As testemunhas do testamento de minha mãe chegaram naquele domingo e Joel os levou até minha casa. Marivaine e Jonas eram pessoas de sorriso fácil e olhos bondosos. Gostei de cara dos dois.
- Você é tão, tão parecida com Lúcia, menina, que parece que voltei ao passado!
- Tirando as marcas, né? Acho que minha mãe não gostaria de todas essas tatuagens.
- Algumas pessoas tem marcas que a vida dá por tombos, fraturas, acidentes... você tem suas marcas em forma de arte!
- Se anima a fazer uma, Marivaine? - Joel perguntou.
- Nessa velha aqui? Acho que vou me sentir meio ridícula! - Ela riu
- Minha pele vai envelhecer também, e não vou me sentir ridícula de forma alguma!
- Não me tente! Você é filha de Lucinha mesmo!!!
- É bom ouvir sobre minha mãe...
- É bom falar sobre ela! - Jonas, que até então só ouvia nossa conversa falou - Lembro de tantas coisas do nosso tempo...
- O senhor pode me contar algumas? Principalmente aquelas que envolvem meu sogro - Olhei para Joel ao falar "meu sogro" e ele sorriu.
- Ahh, posso! Se posso! Era lindo ver aqueles dois...
Eles começaram a me contar como era Lúcia e Joaquim, o casal 20 da época. O quanto eram queridos por todos, o quanto se divertiam juntos e se amavam além da medida. Jonas interrompeu Marivaine algumas vezes, pois acreditava que algumas coisas, o irmão contaria, eles não teriam esse direito, mas me disseram muitas coisas e a que mais me chamou a atenção foi uma sobre os ciganos que chegaram na cidade.
- Ciganos???
- Uma comunidade inteira!!! Naquela época eram tantas histórias que quando víamos um na rua, corríamos dele! Quanta bobagem!
- Mas que eles falam muitas verdades, eles falam!!! Lembra, Jonas?
- Qual é, Vaine! Eu era apaixonado por Maria, todo mundo sabia que íamos nos casar!
- Não estou falando disso! - ela baixou os olhos - Aquela jovem mulher cigana previu o que iria acontecer com a Lucinha e o Quim!
- Como é??? Me conta isso!!! - Meus olhos se arregalaram!
Marivaine contou que minha mãe se dava bem com todo mundo, não era daquelas riquinhas mimadas! Ela gostava de dançar, andar descalça e nadar no riacho. Quando a caravana chegou a cidade, fez amizade com muitos deles. Um dia, uns dois meses antes do casal se separar, o grupo de amigos estavam no parque da cidade, quando essa mulher cigana falou sobre Jonas e sua namorada e também sobre minha mãe e o senhor Joaquim.
- Ela chegou perto de Lucinha, olhou para ela, disse algumas palavras em uma língua diferente...
- Romani. - Eu disse
- ...algo assim, e depois, parecendo estar em transe, pegou a mão de Lucinha e disse: "Não acredite! Esse amor deve ser longo, mas não acredite para que ele seja!"
- E minha mãe? O que fez?
- Ela sorriu, agradeceu gentilmente, e começou a pensar sobre as palavras, mas Quim não acreditava, então acabaram não dando muita trela para a cigana...acho que ele se arrepende até hoje! Eu fiquei incafifada!
- Só você, Vaine!
- E o que aconteceu dois meses depois, Jonas??? Você se casou, tudo bem, vocês eram apaixonados, mas você podia imaginar que se casariam tão cedo?
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Uma cigana leu o meu destino
RomanceQuando comecei essa história, não imaginava o quanto ia ser difícil! Contar uma história real, sem revelar fatos e acontecimentos que não poderia, tentar deixar minha grande incentivadora e amiga orgulhosa (Sim, a Liz existe e óbvio, não se chama Li...