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Já faz duas horas que o quatro olhos insiste, e eu não sei o que dizer pois não o conheço para acabar aceitando um pedido desses.

- Vamos, aceite!...
Ele repete mais uma vez.
- É perigoso uma moça como você por essas ruas!.
Conclui o quatro olhos.

Eu apenas finjo que não estou ouvindo dessa vez e permaneço sentada.

- Eliza!
Chama pelo meu nome.
- Por favor!
Insiste o garoto.

Me levanto devagar e fico de frente para ele.

- Eu não te conheço!...
Digo olhando em seus olhos.
- É muito estranho um desconhecido me oferecer um lugar pra ficar.
Desconfio.

- Não sou mais um desconhecido!...
Sam sorri.
- Lhe disse meu nome, e aliás, moro com minha mãe.
Diz e olha para a moça bonita que mexe no celular ainda no mesmo local.
- Que mal faria a você?. Nem faz meu tipo, só estou querendo ajudar!.
Dá de ombros e abaixa a cabeça.

Como assim eu não faço o tipo dele?

Ele se acha muito!

- Está bem!
Aceito com um frio  na barriga.

Sam abre um sorriso que parece mais um "Aceito seu convite para sairmos!", e ainda por cima diz que não sou o tipo dele.

Tá bom!

- Sam, querido!...
Grita a mãe do quatro olhos.
- Temos que ir!.
Avisa ela.

-Está bem mãe!...
Responde o garoto.
- Vamos Eliza!.
Ele puxa meu braço só que eu me esquivo.

- Sua mãe!
Digo.

- Oque tem ela?
Pergunta confuso.

- Ela vai permitir?
Mexo no cabelo e olho para ele.

- Mas é claro!...
Sorri.
- Minha mãe tem o coração de um anjo!.
Ele pega na minha mão.
- Vamos!.

Sinto uma vibração forte enquanto caminhamos, será que é por causa de nossas mãos que estão juntas?.

Para de pensar nisso!

Caminhamos até o carro em que a mãe de Sam  está encostada.

- Ola!.
Indaga ela quando nos vê.

- Mãe, está é Eliza Martins, Eliza esta é minha mãe Katherine Miller!.
Nos apresenta.

- O-oi.. tudo bom?
Digo nervosa e ela pega minha mão.

- Oi Eliza!
Diz sorridente.
- Estou ótima!

Ela me puxa para um abraço e fico sen jeito.

- Ela vai ficar lá em casa por uns tempos, até ela conseguir um dinheiro!.
Explica Sam.
- Ela foi assaltada, eu vi tudo quando fui  comprar  um sorvete!.
Termina.

Katherine abre a boca com uma expressão assustada.

- Meu Deus Eliza!
Diz com as mãos na cabeça.
- Graças a Deus que não está ferida!

- Verdade!
Suspiro.

- Vamos, entrem no carro!
Manda a bela moça.

Sam vai no banco da frente ao lado de sua mãe, os dois conversam sobre algumas mudanças que vão fazer na casa, depois Katherine pergunta algumas coisas de mim não muito pessoais. Rimos algumas vezes quando ela fala sobre das travessuras que Sam aprontou quando pequeno, percebia pelo retrovisor que ele corava a cada coisa que eu descobria sobre sua pessoa.

Realmente é muita loucura, á umas horas atrás eu estava no Brasil descobrindo coisas horríveis sobre o passado dos meus pais biológicos.

Agora tô em  Londres rindo com uma família britânica super simpáticos!.

É como se estivesse no lado bom da minha vida, atravessei o outro lado do espelho.

Em todos esses 17 anos que passei no Brasil só coisas ruins aconteceram, era como se aquele lugar não me pertencesse, claro que tinha as coisas boas mas acabavam se tornando ruins  também, fora meu pai de criação, ele é uma benção na minha vida. É tão estranho chama-lo de "pai de criação", para quem o chamou de papai esse tempo todo.

- Então...
Kate diz lentamente..
- O Brasil é realmente bonito como todos dizem?..
Sua curiosidade sobre o Brasil me surpreende um pouco.

- Sim, há algumas belezas lá de cair o queixo!
Digo sorrindo.
- Não estou puxando saco só porquê sou de lá!
Mas logo aquela bela curva em meu rosto desaparece.

Eu não sou de lá, meu sangue é britânico.

- Está tudo bem?
Kate se preocupa.

- Claro, estou bem!
Passo as mãos no rosto...
- É só saudade!
Minto.

Mas há um pouco de verdade nisso, eu sinto falta de Eric e até de Janete, mas também me sinto enjoada quando lembro de tudo que descobri, esse tempo todo me esconderam de onde realmente vim.

Meus olhos se fecham e acaricio o colar que era de minha mãe, por um momento senti sua presença. Quando abri meus olhos vi que Sam estava me observando, o garoto virou o rosto rapidamente para disfarçar, ri e achei fofo, suas bochechas pareciam dois tomates bem vermelhos.

Para com isso, ele não é o Pablo e você não é a Melissa, isso nem se compara aos seus livros de romance Eliza!

Bato com a mão na testa e resmungo baixo, Pablo... Sam estava a me olhar novamente e dessa vez ele não disfarçou, apenas me deu aquele sorriso de bobão, como se estivesse me dizendo " Está tudo bem, nada vai te acontecer!".

Eu retribuo o gesto com o meu dedo do meio e uma cara de deboche, vejo pelo retrovisor ele fingindo está chateado com as mãos na boca.

Sam Miller é um idiota que conheci nas ruas de Londres, onde isso ia parar?

O Amor não existe trouxa!

- Chegamos crianças!
Kate avisa.

Rio de como ela nos chamou.

Antes que eu abra a porta o quatro olhos já fez isso por mim, me encontro com seus olhos mais uma vez e com aquele seu sorriso.

- Você é muito bobão!
Sorrio e empurro ele do meu caminho.

- E você adora!
Diz com firmeza.

Talvez  quatro olhos... Talvez...

Meu Mundo AZULOnde histórias criam vida. Descubra agora