Destino, Acaso ou Algo Mais Forte (2014)

Passou

Eu tenho medo de ser um daqueles caras da turma que a cada nova reunião aparece com uma história diferente sobre mais uma mulher. Tenho medo de que nessas rodas onde jogamos conversa fora eu fale apenas sobre sexo. Nunca de amor. Fale apenas sobre lençóis amassados sem um propósito maior, nunca dos cinco minutos a mais com quem se ama.
Se a previsão desse destino se confirmar, serei visto como um cara vazio. E não estarão enganados. Não temo os dedos apontados para o que eu me tornei. Temo, sim, a perspectiva de não falar de nós dois, de ninguém perguntar mais sobre o que aconteceu ou, então, se perguntarem, eu responder algo tão vazio quanto eu.
E então eu vou sentir o peso de negar a mim mesmo que te amo e que não fiz nada a respeito disso enquanto tive tempo. Carrego toneladas nos ombros por dizer a quem quer que seja que "passou". Uma ova! Duvido que eu consiga ser tão convincente assim.
Eles vão me olhar com pena (ou com tom de acusação) e vão logo mudar de assunto para evitar a saia justa. Eu vou acabar pegando o celular para abrir um aplicativo qualquer ou alguma rede social que me faça ter notícias suas. Buscarei as migalhas que restaram de nós. E, confesso, tenho medo.
Do mesmo jeito que eu acabei estagnado, sem sorriso e sem graça, mas com alguns risos curtos e gozos sem paixão, você pode ter ido em qualquer outra direção. Tenho medode te encontrar com outro. Pensamento idiota, eu sei. O tempo sempre nos faz superar feridas e ter nova esperança no que vem. Mas não ficarei triste se, mesmo com outro, você estiver feliz. 
Meu medo é que eu não te faça mais feliz nem em saudade.
Acabarei voltando à minha realidade: de ser aquele cara da roda que alguns amigos invejam e outros têm dó. Um cara que, não importa o rumo bem-sucedido que a vida tenha tomado, se sentirá sempre frustrado quando o assunto é amor. Frustrado por não ter feito nada enquanto podia e por não ter coragem de enfrentar o passado e te procurar. Vou acabar mentindo de novo. 
Passou.