Capítulo 10

624 58 36
                                    

— O que será isto?
— Não sei. Isto não é normal. Eu vou ver o que se passa. Não saias daqui.
— Está bem.

Eu não iria sair daqui, nem que ele me dissesse para o fazer. No máximo escondia-me de baixo da cama. Sei lá o que é que pode estar a acontecer dentro daquelas quatro paredes.
Muitas opções vagueiam pela minha mente, mas não quero dar atenção a nenhuma delas. Não quero pensar no que não devo. E se o Afonso demora a voltar? Aí entro em pânico.
Paro o filme e consigo ouvir o barulho parar pouco depois do Afonso sair do quarto, ao mesmo tempo que ouço um berro agudo e esganiçado. Mas o que é que se estará a passar?
Afonso entra no quarto, fecha a porta e senta-se a meu lado sem dizer nada, fixado no ecrã do seu computador.

— Então? Afonso? O que é que se passou?
— Eu ainda estou chocado.
— Como assim chocado?

Ouço-o inspirar e expirar profundamente, duas ou três vezes. Ele quer deixar-me assustada? Se não, parece.

— Afonso? O que é que era aquele barulho? Estás a deixar-me assustada. Podes dizer I que é que se passou?
— Era a cama do André a bater na parede.
— Como assim a cama do teu irmão a bater na parede? Não, espera...
— Sim. Eu apanhei o meu irmão na cama com uma gaja.

O meu cérebro congelou, o meu coração congelou, toda eu congelei. Até a minha boca ficou seca só de imaginar o cenário. Porque é que fico assim? Porque é que estas coisas mexem comigo? Eu não quero saber do André para nada. Ele é um cabrão que só quer dar comigo em doida. Tanto diz que quer voltar a beijar-me como está na cama com uma gaja qualquer. O que é que ele quer de mim?

— Estás bem? - pergunto ao Afonso que ainda não tirou os olhos do computador.
— Sim. Vamos continuar a ver o filme.
— Claro.

Coloco o filme a dar de novo. Ele encostou as suas costas nas costas da cama e eu coloquei a minha cabeça no seu colo. Pouco depois, sinto as suas mãos a massajarem os meus cabelos, fazendo-me adormecer.
Acordo e vejo o Afonso a dormir ao meu lado. Parece um anjo a dormir, apesar de se estar a babar. Sorrio ao vê-lo assim e aconchego-me a ele por estar a ficar com frio. Com isso, ele acorda e sorri ao ver que o estava a observar.

— Então? Dormiste bem?
— Sim. Desculpa por te ter acordado.
— Não faz mal. Estás com frio?
— Um pouco.

Observo-o enquanto se descalça. Sorrio ao vê-lo descalçar me um pouco atrapalhado e deitamo-nos por baixo dos lençóis.

— Está melhor assim?
— Um pouco.

Ele puxa-me para perto de si, rodeando o meu corpo com o seu braço direito. Deixo a minha cabeça pousar no seu ombro e coloco a minha mão sobre o seu peito. Fecho os olhos por me sentir a ficar quente, mas já não consigo adormecer.

— Não te cheguei a perguntar o que é que te disseram os teus pais por eu ter ido embora tão rapidamente.
— Só perguntaram o que se tinha passado e eu disse que foi uma emergência, que tiveste que voltar para casa.
— Obrigada.
— Não agradeças. Eu não ia dizer que a culpa era do André. Até porque eles não iam acreditar.
— Porquê?
— Eles pensam que o André é perfeito e que não faz nada de errado. Talvez um dia, eles mudem essa forma de pensar, mas não quero estragar isso agora. Ele nem vai cá ficar muito tempo, por isso não me vou chatear com ele.
— Concordo, ele não vale a pena o esforço.
— Sim, penso que sim. E eu?
— Mais do que ele, sim. Com toda a certeza.

Sorrio e deixo-me ficar assim enquanto observo os seus olhos, idênticos aos do irmão, mas que transmitem outros sentimentos. Um olhar puro, que me faz sentir segura.
Batem à porta, interrompendo o nosso momento e noto que o Afonso fica frustrado com isso. Afasto-me dele, enquanto ele responde.

— Sim?

A porta abre e vejo uma figura alta e musculada entrar no quarto. Bloqueio durante segundos ao notar que se encontra apenas de boxers e tapo-me depois de cruzar o meu olhar com o dele.

— Não sabia que também estavas ocupado. Falamos depois.
— Não, diz. O que é que foi?
— Prefiro falar só contigo quando estiveres sozinho.
— Como queiras.

Ouço a porta do quarto bater e assunto-me com o barulho. Destapo-me e olho para o Afonso que está a olhar fixamente para o teto do quarto.
Até parece que o André adivinha quando deve de interromper. Apesar de que o Afonso, ainda hoje, lhe interrompeu a sua "queca". Não é que tenha alguma coisa a ver, porque não tem.

— O que é que estás a pensar?

Pergunto, depois de algum tempo a observá-lo. O seu olhar cruza-se com o meu e a sua mão pousa no meu rosto, enquanto se aproxima mais de mim.

— Sempre que estou próximo de te beijar, alguém interrompe o momento. Começo a achar que não o devo de fazer.

Sorrio e baixo o rosto, fico envergonhada com a sua declaração. Coloca a sua mão no meu queixo fazendo com que eu olhe de novo para ele.

— Achas que não devo de o fazer?

Fico a observar todo o seu rosto por alguns segundos sem saber o que responder. Ele também não diz nada. Aproximo-me dele e colo os meus lábios nos dele, sentindo-me desesperada em conhecer o sabor da sua boca. A princípio, notei que ficou chocado com o meu gesto, mas rapidamente me puxou mais para si e retribuiu o beijo, deixando-me sem fôlego.
Talvez fosse este beijo que precisava para esquecer o André. Esquecer o nosso beijo, esquecer que ele me esqueceu, esquecer que esteve a metros de mim a foder outra gaja, esquecer que esteve apenas de boxers mesmo à minha frente. Talvez.

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora