Capítulo 8 - Mundo

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No começo pensaram que todo o caso estava reduzido à área de contenção onde o avião havia caído e alguns outros pontos isolados ao redor do planeta. Ivanov ainda lidava com a enxurrada de cagadas na cabeça que estava recebendo de seus superiores pela falta de explicações. Mas então houve o acidente com um jovem de classe média alta, cujo corpo quase não pode ser identificado devido a possessão sofrida pelas "criaturas de outro mundo" pela qual Ivanov escutava os comentários. Ivanov ainda lembrava o nome do rapaz e daquela noite.

— Senhor. Precisamos que o senhor venha até a região dos vales imediatamente — dissera pelo telefone a subintendente que cuidava das investigações a respeito daqueles acontecimentos que até então ainda permaneciam ocultos da sociedade — estarei repassando o endereço por mensagem no seu celular.
Ivanov não teve tempo de insulta-la pôr o ter acordado pela quinta noite seguida. Ele chegou até o local rapidamente, ainda que quase tenha ele próprio causado um acidente em duas situações.
— Então? — perguntou ele se dirigindo a sua intendente — O que era tão urgente?
— O senhor precisa vê-lo. — respondeu a moça conduzindo Ivanov até um carro que estava batido numa arvore — Não conseguimos tomar uma decisão.
De longe o coronel já percebeu a estranheza do acidente, havia sido uma pancada fraca contra a arvore, nada que fosse suficiente para matar qualquer pessoa que houvesse lá dentro. E estava certo, porque ao se aproximar do carro ele já escutou os murmúrios da vítima.
Ou do que restara dela.
— Meu deus — espantou-se Ivanov ao perceber o rapaz dentro do carro ainda preso pelo cinto de segurança — Ele ainda está vivo?
— Por-aaa- favor, me ajuduuum Ahhhhh me ajudem — o garoto gritava implorando por socorro.
— Ele tem um nome? — perguntou Ivanov.
— Neilan, senhor.
— Neilan? — chamou o coronel se aproximando do carro para observar melhor a carcaça que era o corpo do rapaz — Fique calmo, nós iremos te ajudar.
O corpo de Neilan estava perfurando em diversos lugares, onde brotos de algum fungo haviam germinado e começado um processo parasitário do rapaz, seus braços ao que apreciam estavam imóveis e ao olhar mais de perto, Ivanov entendeu porque, eles haviam se fundido ao corpo dele.
— Você lembra, o que aconteceu antes disso? — tentou perguntar Ivanov em meios aos gemidos e gritos do rapaz — Algo te atacou?
— Ah, meu deus! por favor, me ajudem! Me matem!
— Você ingeriu algo? — Ivanov continuou o interrogatório até se cansar e se erguer para a intendente.
Enquanto caminhava em silencio para longe do carro onde o jovem implorava por ajuda, sua intendente se aproximou dele.
— Então senhor, o que faremos com ele?
— Peça para que a equipe especializada leve ele para estudos, ache algum corpo de um indigente e o use no lugar, ateie fogo no carro. Crie um cenário para a família.

E esse foi apenas o início do pandemônio que se instaurou nas semanas seguintes. Acreditavam que as anormalidades estavam contidas apesar de em diversos pontos esparsos pessoas relatarem ataques e mortes causadas por criaturas de outro mundo. Mas a três dias atrás o caos tomou conta da cidade inteira, quando "a macula" (codinome dado a área da queda do avião onde uma arvore de frutos apodrecidos germinava constantemente criaturas pequeninas e asquerosas que eram destruídas pelo cerco feito em volta da mesma) conseguiu escapar. Simplesmente aconteceu, como se portais houvessem sido abertos pela cidade, criaturas surgiram em diversos pontos da cidade atacando, profanando e transformando pessoas. Só descobriram quando era tarde, que a arvore havia levado suas raízes para distancias inconcebíveis. Assim que descobriram as evidencias tentaram destruir a arvore de todos os jeitos, mas não obtiveram sucesso com as armas convencionais. Tiros, fogos e bombas foram ineficazes contra o poder de regeneração que o monstro possuía.
E no momento atual Ivanov acompanhava do quartel montado próximo a arvore as notícias chegando ao redor do planeta. A cacofonia de vozes e telefones irritava o coronel, pois a cada minuto surgia um infeliz jogando mais merda no ventilador num lugar que estava fedendo a falhas e problemas.
— México, senhor, estão pedindo ajuda para deter as criaturas — praticamente gritou supervisor se virando para ele enquanto segurava quem quer fosse no outro lado da linha.
Ivanov apenas balançou a cabeça, não para responder ao supervisor mas para o novo foco vermelho piscando no mapa eletrônico que ficava a vista de todos.
— Informações da China, senhor! — veio um informante correndo com papeis agitando na mão para se fazer visto — Uma enorme raiz gigantesca de natureza desconhecida acabou de surgir no meio da cidade proibida.
Ivanov engoliu em seco.
— Não é possível que seja...
— Tememos que sim senhor... pelas fotos que foram postadas publicamente nas redes ela se assemelha igual à que apareceu no México, que por seguinte é igual à macula...
O coronel ia começar a falar mas então suas palavras se perderam. Oito novos pontos apareceram sequencialmente no mapa: Brasil, África, Argentina, Alemanha, Canada, Bélgica, Itália e o mais assustador, o continente que parecia estar ileso daquele terror, Austrália.
Ivanov se virou para o homem ao seu lado esperando novas informações.
— Senhor, são raízes... Bras...
— Sim sim sim!! — interrompeu Ivanov balançando a cabeça — Vamos, soe a evacuação, vamos sair daqui e continuar com a plano erradicação.
O informante empalideceu e congelou.
— Vamos! E outra coisa, peguem aquela garota do 'sanatório', a sobrevivente, precisamos saber o que acontece com ela.

Az' VardumOnde histórias criam vida. Descubra agora