Capítulo 04

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Se soubesse o que se ia passar, tinha feito de uma maneira tão diferente. Só que eu não tinha como saber, ninguém tinha.

— Sou eu sim. Nunca pensei que fosses o Afonso!
— Vocês conhecem-se?
— Acho que já deu para ver. - ouço a voz do amigo do Afonso pela primeira vez.
— Nem acredito que foi este otário que foste convidar para jantar connosco esta noite.
— Que eu me lembre, a otária foste tu.
— Eu fui uma vítima no que se passou e tu nem me deste oportunidade de te explicar ou provar que estavas errado.
— Eu vi o que tinha a ver.
— Pessoal! O que é que se está aqui a passar? Ou o que é que se passou?
— Lembraste de eu te contar do que me fizeram no secundário que fez com que o meu namorado, na altura, se virasse contra mim?
— Sim. De montagens espalhadas pela escola de conversas com outro rapaz e Photoshop de fotos tuas com esse rapaz.
— Pois bem, eu namorava com o Afonso.
— O quê?
— Nem sei como é que consegui namorar contigo. Foste trair-me com o meu maior rival. Zara, vão vocês jantar que eu já perdi a fome só de olhar para a maior desilusão da minha vida. Depois diz-me alguma coisa.
— Está bem...

Fiquei boqueaberta e sem saber o que dizer. Eles saem do carro e eu fico apenas com as mãos agarradas ao volante. Olho para a Dya e vejo que ela está a chorar, por isso puxo-a para mim e abraço-a da melhor forma que consigo.

— Ele disse que foste a maior desilusão da vida dele, aquilo magoou-o bastante. E pelos vistos tu também não estás bem. Dizias que aquilo já passou e que já não te afeta, mas pelos vistos afeta. É por isso que não consegues arranjar mais ninguém, não é?
— Eu pensava que já não me afetava, mas pelos vistos sim. Não é que eu ainda goste dele, porque não é isso. É porque toda a gente se virou contra mim naquela altura. Eu fui chamada de puta por toda a escola. A minha melhor amiga virou-me as costas por gostar do rapaz das fotos.
— Mas há algum motivo que os faça pensar que é verdade?
— Na altura, eu andava a tentar fazer com que ele olhasse para a Rita, a minha melhor amiga. Por isso fui vista com ele, mas não era porque gostava dele. Sei que ele começou a atirar-se a mim e eu dei-lhe para trás, ele não deve de ter gostado e por isso é que me fez aquilo.
— Mas descobriste que foi ele?
— Ele era o único que podia desmentir tudo e não desmentiu. Só pode ter sido ele.
— Sim, ou pelo menos aproveitou-se da situação para se vingar de o teres afastado.
— Também pode ser.
— Como é que conseguiste as provas de que era tudo mentira?
— Alguém viu que foi injusto o que me aconteceu, recebi as fotos originais minhas e as dele por e-mail, tal como prints dele a falar com outra rapariga que não era eu, a ter a mesma conversa. Mas essa edição está perfeita, por isso não se vê que é falso.
— Ainda tens tudo em casa? Poderei mostrar ao Afonso, pelo menos para ficares com a tua imagem limpa perante ele, e quem sabe se não ficam amigos?
— Não quero. Ele conhecia-me muito bem e não acreditou em mim, porque não quis. Preferiu acreditar em provas falsas em vez de me deixar mostrar as verdadeiras. Agora já é tarde.
— Tudo bem. Tu é que sabes.
— Vá, vamos jantar que estou cheia de fome. E depois vamos sair um pouco!

Não estava nada à espera desta revelação. Depois de dizer que era giro que eles viessem a namorar, descobrir que eles já namoraram é bem estranho. Pelo que vejo, a história deles ainda não está resolvida. Ainda há muito por falar, apesar de já não gostarem um do outro.
Vou até ao balcão e peço um safari laranja para mim e uma vodka redbull para a Dya. Enquanto espero que me sirvam, olho para o local onde deixei a Dya e ela está a falar com um homem de camisa branca. Bem, parece que está entretida, não deve de querer que vá ter com ela e estragar tudo. Agarro no telemóvel pela primeira vez na noite e vejo que tenho mensagens do Afonso.

"Peço desculpa pelo que aconteceu, e por ter desistido do jantar, não esperava encontrá-la contigo."

Fico a olhar o telemóvel e a pensar numa resposta para lhe dar. Dou um gole no meu safari e respondo.

"Não tens culpa. Ninguém tem. Nenhum de nós podia adivinhar isto."

Vejo alguém vir na minha direção e ao ver que era a Dya, sorrio e entrego-lhe a bebida.

— Então? Pensei que fosses ter comigo. Como estavas a demorar vir ver de ti.
— Vi que estavas entretida com alguém e não me quis meter.
— Não estava entretida, estava a falar com o irmão do Afonso.
— Ele está cá?
— Sim, eu acabei de falar com ele.
— Mas o Afonso disse que ele estava para Itália.
— Sim, ele disse que voltou hoje, mas que ainda não foi a casa.
— Ah ok. E então, ele é giro?
— Se é! Mas não me vou voltar a meter com aquela família. E acho que te devias de afastar do Afonso.
— Isso são ciúmes?
— Nada disso. Não quero é que saias magoada como eu saí.
— Eu não vou deixar de me dar com ele. Sabes bem que é um grande amigo, apesar de ainda não nos conhecermos realmente bem.
— Também sei que ele gosta de ti e que tu não gostas dele. Tens que lhe mostrar isso e não lhe dar falsas esperanças. Conclusão, hoje temos que engatar.
— Nem penses. Sabes bem como sou. Estou aqui contigo para me divertir, não é para me meter a comer um qualquer. Para além de que ainda não estou solteira assim à tanto tempo. Deixa-me gozar a minha vida de solteira.
— Eu não disse para arranjares namorado.
— Mas não quero homens nenhuns agora.
— E se for mulher?
— Tas a gozar, certo?
— Por acaso não, quem sabe se não te sentes atraída por alguma mulher aqui?
— Sei eu, e sei que não estou.
— Ok, ok. Sendo assim vamos dançar.
— Se quiseres ir para o engate vai.
— Ainda é cedo. Agora vamos dançar!

Levantei-me cedo para ir trabalhar, ou seja, estou de rastos, por isso não me aguento muito tempo a dançar. A Dya começa a dançar com um rapaz e eu afasto-me.
Vou até ao balcão e vejo o rapaz da outra noite, que ainda não sabia de quem se tratava. Ele apróxima-se sem tirar os olhos de mim.

— Hoje já estás de bom humor?

A minha pele arrepia ao cheirar o seu perfume de novo e ao senti-lo tão perto de mim enquanto fala ao meu ouvido.

— Agora que apareceste? Nem por isso.
— Ei! Não precisas de ser tão má.
— Não te metesses comigo.
— Não tenho culpa que sejas bonita e que me atraias bastante. Porque é que te encontro sempre sozinha?
— Não tens nada a ver com isso.
— Estou apenas preocupado. Tal como eu meti contigo, muitos outros nojentos o podem fazer.
— Outros nojentos como tu?
— Podes parar? Eu aqui preocupado contigo e tu só me sabes responder torto.
— Se te calares, eu paro.
— Tivemos um mau começo. Podemos começar de novo? Quero conhecer-te. Achas que não mereço uma oportunidade?
— Sinceramente?
— Sim.
— Não me parece.
— Tudo bem, não insisto mais.
— Mas eu dou.
— O que é que te fez mudar de ideias?
— Saber que toda a gente merece uma segunda oportunidade.
— Parece-me bem. Então... Posso saber o teu nome?
— Zara e o teu?
— André.

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora