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A pouco centímetros de casa, parei, fechei meus olhos e suspirei. Tentei me acalmar, mas ao ver aquela cena, que ainda continuava, apenas me enfureci mais.

-O que está fazendo?
Falo tentando manter a calma.

-Já voltou?
Janet perguntou surpresa e passa a mão na testa limpando o suor.

-O que está fazendo?
Pergunto novamente.

-Estou tirando essas flores daqui, vou mudar para outras.
Explica com inocência.

Logo saí de si, fechei os olhos novamente mas dessa vez não era pra relaxar.

-Você está louca?
Grito.

-Por que está agindo assim?
Ela permanece calma ao tirar as luvas de jardinagem.

-Não pode fazer isso!
Berro com as mãos na cabeça.
-Me..meu pai disse que ela plantou essas rosas pensando em mim!
Ao terminar minhas palavras, me ajoelho na calçada.

Observo toda a área onde ficava as flores, e agora o  que resta é apenas um espaço vazio e algumas pétalas no chão. Pode parecer exagero da minha parte fazer todo esse alarme por conta das rosas, mas era a única coisa que me deixava mais perto dela, era a única coisa que eu tinha certeza de que era seu cheiro, ali era meu porto seguro desde  criança até hoje. Eu podia sentir seu abraço, seus beijinhos, podia até escutar sua voz, mesmo isso nunca ter acontecido, pois morreu no parto uns minutos depois de eu nascer, isso meu pai que diz. E tirar aquelas flores era a mesma coisa que mata-lá novamente, pois aquelas rosas eram minha mãe.

Passei minha vida toda tentando superar, as vezes até me culpo, se não fosse por minha causa ela estaria aqui e feliz. Mas meu pai sempre diz que sou a maior bênção da vida dele, e que não tenho culpa de nada e que com toda certeza minha mãe está orgulhosa em qualquer lugar que esteja.

-Eliza!
Ouço a voz de minha madrasta ecoar em minha mente.
-Querida?, está bem?.
Me pergunta, e posso ouvir melhor e ver nitidamente o que ela fez a minhas flores.

-O que você acha?.
Me levanto e fico próxima a seu rosto.
-Você acabou de matar  ela!
Sinto o inchaço de meus olhos por conta das minhas lágrimas repentinas.

Janet se espanta quando percebe o que acabou de escutar da minha boca.

-Como assim?.
Arqueou uma das sobrancelhas.
-Não estou te entendo!.
Diz e cruza os braços.
-E quem eu matei?.

-Um pedaço que eu tinha de minha mãe!
Respondo olhando para o espaço vazio a frente da minha casa onde ficava as rosas.

Ela se vira procurando o que eu observava, então só aí ela entendeu, volta para me olhar novamente, porém seu rosto está triste com um ar de arrependimento.

- Eu sinto muito... Não sabia que ela que tinha semeado aquelas rosas.
Diz nervosa.

-Realmente eu não sabia Eli..

Interrompo-a

-Sabia sim!, você sempre me vigiava quando eu brincava aqui fora, com as rosas.
Grito com os nervos a flor da pele.
-Você é uma falsa!
Berro com ódio.
-Falsa!
Grito mais uma vez me levantando e corro para dentro de casa.

-Eliza!
Ouço a mulher gritar com a voz fina.

Porém, estou muito abalada com o rumo que as coisas estão tomando, tudo tão rápido e dolorido.

Isso não acaba nunca?

Só é mais um motivo pra que eu me mande para Londres.

Minha mãe não está aqui, minha amiga me traiu e meu namorado também, não que eu precise de homem pra ser feliz, porém um colo dele ou um carinho seria perfeito neste momento.

Passo pela sala e com todos esses pensamentos nem me dou conta, meu pai estava na sala.

-Eliza?
Ouço meu pai atrás de mim.
-Por que está chorando?
  Pergunta e o sinto se aproximar.

Sua mão agarra meu pulso e me puxa devagar para que eu fique de frente pra ele. Meus  braços agarram sua cintura e  apenas caio em prantos como uma criança. Meu pai fica sem entender, então ele  me abraça bem forte, era disso que eu estava falando, atenção, preciso da atenção dele, coisa que a anos não recebo.

-Houve algo minha pequena?
Ele me pergunta enquanto acaricia meus cabelos.
-Sabe que eu odeio te ver assim!
Concluiu com um suspiro.

Permaneço alguns segundos calada, até afastar um pouco meu rosto de seu peito para olhar o mesmo.

-Oque quer me contar?
Finalmente falo algo.
-Fale de uma vez meu pai!, tudo já está dando errado mesmo..
Arfo cansada.
-Acabe logo com isso!
Termino minhas palavras e pressiono meus olhos um contra o outro para escutar meu pai.

-Não posso filha!
Suas mãos segura meu rosto.
-Amanhã é o dia de eu lhe falar tudo!
Admite.
-Não sei o motivo de você estar assim...
Limpa meu rosto molhado.
-Mas você precisa descansar um pouco..
Continua, e me olha fixamente.
-Eu te amo parceira!
Ele levanta sua mão esquerda para o nosso cumprimento sempre.

Faço o mesmo, só que com a mão direita, finalizando no final com um coração. Esse era nosso cumprimento especial quando ganhávamos algo, ou só para alegrar mesmo.

-Eu também te amo parceiro!
Digo sorrindo, e ganho um beijo na testa e mais um abraço quente.

Por mais que os dias estejam se tornando difíceis, meu pai ainda está aqui para me fazer sorrir.

Corro para as escadas a caminho do meu quarto, para um bom banho e relaxar, esquecer tudo que aconteceu hoje e apenas sonhar com minha viagem para Londres.

Acha mesmo que iria me esquecer dessa bela aventura?...Jamais!

Me aguarde Londres!

Me jogo na cama com um sorriso, digamos que, tramando.

Por favor mundo, me ajude, não me dê azar em Londres!

Cruzo os dedos e direciono para cima ficando nitida a aparência  do meu teto, uma cor azul, bem clara, faço uma careta de reprovação.

Nunca mais deixo meu pai pintar meu quarto!.

Reviro os olhos ao lembrar de meu pai insistindo, para que eu o permitisse decorar esse pobre imóvel. Que arrependimento.

Azul?, acho muito apagado, essa cor com toda certeza não fará parte da lista de minhas coisas favoritas!

Suspiro virando a cabeça para olhar a quão longe está a porta do banheiro.

-Haaaaaa!Que merda!
Resmungo antes de criar coragem para se levantar.



O que estão achando dessa história?

Aperta na estrelinha  e me ajude em!

Bjs

Meu Mundo AZULOnde histórias criam vida. Descubra agora