A cada dia que passava eu me sentia mais triste e com raiva, muita raiva! Foi preciso uma dose extra de paciência por parte dos meus amigos. Rubem, Paulina e Lariana já não me aguentavam mais, na verdade, nem eu estava me aguentando. Soube que Joel seguia namorando Mirna e provavelmente nem lembrava da existência da idiota aqui.
Numa tarde chuvosa de terça feira, em que não dava para caminhar na praia, ao sair da editora, fui para o cinema, coisa que não fazia muito, assistir uma comédia e rir um pouco. Bastava de drama na minha vida! Convidei Lariana para ir comigo, mas ela deu uma desculpa qualquer. No lugar dela, com a nuvem negra que pairava em minha cabeça, faria o mesmo. Não estava sendo boa companhia para ninguém.
Peguei a sessão das 17: 30 horas, com um balde imenso de pipoca e um copo de 500ml de refrigerante nas mãos. O filme me fez chorar de tanto rir e tive a impressão de que minha risada ecoava dentro da sala pouco cheia. Ao sair do cinema com a bexiga cheia de refrigerante e frágil das risadas, fui ao banheiro e ao lavar as mãos, olhei para o lado e vi que uma loira me encarava: Mirna.
- Conheço você? - perguntei
- Você não é tão idiota quanto parece.
- Tem razão! - Sacudi as mãos e ao me virar para ir embora senti sua mão em meu braço. Fuzilei a mulher com o olhar tentando não sair do sério - Não se atreva! Você viu o que eu fiz com a sua amiguinha na Casa do Rei, posso ser pior dentro de um banheiro, com pouca gente por perto.
- Sei me defender! Não sou a otária da Natália. - Mas largou meu braço - Só que estou com meu namorado aí fora me esperando, e não vou sair descabelada por brigar com uma qualquer.
- É mesmo? - Pronto! Ela conseguiu! - Mas você sabe? Foi essa qualquer aqui que esteve fodendo com o seu namorado, olhos nos olhos, num certo escritório... - Ela gargalhou, mas vi a raiva em seus olhos.
- E você acha que eu não sei? Esperava mais de você...quem está com ele mesmo?
- Você, garota! - Dei uma piscada cínica para ela, afinal, tinha que admitir: A mulher era boa em ser uma filha da puta! Lembrei de Evandro :" Santa burrice, Liz". E eu querendo ser "A" correta. - Bato palmas para sua inteligência e coragem de estar com uma pessoa que pensa...e transa! com outra!
- Coisa que você não é, pelo que estou vendo. Eu SEM.PRE ganho! - - Parabéns, então, por mais uma conquista! Nem precisou jogar na loteria, né? - Puta merda!! Que vontade de degolar essa idiota!!! - Bom, você já disse tudo?
- Falta só mais uma coisinha: Nem pense em atravessar meu caminho, tatuadorazinha de merda!
E no momento em que eu ia avançar e quebrar a cara de Mirna, uma mulher saiu de uma das portas, esbaforida com o celular nas mãos, falando um "oi" rápido com a loira e perguntando se estava tudo bem por ali. Foi o que eu precisava para respirar fundo e responder
- Fica tranquila! Não cruzarei o seu caminho, mas essa "tatuadorazinha de merda" só não pode garantir de não cruzar com o gostoso do seu namorado! - Dei as costas e já estava saindo quando senti um puxão de cabelo...
- Mas o quê?... Você está louca, pôrra??
- O que está acontecendo aqui, Mirna? - Aquela voz que me arrepiava... Não tinha visto ele parado bem em frente a porta do banheiro. E ele viu quando sua querida namorada puxou meu cabelo.
- Ela me deu um tapa, Jo! Um tapa!!! E me disse coisas horríveis!!! Precisava me defender! - E em instantes seu rosto estava lavado de lágrimas de crocodilo...cobra chora??
- Como é?? Que você é louca eu já sabia, só não imaginei o quanto eu...
- Continua doutor! Porque realmente disse umas coisinhas a ela, e embora eu estivesse, e ainda esteja, com muita vontade de quebrar essa cara de cu com cãimbra, uma alma boa que estava lá dentro me fez respirar fundo.
- Cu com cãimbra? Você... - percebi que ele quase riu, mas se conteve.
- E eu sou a boa alma! - A mulher esbaforida saiu falando - Oi, chefe! Mandei uns áudios muito bons para seu celular...
- Áudios? - Mirna se encolheu um pouco, e eu que estava para me retirar daquele circo, estaquei no lugar. Acho que ficaria beeem interessante afinal! - Não sei se estou entendendo, Pam?
- Apenas ouça, chefe! Se possível, agora!
- Ah! Faça um favor, garota! Estamos no nosso momento! Trabalho só amanhã!
- Acho que deveria ouvir, doutor! - Eu me intrometi, sorrindo e olhando para Mirna - Acho que a Pam gravou as coisas "terríííveis" que eu disse para sua namorada, não é mesmo, Pam? Vai que você queira me processar... - Dei uma piscadinha para a mulher e ela sorriu.
- NÃO! Não tem necessidade, Jo! Deixa isso pra lá. Não quero criar problemas para ela...
- Me criar problemas? Imagine! Acho que estou mesmo com saudade de visitar a cadeia! - Ela arregalou os olhos para mim e voltou-se chorosa para Joel.
- Deixa pra lá, Jo! Olha o tipo dela...
- Já falei sobre isso com você, Mirna! - Ele disse sério e sacou o celular do bolso - Essas ofensas nas entrelinhas...
- Vamos, Jo! Ainda estou um pouco abalada. - Mirna abaixou gentilmente a mão que ele segurava o telefone.
- Ainda acho que devia ouvir logo, chefe! - Mais uma vez Pam foi fuzilada pelo olhar de Mirna, mas não se abateu. Garota boa!!!!
- É, doutor! - Eu sorri para Pam - Bom, sabe meu endereço se precisar me processar... - Fiquei na ponta dos pés, me apoiei em seu ombro e dei um beijo em seu rosto, sentindo um leve tremor de sua parte, aproveitei para falar baixinho - ...Ou qualquer outra coisa! - e completei - Vou indo, doutor!
- É muito baixo nível, Jo! Vamos embora.
- Já que não quer ouvir os áudios agora, também vou indo, chefe! Até amanhã!
- Parem agora vocês duas!!!!
- Eu? Parar porque você quer??? Rá! Tá pra nascer!!! - Olhei para Pam que parou imediatamente, fiz um gesto de desculpas para ela que sorriu sem graça mas entendeu e segui andando.
Aquele circo me deu fome! Sentei na praça de alimentação, fiz meu lanche calmamente, passei no supermercado para comprar algumas coisas que faltavam em casa e esbarrei com Pam na saída.
- Desculpe...Pam, né? - Ela mal me respondeu e já disparou como uma metralhadora
- Isso. Apenas Pam. É o meu nome. Eu tive que ficar e o chefe ouviu tudo e ele ficou puto com a diaba loira e também com você. Mas ele ficou mais puto com ela e agora acho que terminaram, graças a Deus, mas estou com medo porque ela é má. Eu preciso do emprego e o irmão dela é um dos advogados do grupo, estou perdida. mas o chefe é muito decente e correto e não merece aquela diaba. Uma vez ela quase conseguiu aprontar para o Olavo, mas ele é esperto e...
- Pára, Pam!!! O que você disse??? - Ela suspirou cansada
- Você não ouviu? Eu não sei mais o que eu disse!
- Calma, eu ouvi, mas o que ela fez com o Olaf? Digo Olavo?
- O Olavo é muito inteligente, é esperto, além de ser amigo do chefe, e ela não conseguiu!
- O Olavo, Pam, é uma das pessoas que eu mais amo nessa vida! É o meu irmão! Se aquela filha da puta tentar alguma coisa com ele, é morta!! - Ela me olhou com os olhos arregalados.
- É verdade que já foi pra cadeia??
- Sim e não, nunca fui presa - Eu sorri , ela não estava sendo má - E nunca matei ninguém, se te conforta.
- Conforta. Você não tem cara que mata, mas quebra! Se for o nariz daquela diaba, ia ser lindo! Ainda bem que eu estava naquele banheiro e ainda bem que você não socou a cara dela, senão o chefe não ia acreditar em você. Agora eu tô na merda. Eu preciso ajudar minha mãe e...
- Você nunca respira??? Pam, se acalma! Vou falar com o Olavo sobre isso.
- Você vai? Obrigadaaa! Obrigada!
- Você é Pam de Pamela?
- Não, Pam de Pam mesmo. Minha mãe é econômica. - E pela primeira vez desde que nos trombamos, ela riu divertida.
Era cada figura que aparecia na minha vida! Pam era mais uma. Falaria com Olavo naquele dia mesmo e aproveitaria para perguntar algumas coisas sobre a "diaba", como disse Pam. Não foi só o fato dela ter desmascarado Mirna, aquela menina era ingênua, dava para ver e precisava do emprego. Ela ganhou minha atenção! O que eu pudesse fazer, eu faria!.
Na quinta feira, já estava arrumando tudo no estúdio para o dia seguinte quando Joel entrou.
- Veio me avisar que está me processando?
- Talvez!
- Hum.
- Você disse a ela sobre o escritório!
- A Sério? Você disse ao Van sobre o banheiro na Casa do Rei
- É diferente! Ele era uma farsa!
- E você sabia?
- Não, mas...
- Olha só...cansei dessa coisa toda, sabe? - Ele estreitou os olhos para mim e se sentou no sofá. Sentei na mesinha ficando frente a frente com ele. - Chega disso tudo! Essa troca de insultos, essas transas aleatórias...Eu, eu me apaixonei por você, fui ingênua em fazer aquele joguinho adolescente que a Lice criou, embora eu tenha certeza que foi com a melhor intenção e que ela jamais iria querer ferir alguém, não deu certo. Então, te devo desculpas por tudo. Não estou aqui para humilhar ninguém e nem ser humilhada. E sim, posso demorar, mas sei reconhecer meu erro. E espero que você tenha me ouvido bem, porque foi a primeira e última vez que falo isso.
- Certo. - Ele se levantou, me olhou nos olhos e foi embora.
- Pode sair agora, Lina! - Sabia que ela estava escutando tudo
- Você fez o certo, Liz!
- É, fiz.
Fiz o que era certo, o que o juiz, Paulina, Evandro, Analice e até mesmo a cigana de poderes aleatórios, disseram para fazer, mas senti no momento que ele se levantou, que tinha perdido mesmo! Depois de tudo que ele passou, e toda aquela brincadeira, provavelmente ele não acreditaria que na verdade ou, na melhor visualização, ele duvidaria. Me restava esperar mais, e já estava mesmo de saco cheio disso! Nenhuma novidade na história, tempos mornos. Resumo: Um tédio! O que mudou um pouco quando encontrei ela! Parada na porta do estúdio com as saias multicoloridas balançando com o vento.
- Minha menina...preciso lhe falar...
- Olha, a senhora vai me desculpar, mas não é uma boa hora para previsões
- Não são previsões. Fiz algumas descobertas, agora entendo a ligação que tenho com você!
- Ah! Não, senhora! Não me faça ser mal educada novamente!!
- Meu nome é Aliane, e o seu minha menina?
- Liz - "Senhor!! Era o que faltava!! Não me deixe perder a razão, não me deixe perder a razão..." Ela me tirou de meus pensamentos.
- Eu tive uma irmã e ela se perdeu com um gadge, foi banida...
- Hum...Dona Aliane, sinto muito, mas não tenho tempo de ouvir sua história - mas ela continuou
- O gadge não ficou com ela, ela odiava nossa família, menos a mim. Nos encontrávamos escondidas...
- Senhora, sinto muito mesmo! - Deus!!! Isso só acontece comigo??
- Ela ficou bem, mas morreu em um assalto na casa grande, talvez um castigo...
- Assalto? - Não! Não! Lembranças de um tempo que não queria lembrar, não! - É, pode ter sido castigo! Não conheço nada da cultura cigana.
- O nome dela, menina Liz, era Alice.
- Alice? - O que ela estava querendo dizer?? - O que quer dizer com isso?
- Alice trabalhava em uma casa grande, abastada que tinha uma menina...
- Não! Não! Apenas pare!!! Não pode ser a Alice!! Por isso você se aproximou de mim? Eu não tenho culpa de nada! Ela me protegeu, ela só me protegeu!!! - E sem aguentar, comecei a chorar.
- Não culpo você. Minha Alice te amou ela se preocupava com você. - Ela falou acariciando meus cabelos - Ela dividia coisas comigo.
- Você sempre soube quem eu era!!! Porquê só me diz isso agora?
- Não. Está errada. Eu disse que fiz descobertas. Tenho coisas escritas comigo e só depois de te ver pela última vez, senti uma vontade forte de abrir o envelope que ela deixou comigo...E lá tinha uma foto sua, ainda menina, sem essas marcas em sua pele, mas é você.
- C-como?
- Aqui está - e ela me entregou um envelope cheio do que pareciam cartas - Leia tudo. Eu vou aparecer por aqui novamente.
- Mas... - Ela se virou fazendo a saia farfalhar e caminhou para o outro lado da rua.
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Uma cigana leu o meu destino
RomanceQuando comecei essa história, não imaginava o quanto ia ser difícil! Contar uma história real, sem revelar fatos e acontecimentos que não poderia, tentar deixar minha grande incentivadora e amiga orgulhosa (Sim, a Liz existe e óbvio, não se chama Li...