Capítulo 7

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No sábado não tinha a mínima vontade de ir para o estúdio, mas já tinha desmarcado alguns compromissos e não deixaria Rubem na mão. Fui me arrastando, mas fui. Trabalhei até às 20 horas e quando dei por encerrado todo o trabalho, meu celular tocou.  Era Olavo.

- Fala, meu defensor! Algo com tia Olga?
- Mamãe está bem. É que você é o assunto do escritório que estou trabalhando.
- Num sábado??
- É, Liz! Consegui um estágio remunerado na melhor! Precisei trabalhar hoje para colocar a papelada em dia.
- Não deixem que te massacrem, Olavo! Há quanto tempo você está trabalhando? Não me contou nada.
- Cara, foi louco, Liz!
- Estou ouvindo!
- Estava na praia domingo, meu chefe chegou e ficou fascinado pela minha tattoo, puxou assunto, conversamos e pronto! Tô trabalhando!
- Seu delinquente juvenil!!!! Na praia?? Eu te passei os cuidados e... - ele me interrompeu
- Calma! Fiquei no quiosque! E, pôrra! Ganhei um emprego com a sua tatuagem!!!!
- É um estágio, Olaf!
- Pôrra, Liz!
- Mas...é um estágio que vai virar emprego de verdade porque não há defensor melhor que você! Se seu chefe não reconhecer seu esforço depois de hoje, cai fora!
- Nunca!!! Desistir não mesmo! Eu disse que estou na melhor!!
- Parabéns, meu menino! Você vai ser grande!
- E te defender, Liz...sabe o que é curioso?
- Hãm?
- Quando saí do estúdio naquele dia me deparei com uma cigana - Ele parou para gargalhar - E ela disse que meu sonho estava prestes a acontecer.
- Uma cigana? Deve ser a mesma que me falou umas bobagens dias atrás! Você não levou isso em consideração, né? - Quem gargalhava agora era eu.
- Cara, não sou de acreditar, mas...dois dias depois, Bum!!! Aconteceu!
- Ai, Olavo! Você me preocupa!
- Relaxa, Liz!

Desligamos, peguei minha bolsa e fui para meu apartamento assistir minhas maratonas de séries ou ler um pouco. Não estava a fim de sair depois do que aconteceu e todas as minhas lembranças.
No domingo tive um surto criativo logo cedo e não podia deixar passar isso. Não costumo trabalhar em casa, mas precisava desenhar! Pensando em toda a confusão no bar, da minhas lembranças, o emprego de Olavo e sua tatuagem, comecei a esboçar. Fernando aprovaria com certeza!.
Depois de toda rotina doméstica comecei a ler um livro que estava na minha cabeceira há uma semana e meu telefone tocou insistentemente. É, tinha que atender!

- Liz, meu amor!
- Oi, tia!
- Já fiquei sabendo de sua loucura no Maximus!
- O quê? Como? - Me lembrei que Olavo havia me ligado para contar, mas o assunto sobre o estágio foi o que aconteceu - Olavo, um fofoqueiro!
- Foi tudo isso mesmo que ele falou? Liz, você sabe que...
- Tia Olga, não sei como foi contado para o Olavo e como ele contou para a senhora, mas o fato é que o imbecil passou a mão em mim e eu coloquei ele no devido lugar. Ponto.
- Sei, sei. Ele me disse que todos no escritório estão sabendo e que até o chefe dele riu muito.
- Deve ser outro babaca!
- Calma, guria! Ele esteve lá para pegar o amigo. Não assistiu a confusão, mas segundo Olavo achou merecido e chamou o primo exatamente do que você chamou.
- Imbecil? Babaca? Idiota ou todos esses adjetivos perfeitos juntos?
- Você, guria... - Ela gargalhou e se despediu, não sem antes me advertir - Controle - se, Liz! Essa vida ficou lá atrás!
- Eu sei, tia, eu sei. Te amo.
- Eu também.

Cheguei animada na segunda feira na editora e fui direto mostrar o trabalho para Fernando. Como eu previa, ele aprovou e ligou imediatamente para o juiz Joaquim.  Embora eu tenha escutado a conversa, assim que desligou, meu chefe me contou todos os detalhes.

- O cara simplesmente disse que você arrasou!
- Não tinha dúvidas disso!
- Quanta modéstia!!! Prepare-se porque agora ele já deve estar marcando o coquetel de lançamento e vai ser logo!
- Então, vambora trabalhar!!!

Fernando me dava total autonomia na elaboração das capas, mas contava sempre com a ajuda de Lariana. Depois de ter um pequeno problema com o papel, que pedi fosco e o que me forneceram era o brilhante, tive que adiar a finalização para o dia seguinte.

- Ficou ótimo, Liz! Porquê cismou com o fosco?
- Porque quero perfeição, Lari, perfeição! Na laminação isso vai reluzir com o papel brilhante e meu trabalho tá no lixo! - Fernando que entrava na hora perguntou já pegando o trabalho
- O quê tá no lixo? Isso? Mas está perfeito! O que mais você quer?
- A pôrra de um papel fosco! Só isso!
- Segundo a Liz, vai reluzir na laminação - Lariana revirou os olhos.
- Mais uma ligação pro Juiz?
- Claro que não! É fosco e ponto!
- Liz!
- Sei o que faço e sei o que digo! Façamos o seguinte, deixa essa merda aí, manda para a tiragem como estou falando e no dia do lançamento mostre essa capa que vocês estão achando liiiinda, para o cara!
- E?
- Se ele gostar dessa merda aí peço minha demissão!
- Puta que pariu! - Soltou Lariana, enquanto os outros levantavam os olhos de seus cubículos e Fernando avaliava.
- Feito! - falou por fim
- Puta que pariuuuu! Só tem louco aqui! Você bebeu, Liz?
- Não, Lari. Só confio no que faço.
- Já disse que está feito! Se mexe, Liz! Vai fazer a sua capa. - Fernando disse e saiu. No fundo ele sabia que eu estava certa, só não podia dar o braço a torcer na frente de todos. Saí ás 21 horas, depois que terminei tudo e todos já terem ido. No dia seguinte a tarde tudo estaria pronto e só aguardaria o dia de estar cara a cara com o juiz Joaquim outra vez.

Uma cigana leu o meu destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora