Capítulo 15 - Complicações - Parte II
Narrado por Edward Cullen
Isabella estava com os olhos arregalados, e as mãos sujas com o seu próprio sangue.
Apenas em ver seu doce e vermelho sangue escorrendo por suas mãos e sua nuca, já fazia meus piores instintos acordarem. Eu já sentia o monstro que há em mim, rugindo para matá-la, e tomar até a última pequena gota de sangue existente em seu corpo.
Mas eu não podia. Não podia matá-la. Não queria matá-la.
Eu estava muito mais do que testando meu autocontrole naquele momento.
Eu estava me pondo à prova. Me pondo à prova de que minha preocupação com ela, era maior que minha sede por seu sangue.
Poisl, nem Deus sabe como me senti em vê-la daquele jeito. Não há palavras para explicar o medo que senti em vê-la daquela maneira sem saber o que estava acontecendo. Sem conseguir ajudá-la.
-- Foi real. – Isabella murmurou, parecendo falar consigo mesmo.
Mas então ela fez algo que eu não esperava.
Se levantou com uma velocidade que eu julgaria que fosse impossível para alguém como ela, e correu para à porta. Essa ação me deixou tão surpreso que só me dei conta e fui segui-la quando ela já estava chegando ao fim do corredor.
-- Você é maluca? – perguntei, já ao seu lado, e a segurando pelo cotovelo.
Ela não respondeu, apenas pegou suas mãos e tentou em vão me empurrar. Mas, quando suas mãos ainda com seu sangue tocaram meu peito sobre a camisa, e eu senti que estava em contato com seu sangue - mesmo que houvesse um tecido entre nós - meu instinto gritou para matá-la. Mais forte que nunca.
Percebi meu maxilar travando, e fechei os olhos.
Já havia perdido às contas do tempo que estava sem respirar, mas mesmo assim seu cheiro parecia entrar pelas minhas entranhas. Parecia estar sendo absorvida por minha pele, me trazendo aquela queimação cada vez mais forte.
Antes que pudesse controlar, me vi respirando fundo, e trazendo junto seu doce cheiro. Minha garganta pareceu queimar mais, se é que isso era possível.
Eu precisava de seu sangue. Precisava mais do que tudo no momento. Precisava disso como um humano precisa de oxigênio. Era uma necessidade, como se eu fosse morrer se não tomasse aquele líquido precioso.
O cheiro me embriagava de um jeito que chegava a doer, como se eu tivesse quase morrendo sem ar, e de repente eu respirasse. Como se fosse a primeira respiração, aquela que te rasga a garganta, e arde os pulmões.
Senti meus poucos sentimentos humanos se esvaindo, e junto com eles toda, e qualquer, tipo de racionalidade e lucidez que ainda me restava.
Naquele exato momento eu era um monstro. Um predador. E estava doido para abater minha presa.
Abri os olhos calmamente e encarei a figura assustada do meu jantar.
A menina parecia apática, parada, petrificada; apenas me encarando de olhos arregalados. E como toda presa prestes a ser abatida, ela sabia reconhecer o perigo.
E eu era o perigo.
Percebi a garota tentando se afastar, mas era tarde demais. Muito tarde.
Segurei seus braços com apenas uma mão e com a outra trouxe seu corpo para mais perto do meu, enquanto puxava seus cabelos para o lado, e encostava meu nariz em sua jugular. O cheiro ali parecia mais intenso, mais suculento.
Senti a garota tentando se debater em meus braços, mas era inútil, quase como se fosse uma formiga pisando na pata de um elefante. O elefante nem iria sentir. Como eu também não.
Armei meus dentes, e os rocei em sua pele doce, preparando território.
Era agora.
-- Ed-war-d n-não.
A voz da garota veio fraca e soluçada, e junto com ela, uma lembrança. Uma lembrança antiga, preservada em mim durante mais de um século, pela culpa.
E então o monstro rosnou dentro de mim, e junto com ele outro também rosnou. E eu percebi que esse outro, era minha racionalidade que havia voltado.
E a minha presa, já não era mais uma garota qualquer. Era Isabella.
O que eu estava fazendo?
Eu não queria, não podia, não devia matá-la.
Me separei abruptamente de Isabella, e virei de costas trancando a respiração.
-- Vá até a cozinha, e cuide de seu ferimento. – falei baixo, enquanto fechava meus punhos para não pular em cima dela.
Mas Isabella continuava atrás de mim, respirando fortemente, enquanto seu coração estava disparado.
-- AGORA! – gritei, tendo certeza que mais um minuto perto de seu coração pulsante, seria um minuto a menos para ela viver.
E então ouvi os passos vacilantes dela, e logo depois os passos, se tornaram mais rápidos, e distantes.
Quando não ouvia mais seu coração acelerado, ou seus passos apressados, voltei a respirar.
O monstro dentro de mim rosnou alto quando sentiu que ela já estava distante, e que não havia mais seu cheiro forte no ar.
Senti uma raiva imensa me dominar - enquanto batia os punhos com força na parede, formando um buraco no local - por três motivos completamente diversos:
Primeiro, porque mais uma vez eu havia deixado o melhor sangue sair andando.
Segundo, porque agora ficava apenas a queimação cruciante e a vontade insaciável.
E Terceiro, porque mais uma vez eu quase matei a mulher que mais amo. Mais uma vez quase matei minha vida.
Não faço idéia de quanto tempo fiquei batendo na parede, apenas que quando percebi que já estava pronto para vê-la novamente, a parede já estava cheia de buracos, e levemente inclinada para frente.
Respirei o ar puro novamente, e me virei descendo as escadas.
Cheguei perto da cozinha e estranhei a falta de barulhos, a falta das batidas de seu coração, ou até mesmo a falta de sua respiração descompassada. Nada. Não havia barulho nenhum.
Voltei a respirar, e não havia seu cheiro ali. Não precisei entrar para saber que ela não havia nem passado perto dali.
Rosnei alto, e virei as costas correndo para fora.
Senti seu cheiro por todo saguão e pela porta. Continuei seguindo seu cheiro até o portão aberto. Ela havia fugido.
Corri pela floresta, tentando seguir seu cheiro. que começava a ficar fraco por causa da chuva que começava a ficar forte, mas foi só quando estava começando a ficar sem seu cheiro para seguir que, então, percebi um cheiro diferente. Um cheiro que não agradava tanto quanto o de humanos. Um cheiro animal.
Parei de correr e olhei para o chão procurando pelas pegadas de Isabella na terra molhada. Nada. Não havia o mínimo vestígio de que ela havia passado por ali com as próprias pernas.
Porém, perto de uma grande árvore, quase sento apagada pela chuva, havia uma marca na terra. A marca de uma ferradura.
Isabella estava à cavalo.
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A Bella e a Fera
Romance"Por detrás dessa máscara de gelo, existe um coração de fogo."(Paulo Coelho) Ela com a Igualdade Ele com as Diferenças Ela com as Qualidades Ele com os Defeitos Ela com o Amor Ele com o Ódio Ela com o Perdão Ele com a Vingança Ela como a Heroína Ele...