Capítulo 3

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Estava tatuando uma garota chata que se mexia o tempo todo e reclamava da dor quando Olavo entrou no estúdio:

- Me disseram que a melhor tatuadora trabalha aqui!
- Opa, calma aí, cara!!! O melhor aqui sou "yo"!!
- Cala a boca, Rubem! - revirei os olhos e levantei, ouvindo mais uma vez os chiados da garota, e fui abraçar Olavo. - O que te traz aqui?
- O que uma pessoa faz em um estúdio de tatuagem?
- Tia Olga sabe disso?
- Sabe, concordou e daqui a pouco estará aqui!
- Uau! Tô em choque!
- Li, eu passei!
- Parabéns, meu defensor!!!!- Falei já abraçando a pessoa que desde criança dizia que seria um advogado para me "defender das maldades do mundo".
- Eu te avisei! Sou desses caras!!!
- Pôooorra!!! Você cumpriu sua palavra!!!!!
- Ainda não! Preciso passar por anos de universidade, mas um dia sim, vou cumprir!
- Nunca duvidei de você!
- Eu sei!

A porta se abriu novamente e uma Olga muito esbaforida e cheia se sacolas com lanches entrou e foi logo perguntando:

- Já começou? O que perdi?
- Não, mãe, ela ainda está tatuando aquela moça.
- Tatuando não, né? Porque ela está aí e eu aqui morrendo de dor. - A chatinha reclamou mais uma vez.
- Calma, gata! Ela é a melhor e está te dando um tempinho para que pare de reclamar.
- Valeu, Olaf! - Fiz um Hi-5 com ele mas voltei para a cliente e continuei a conversa com Olavo e tia Olga. - Mas, me diz: Vai tatuar o quê?
- Que você acha? A justiça, mas... quero ela de olhos bem abertos e o seu rosto será o de D.Olga aqui!
- Já gostei! - Vi os olhos de tia Olga se encherem de lágrimas.
- Essa parte eu não sabia...Ah, filho!
- Mãe... sem lágrimas!
- Sou uma velha boba e sentimental e choro mesmo! Vocês, jovens, não sabem de nada!

Gargalhamos mesmo em meio as lágrimas sentimentais de tia Olga. Terminei com a cliente chatinha e comendo um dos lanches fui desenhando o que Olavo queria. O rosto deu bastante trabalho porque tanto eu quanto Olavo queríamos perfeição. Quatro horas depois, já tinha terminado e limpava o braço dele pensando em quanto aqueles dois são importantes para mim e o quanto aguentaram daquela Liz de antes.

- Ficou perfeita! - Olavo não queria parar de olhar sua tatuagem e tia Olga já estava chorando de novo.
- Eu sei!
- Convencida!
- Chato!

Nos abraçamos apertado, passei os cuidados para ele e a lista de alimentos que não podem ser ingeridos e me despedi de tia Olga que sussurrou um "Obrigada", ainda embargado. Amava demais aqueles dois. Quando entrei no estúdio para pegar minha bolsa, Rubem me olhava.

- Quê?
- Vai pra casa, Liz! Sei que tem muita coisa aí nessa mente! Sem cerveja hoje!
- Você me conhece! - Falei apontando o dedo em seu peito.

Cheguei em casa, joguei minhas tranqueiras de lado, tomei um banho demorado e depois de abrir um vinho, liguei minha música clássica baixinho. Essa rotina me relaxava, mas infelizmente não fez parar as lembranças de uma época que deixou muitas marcas... E alguns fatos nem eu mesma sei o final.
Após a morte do meu pai, fiquei literalmente na merda! E ele, burro(ou egoísta) que só, não fez nem um testamentozinho beneficiando sua única filha!! Euzinha menor de idade, sem objetivos e uma patricinha de araque não sabia nem como me defender.   Todos os bens do Sr Marcos foram bloqueados pela justiça.  Disseram á época que ele foi acusado de estelionato.  Fiquei com meu guarda roupa e nada mais e se não fosse por Tia Olga, talvez eu não estivesse mais nesse mundo.

Uma cigana leu o meu destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora