ele suspirou - e por esses dias era para receber a princesa de Ydheran.

- Isso o preocupa? - Lyra viu Vivian entrando na sala com uma bandeja com xícaras e um bule de chá fumegante. Trouxera fatias de bolo de limão também.

- Ele sempre demonstrou certo interesse numa aliança com Ydheran e Efyr. Nunca dei atenção porque não achava possível que ele fosse tão longe para minar o poder de Elran. - Sirius parecia cansado da viagem, do assunto Nathan, e tudo que desejava naquele momento era uma xícara de chá para aquecê-lo.

Adormeceu ali mesmo, enquanto observava as duas voltarem a sua pesquisa. Lyra o havia envolvido num encantamento que lhe proporcionaria um sono tranquilo e claro, alguma mensagem pessoal dela. Afagou-lhe os cabelos escuros e desejou que ele tivesse bons sonhos, lhe dizendo baixinho que precisavam conversar. Mas, antes de levantar-se do divã, viu um livro de letras douradas numa prateleira onde parecia ter apenas poções e alguns ingredientes sem importância. Foi como se o livro pudesse ser visto somente daquele ponto na sala. Lyra testou sua teoria, caminhando para vários locais na sala, de onde não podia ser visto de maneira alguma. Voltou à direção de onde havia visto e de lá seguiu na direção da prateleira, alcançando o livro, na verdade um diário. E para sua surpresa, o nome do proprietário fez seu coração palpitar. Era um diário do Arquimago Arnon Eldriast, e se estava ali, muito bem escondido até aquele momento, deveria conter alguma informação muito importante. A Arquimaga puxou uma cadeira confortável até onde o general dormia profundamente, achando que talvez daquele local conseguisse notar mais algum detalhe que ainda não havia percebido. Abriu o diário e começou a ler com atenção cada palavra escrita pelo Arquimago. Ele falava sobre o mosteiro e sobre seus anos lá. E sobre o calabouço nas profundezas rochosas de Myran. Ele relatava que no primeiro ano de estudos, explorando o mosteiro, encontrou uma porta escondida descendo a escadaria para a ala de combate mágico mais antiga. Essa porta estava camuflada com um feitiço, mas que crianças aparentemente conseguiam encontrá-la. Com o passar do tempo, e as atividades dentro do mosteiro, ele foi perdendo a localização exata da entrada do calabouço, onde junto a alguns amigos ele se atreveu a entrar, encontrando pistas de que em algum momento houve uma batalha ali. Lyra fechou o diário e lembrou que ela própria já havia encontrado aquela porta, exatamente nos primeiros dias no mosteiro. Mas suas lembranças eram imagens turvas. Uma frase solta no diário quando ela resolveu abri-lo novamente.

Um local perfeito para esconder algo que não deve ser encontrado.

Lyra vestiu a capa e disse a Vivian que logo voltaria. A amiga assentiu, concentrada em sua leitura. Cobriu a cabeça com o capuz e seguiu pelo corredor silencioso em direção às coordenadas onde provavelmente estaria a entrada do calabouço.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde histórias criam vida. Descubra agora