Minha consciência dizia-me que eu havia ficado louca. Mas esse simples raciocínio era o suficiente para eu saber que ainda não havia chegado nesse estagio. Eu estava em contradição, eu estava confusa. A conformidade veio logo após o desespero. Não tinha idéia do que estava acontecendo, e não havia ninguém ao meu redor para explicar aquele terror.
Eu havia experimentado a consciência da cegueira, fui abatida pelo medo de nunca mais poder enxergar aquilo que eu amava, meus pais, meus amigos. As paisagens do inverno seguida da primavera. Poder assistir um filme enquanto vislumbrava o sorriso de Kristina. Minha visão neste momento, causaria pena. Se alguém estivesse me observando, veria uma Ophelia fragilizada pelo medo e angustia, mas por de trás daquele corpo de expressão horrorizada, pele flacida demarcadas pelas linhas de ossos, eu ainda estava viva.
Eu estava sozinha. E eu era cativa. Estava amarrada a uma cama sem poder fugir ou me esconder, estava a mercê dos monstros que me circundavam e tentavam me enlouquecer. Aquelas criaturas pareciam conhecer meus medos, e pareciam rir em meio aos sons horrorosos de dor e agonia que emitiam entre os lábios descarnados.
Temia que minha sanidade seria tomada. Em determinados momentos delirava, minha consciência se dispersava conforme meu corpo se aproximava juntando-se a companhia imunda e pútrida daquelas criaturas. Eu sentia que esperavam por mim, que me queriam. Mas eu me agarrava a cama que me prendia.
Os únicos momentos de conforto e paz eram quando eu sonhava. Eu tentava manter meus olhos fechados para voltar aos sonhos, ou ao menos para evitar de encarar as criaturas. Mas isso era impossível, eu sentia os olhares. Isso causava agonia. E foi logo depois de acordar de um dos meus sonhos que minha estadia naquele lugar mudou.
Meus olhos abriram arrancando-me das lembranças do ultimo festival da universidade. Em meio a um corredor escuro, eu estava flutuando, ele era formado por paredes de cujas rachaduras parecia escorrer lodo que inundava o chão. Havia o som dos passos daquilo que me levava ao tocarem a agua suja, mas não podia vê-lo. Foi neste instante que eu me joguei, caindo com o rosto em direção ao cheiro de esgoto, minha visão embaçou enquanto sentia meu nariz sangrar. Algo envolveu meu braço tentando me puxar, mas nesse momento minha mão tinha alcançado uma bandeja que estava sobre uma amurada de pedra, eu ataquei o que estava a minha frente com o primeiro objeto que minha mão conseguiu pegar.
Pude vislumbrar um liquido emergir em meio ao ar. Como se o próprio corredor houvesse começado a sangrar. O ser invisível a minha frente tentou me puxar novamente, a força já não era a mesma, no entanto com medo eu ataquei, varias e varias vezes. O liquido vermelho jorrou em meio ao ar do corredor, respingando em suas paredes e em meu rosto. Eu me virei para o outro lado e comecei a correr.
Corria em direção ao fundo daquele corredor onde conseguia ver entre as persianas das janelas, um pouco de raios de luz. Não contei quantos passos consegui dar correndo, mas antes que pudesse alcança-las, eu senti meu corpo se esmagar, como se tivesse me jogado contra uma parede. O choque me colocou para dormir no mesmo instante.Diversas vezes senti minha consciência voltando, presa numa vertigem eu via um mundo escuro e retorcido, e enquanto meu corpo era carregado vislumbrei ele atravessar paredes como se as mesmas não existissem. Mas os momentos eram breves e logo sumiam para dar lugar a inconsciência mais uma vez.
A luz da aurora banhou meu corpo e meu rosto, e conforme meus olhos se acostumavam a toda a luz fui percebendo onde havia ido parar. Uma sombra sobrevoou minha cabeça indo em direção a resplandecente saída, desviando de dentes pontiagudos que se projetavam do teto da caverna. Eu estava sentada e escorada numa pedra, sentia o sopro de vento empurrar levemente meu corpo em direção ao precipício que estava a minha frente. Num primeiro momento tudo pareceu inacreditavelmente belo. Mas quando meus ouvidos captaram um som horrendo que sobressaia ao vento que assoviava em minha orelha, toda a beleza sumiu. Eu rastejei para a beirada da pedra íngreme, e coloquei meu rosto sobre o abismo para encarar o que havia no interior dele.
Eu não conseguiria descrever a sensação de olhar para aquela imagem. A repulsa da cena foi dominada pelo medo instintivo de cair no interior de seu hediondo movimento. Aquele rio de vermes negros triturando com seus dentes corpos de criaturas tão horrendas quanto as mesmas, parecia convidar aqueles que observavam seu curso a pularem em seu leito, e desfrutar de uma morte dolorosa. O som agudo de cada criatura criava uma monção sonora de desespero e terror. Até onde iria aquela depravação da vida, eu não conseguiria dizer, mas temi pelo oceano que comportava a foz de tão cruéis aguas.
Com os braços envoltos e cruzados sobre minha cintura eu recuei até a pedra, e ali me encolhi. Chorei de medo ate soluçar. Até cansar e adormecer.
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Az' Vardum
Horror"Se é tudo sonho. Me acorde agora. Se é real. Apenas mate-me" - X Japan. Um avião que havia decolado de Berlim sofre um acidente na costa oeste do continente americano, dando origem a uma sequência de eventos estranhos e assustadores que se espalham...