Capítulo 53

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— O que é que queres?
— Não precisas de responder assim.
— Queres que responda como, depois do que tu fizeste?
— O que é que eu fiz?
— Ainda tens a lata de o perguntar?
— Talvez pergunte, porque eu não fiz nada de mal.
— Olha André como queiras. Quando descobrires o que fizeste avisa.
— Foi de ter ido sair e não dizer nada?
— Achas que foi só isso? André, eu tirei o dia para estar algum tempo contigo e tu decidiste estar sei lá com quem. Fizeste o que quiseste, agora não te queixes de eu fazer o que quero.
— O que é que queres dizer com isso? Zara, vem ter comigo. Eu vou embora daqui a meia hora. Vais mesmo querer amuar por causa disto?
— Só podes estar a gozar comigo. Achas que é assim que vamos chegar a ter uma relação? Esquecer as asneiras que são feitas e nem haver pedidos de desculpas?
— É isso que queres? Eu peço desculpa, aliás, penso que já o tinha feito. Sei que devia de ter ido ter contigo, mas o pessoal quis sair e é o que costumamos fazer quando vou embora. Eu não quero ir sabendo que não estamos bem.
— Tinhas avisado e tínhamos estado juntos à tarde.
— O mal está feito e não há nada que faça o tempo voltar atrás para poder fazer as coisas bem.
— Pois não, não há nada. Mas sabes onde vivo e onde trabalho. Podias ter vindo ter comigo antes de ires para o aeroporto.
— Onde é que estás?
— Onde é que achas que eu estou? A esta hora é óbvio que estou no trabalho. - ouço bater à porta - Agora tenho que desligar, tenho pacientes à minha espera. Boa viagem.

Desligo a chamada, sem querer ouvir a sua resposta. Sei que não namoramos, mas visto que estamos a tentar construir uma relação, devíamos de falar mais um com o outro e ele não fala comigo, não me diz nada. Assim não chegamos a lado nenhum. Ou ele muda, ou então acaba tudo o que quer que exista.

— Posso?
— Sim, entra.
— Está ali um homem que diz querer falar contigo a todo o custo. Já lhe disse que estás no teu local de trabalho, mas ele insiste que tem que falar contigo.
— Ele disse quem é?
— Não, nem faço ideia de quem seja.
— Então deixa estar que eu trato disso.

Saio do escritório e entro na sala de espera, podendo ver pela primeira vez, o homem que tanto quer falar comigo.

— Bom dia. Quem é o senhor? Porque é que quer falar comigo?
— Bom dia só se for para si. Miguel Monteiro, passei a noite na cadeia e a culpa é sua.
— A culpa é minha desde quando?
— Desde que decidiu meter macaquinhos na cabeça da minha filha, sabendo muito bem que ela é doente.
— Não tivesse feito o que lhe fez. A culpa é unicamente sua e não dela ou minha.
— Você não sabe de nada.
— Pois parece que você sabe tudo.
— E sei. Conheço a minha filha como a palma da minha mão e sei bem que consegue manipular as pessoas, mas pensei que não conseguisse fazê-lo consigo.
— A Dana a manipular pessoas?
— Sim. Sempre conseguiu o que quis de toda a gente e eu esperava que conseguisse mudar isso, mas não. Bastou afirmar que eu lhe bato e que a violo, para acreditar nela e ficar contra mim. - noto que respira fundo para continuar a falar - Muito provavelmente ainda fez um choradinho para despertar as suas emoções. A Dana é doente. Tenho que a internar numa clínica só que não tenho posses para isso. Não pode acreditar em nada do que ela diz. Aliás, como vê, já me soltaram por ser inocente.
— Não acredito em si. A Dana não ia inventar isso, aliás, porque haveria de o fazer?
— Isso não sei. Eu penso que ela acredita no que diz, mas não é verdade. Aliás, os testes feitos comprovam isso, até que ela ainda é virgem. Por isso, a culpa é sua porque lhe deu a ideia de eu lhe andar a bater e a violar.
— É ela que lhe diz o que eu digo?
— Não, eu ouvi. Tenho acesso ao telemóvel dela e consigo ouvir as suas conversas para tentar entender a minha filha, só que eu não entendo. Preciso que me ajudem, mas ninguém me ajuda.
— Porque é que ela se queixa quando lhe toco?
— Deixe-me adivinhar. Tocou-lhe nos pulsos?
— Sim.
— A Dana auto mutila-se. Descobri há pouco tempo, graças à escuta que coloquei no seu telemóvel. Faça o seguinte, na próxima consulta veja realmente os seus pulsos. Sei que não acredita em mim, por isso, veja por si mesma. Deixe de acreditar em tudo o que ela diz.
— Irei investigar o que o senhor me está a dizer.
— Por favor ajude-me a tratar a minha filhota, eu faço tudo por ela. Não quero que ela tenha o mesmo destino que a mãe. - ele responde de lágrimas nos olhos.
— Pode contar-me a sua versão do que aconteceu no dia em que a sua esposa faleceu?
— Eu saí para ir comprar tabaco e deixei as duas em casa a dormir. Quando cheguei já estava tudo em chamas e a minha filha com os bombeiros. Mais tarde vim a saber que tinham colocado óleo ao lume para fritarem algo para comer e o deixaram incendiar. A minha filha saiu assim que viu a casa em chamas e a minha esposa ficou lá presa, sem ter como escapar.
— Ou seja, a única pessoa que pode contar o que realmente se passou é a Diana.
— Exatamente. Só que ela, na altura ficou em choque e não dizia nada. Ou seja, até hoje, eu não sei o que se passou.
— Nem a policia sabe?
— Não.
— Pois bem, vou tentar resolver tudo isto. Agradeço por ter vindo falar comigo.
— Só peço que ajude a minha Diana.
— Eu vou ajudá-la, isso pode ter a certeza.
— Muito obrigado.

O homem sai da clínica e fico a observar a porta durante algum tempo, até a Dya chamar por mim.

— Acorda moça.
— Desculpa.
— O que é que se passa?
— Ouviste o mesmo que eu, não ouviste?
— Sim. Estás entregue a um caso muito complicado.
— Se o que ele diz é verdade, então talvez eu não seja uma boa psicóloga, por me deixar levar pelo que ela diz e não conseguir ver que ela está a manipular-me.
— Nem penses. Tu és uma excelente profissional. Estás no começo e é normal que cometas alguns erros, mas é com eles que vais aprender realmente e te tornarás ainda melhor do que já és.

Aproximo-me da loira e abraço-a, agradecendo-lhe pelas palavras dela que me consolaram.
Volto para o meu consultório e fico a apontar tudo o que o pai da Dana me disse. Pouco depois, batem de novo à porta.

— Sim?
— Posso?

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora