Capítulo 24

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Observo a televisão, mas a minha mente não está atenta ao que está a passar. Não consigo estar atenta a nada. Coloco a cabeça para trás e fico a observar o teto, como se fosse bem mais interessante que a série.

— Está tudo bem?
— Sim, porquê?
— Estás bué distante. No que é que estás a pensar?
— Nada.
— Se não queres dizer tudo bem, mas não digas que não é nada.
— Está bem. - faço uma pequena pausa para suspirar - Não, não estou bem, mas não quero falar sobre isso.
— Tudo bem. Que me dizes de irmos ao cinema para te distraires?
— Podemos ir.
— Podemos ou queres mesmo ir? Se preferires aqui ficar ou até ficar sozinha, diz.
— Acho que prefiro aqui ficar, mas ficas aqui comigo?
— Sim, claro que fico.
— Não me apetece ir para o shopping, para o meio da confusão só para irmos ao cinema ver um filme.
— Tudo bem, vemos um filme numa outra altura.
— Sim, claro, mas sou eu que escolho o filme.
— Nem penses, não quero ver mais romances.
— Não são romances, são comédias românticas. Sabes bem que não gosto de filmes que me façam chorar, mas sim de rir.
— Mas eu não tenho direito a escolher um filme? Só um?
— Quando formos ao cinema porque tu não estás bem, aí escolhes tu. Agora quem escolhe sou eu.
— E quando formos sem ser por algum de nós estar triste?
— Escolho eu, como é óbvio.
— Não. Podemos fazer pedra, papel, tesoura.
— Por mim tudo bem. Vá, agora vamos ver a série que eu estou a gostar.
— Aham. - responde com um tom de ironia.

Pouso a cabeça no seu ombro e ficamos a ver televisão durante algum tempo.
A campainha ecoa pelo apartamento, aí dou conta que o dia escureceu, ou seja, já é de noite. Vou abrir a porta do prédio, podendo saber logo que se tratava da Dya, que decide aparecer sem avisar. Espero um pouco e abro a porta assim que vejo o elevador abrir.

— O que é que fazes aqui?
— Vim visitar-te, não posso?
— Claro que podes, mas devias de ter avisado.
— Porquê? Sempre fiz isto e tu igual. O que é que mudou?
— Não estou sozinha e não gostas da companhia.
— Já percebi, estás com o Afonso. Então e o André?
— Não sei, e sinceramente, também não quero saber.
— Vou fazer de conta que acredito. Eu não me importo de estar com o Afonso. O que aconteceu entre nós já foi há 4 anos, já passou. Ainda por cima partilhamos amizade contigo, acho que podemos e devemos fazer o esforço para nos dar-mos bem, por ti.
— Sim, concordo, mas não sei se ele concorda.
— Falamos com ele.
— Está bem.

Deixo-a entrar em casa e fecho a porta, indo depois ter com eles à sala, onde estão calados a olhar para a televisão, por isso, decido ser eu a quebrar o silêncio.

— Afonso?
— Sim.
— Quero apresentar-te a Andreia, a minha melhor amiga. Dya, este é o Afonso, o meu melhor amigo.

Eles olham para mim com cara de caso, mas entenderam a minha ideia, pois cumprimentaram-se de seguida.

— Olá.
— Olá.
— É um bom começo. Vá, agora senta-te aqui connosco a ver um filme.
— Eu se calhar vou embora, ainda não me sinto totalmente confortável. - diz baixando o rosto.
— Deixa-te estar aqui. Ainda agora chegaste, eu já aqui estou há bastante tempo, vou eu para casa.
— Obrigada Afonso.

Ele beija a minha testa e sai, de forma a deixar-nos sozinhas.

— Para quem disse "falamos com ele"... - digo, fazendo o sinal das aspas.
— Foi uma forma de falar. Sabes muito bem que à primeira não é fácil. Com o tempo habituamo-nos, agora ainda é cedo.
— Eu sei, estou a meter-me contigo. Aliás, estou muito contente com a tua iniciativa de vocês se darem bem. Obrigada, Dya. - abraço-a fortemente.
— Não agradeças, sei que farias o mesmo por mim.
— Sim, tens razão. - ambas nos rimos.
— Vá, agora conta-me o que é que se passou.
— Do que é que estás a falar?
— Tu e o André estavam a ir tão bem. O que é que se passou?
— Resumindo em poucas palavras, ele lembrou-se que o irmão gosta de mim e decidiu que não podíamos tentar, porque o meu futuro é ao lado do Afonso.
— Desculpa, mas isso parece uma desculpa patética. Eu sei, prefiro ver-te com o André, mas ele está a ser otário.
— É não é?
— De todo. Chegaste a contar ao Afonso o que se passou entre ti e o irmão?
— Não...
— Então? Porque é que não o fizeste?
— Porque sei que vou magoa-lo e eu estou realmente empenhada em vir a ter uma relação com ele. O André tem razão, o meu futuro é ao lado do Afonso, só pode.
— Já pensaste que pode ser ao lado de outro homem que não eles os dois?
— Não, nunca tinha pensado nisso dessa maneira.
— Pois, bem me parecia.
— Vá, vamos mudar de assunto.
— Claro, a ti não te agrada nada.
— E não. Conta lá, alguma crush neste momento que eu não conheça?
— Não.
— Estás a gozar?
— Não, não estou.
— O que é que se passa contigo Andreia? Tens fome?
— Não se passa nada, e até que trincava algo.
— Então é isso?
— O quê?
— Eu sempre ouvi dizer "tu não és tu quando tens fome", por isso pensei que pudesse ser fome.
Good one! - rimos.
— Mas vá, vai lá comer alguma coisa à cozinha.
— Não, deixa tar. Eu estava a brincar.
— Tu não brincas com comida, por isso não acredito.
— Não, a sério.
— Não me digas que estás tímida, até parece que não me conheces o suficiente para mexeres na minha cozinha e preparares alguma coisa para comer.
— Ok chata, já lá vou.
— Acho bem que sim, porque eu não te vou preparar nada.
— Tudo bem, então eu não te vou dizer onde vou começar a trabalhar para a semana, nem meter uma cunha para ti.
— Bem, o que te vale é que arranjas emprego facilmente.
— Sim, verdade.
— Mas vá, diz lá onde é que vais trabalhar.
— Não, tu és má.
— Não dizes, não comes.
— Isso é chantagem, não vale.
— Temos pena.
— Ok! Eu digo.
— Va moça, desembucha.
— Nem sei por onde começar.
— Talvez pelo início.
— Bem, estás a ver que fui despedida... Pronto aí eu fui procurar mais empregos. Encontrei uma clínica que estava a precisar de uma secretária, por isso candidatei-me.
— Clínica de quê?
— Psicólogos.

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora