" Cheguei na casa que João arrumou para mim. É uma casa grande, de um figurão. Tem uma menininha muito bonitinha, que está indo para um internato. Gostaria de cuidar dela. Depois de perder meu Joãozinho, seria bom para mim. Não gosto do meu patrão, sinto que ele não é uma boa pessoa e acho que João só me trouxe para cá, para eu ficar perto dele. Acho que ele ainda me ama"
"Meu patrão, o senhor Marcos, pediu que eu desse uma faxina no quarto de sua falecida esposa e se encontrasse alguma coisa com o nome dele ou de sua filha tinha que mostrar imediatamente, e que o resto eu podia jogar fora. Me deu muito trabalho! Quando fui dormir todo o meu corpo doía e João ainda foi me acordar para o sexo. Ele disse que se eu encontrasse o que o patrão tinha pedido, tinha que dar a ele, que ele passaria ao seu patrão. Eu disse que não achei nada, ele saiu de cima de mim e eu agradeci aos céus, porque estava cansada, mas ele me deu um tapa na cara e me chamou de inútil"
" Agora o patrão quer que eu dê uma faxina na biblioteca de sua esposa falecida. E não posso ter ajuda! Ele disse a mesma coisa de quando eu faxinei o quarto. Se ele mandar eu fazer isso na casa toda, vou morrer de tanta dor nos quartos. Agora eu já limpei tudo e demorou dois dias. Não achei nada que ele pediu. Para dizer a verdade, achei um envelope com um desenho lindo que peguei para mim e dentro tinha uma carta para uma moça chamada Olga que era da D. Lúcia. Como não tinha visto a carta antes e como João já tinha visto o envelope com o desenho, fiquei com medo e guardei a carta."
Li muitas coisas sobre a vida de Alice dentro daquela que foi a minha casa. O quanto ela sofreu na mão do segurança do meu pai, que eu também não gostava e o quanto ela foi mudando e ficando mais forte a cada dia que passava. Suas palavras também serviam para que eu conhecesse o caráter do senhor Marcos, ele deixava apenas Alice naquela casa imensa, entendi porquê não tinha mais nenhum empregado na casa no dia do assalto. Ele sabia o que queria, e isso me frustrou ainda mais, pois odiei o juiz Joaquim por nada. Fui lendo todas as folhas, que estavam em ordem cronológica, até que cheguei a uma que me chamou ainda mais a atenção!
Ouvi o João e o senhor Marcos conversando, eles são mesmo do mal!! Eles sabem que a D. Lúcia tem bens em nome de sua filha, mas nunca encontraram, acho que eram esses papéis que li e não entendi muita coisa que estão procurando. Acho que vou precisar ler esta carta, mesmo não sendo minha. Alguma coisa está muito errada!. Não posso confiar na menina Liz, ela é rebelde demais. Não sei se ela confiaria em mim ou falaria para o seu pai. Nunca consegui achar a D. Olga!"
"Eu li a carta da D. Lúcia e agora não sei o que fazer! Não conheci a dona da casa, mas pela sua carta ela parecia ser uma mulher muito bondosa. Acho que ela não conseguiu alguém para entregar a carta a sua amiga e ainda bem que eu achei, porque vou tentar encontrar essa moça. Não posso dar para o João. Ainda não consigo entender porque o patrão dele me aceitou nesta casa, mas sei que os dois são iguais, um querendo se dar melhor que o outro. A carta diz que o patrão está fazendo muitas coisas erradas e que isso pode atingir a menina Liz, por isso ela não podia deixar a menina sozinha e deixou toda aquela papelada para essa amiga Olga."
- Que papelada Alice?? Tia Olga nunca me falou nada!
Pensei alto em meio a todas aquelas cartas já espalhadas pela cama. Cheguei na carta que datava de uma semana antes daquele assalto.
" Eles estão planejando algo muito ruim! Eu sinto! Eu e a menina estamos correndo perigo! Eles vão viajar hoje e ouvi o patrão dizendo que eles não estariam em casa, que os homens podiam fazer o que quisessem, mas tinham que achar a papelada! Eu já sei o que vou fazer! Preciso chamar Aliane aqui e depois, as habilidades de marcenaria que aprendi com tio Oscar escondido de meus pais tinham que me ajudar em alguma coisa. Quando os homens que eles falaram chegarem vou me esconder debaixo daquela escada com a menina Liz."
- Deus!!!!!! Meu Deus!!!!
Eu estava sufocando! Um filme passou em minha cabeça novamente! A escada que eu fiquei escondida com uma parede falsa, foi Alice que dez naquela semana! Pelo visto, sua irmã só pode aparecer no dia em que tudo aconteceu e Alice não teve chance de explicar! Liguei para Olavo e tia Olga e pedi que viessem para meu apartamento. Quando eles chegaram, contei tudo e mostrei as cartas de Alice.
- Cara! Então essa papelada está com a cigana?
- E a carta da minha amiga também! - tia Olga disse chorosa
- Preciso achar a Aliane!!! Mas onde?? Ela disse que voltaria, mas não sei quando!
- O que temos a fazer é esperar, Liz
- Esperar, esperar!! Não aguento mais esperar nessa vida!!!
- Calma, filha!
Uma semana! Uma semana se passou e nem sinal da cigana Aliane! Não é possível que esta mulher esteja brincando comigo!! Eu não conseguia pensar em outra coisa, não fiz nenhum trabalho direito e cancelei vários clientes, porque me sentia tão nervosa que tremia e Rubem achou por bem, pegar tudo para ele e não colocar o nome que conquistei tatuando no poço.
No domingo, depois de comprar um café e ir caminhar na praia, voltando pelo calçadão, ouvi a voz que tanto queria ouvir desde que lera as cartas!
- Menina, Liz?
- Ahh, graças a Deus!!!! Eu li as cartas da Alice!
- E o que diziam?
- Você não leu??
- Não, minha menina, eu fiz o que minha irmã pediu! Guardei, por anos, porque não sabia que eram suas...mas tudo tem um tempo nesse mundo.
- Você tem mais alguma coisa para me entregar! Uma carta para minha tia Olga e uma papelada que deve estar junto com essa carta.
- É isso mesmo. Amanhã te entregarei lá na porta do seu trabalho de marcas.
- No estúdio?
- Sim.
- Você não tem um telefone celular ou um fixo...
- Não costumo usar essas modernidades, minha menina!
- Certo. Vou te esperar amanhã então lá. Não é dia de trabalho, mas te aguardo...que horas?
- Assim que o sol se pôr.
- Obrigada, senhora Aliane... conheci muito sobre o meu pai pelos olhos de Alice. - Ela assentiu, e se virou para ir embora.
Fiquei receosa dela não aparecer como tínhamos combinado, mas ela estava lá para me dar mais dois envelopes. Agradeci e me afastei entrando na casa de Paulina e Rubem. Liguei para Olavo e tia Olga, eles precisavam estar comigo.
Quando já não conseguia me conter de tanta ansiedade, eles chegaram e fui logo entregando a carta e abrindo o outro envelope.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma cigana leu o meu destino
RomanceQuando comecei essa história, não imaginava o quanto ia ser difícil! Contar uma história real, sem revelar fatos e acontecimentos que não poderia, tentar deixar minha grande incentivadora e amiga orgulhosa (Sim, a Liz existe e óbvio, não se chama Li...