Capítulo 38

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— Como é que tu foste capaz?
— Eu sei, foi o pior erro da minha vida e pior que isso, não tenho como emendar, como voltar atrás. Eu vou esclarecer tudo com o Afonso, isto não pode continuar assim, mas com o André, acho que estraguei tudo. A mínima hipótese que tenho agora, vai por água a baixo assim que ele souber disto.
— Eu vou-me embora. Não sei o que te dizer, não estava nada à espera disto, e não quero dizer nada que me venha a arrepender.
— Não, por favor. Diz-me o que tens a dizer, eu mereço.
— Talvez eu deseje matar-te neste momento pelo que fizeste, por isso é melhor eu ir embora.
— Porquê?
— Ainda não deste conta que eu ainda gosto do Afonso? Pensei que já tivesses percebido, só pelo facto de dizer que ele não é homem para ti e andar a ajudar-te com o André.
— Então era de ti que o André se referia.
— Como assim?
— Era por isso que ele dizia que ainda ias voltar a ser cunhada dele e que havia quem gostasse do Afonso, mas que eu estava no caminho. Porque é que não disseste nada?
— Eu não queria voltar a sentir o mesmo, mas foi mais forte que eu. É melhor eu ir embora.

Vejo-a sair, de novo sem conseguir dizer-lhe seja o que for por ainda me encontrar em choque com o are acabei de descobrir. Como é que eu não cheguei a essa conclusão? Era tão óbvio. Eu sou uma merda, completamente.

O tempo vai passando e ultimamente decidi ignorar as mensagens e chamadas do Afonso, eu não quero vê-lo à frente. Estou demasiado envergonhada e um pouco chateada com ele por não me ter parado, sabendo que eu estava bêbeda.
Já comecei a trabalhar na clínica, mas ainda não consegui muitos clientes por ser nova lá, mas a primeira que tive, marcou-me muito, não só por ser a primeira, mas também pela a sua história.

— Olá Dana, eu sou a Zara Mendes e estou para te ouvir. Como é que gostavas de começar?
— Gostava que me dissesse porque é que me quer ajudar. Não entendo. Não me conhece de lado nenhum.
— Podes tratar-me por tu, que eu não me importo, até porque não sou muito mais velha que tu.
— Então eu reformulo, gostava que me dissesses porque é que me queres ajudar. Não entendo. Não me conheces de lado nenhum.
— É a minha função aqui, é para isso que aqui estou, para ajudar os outros.
— Ou será para lhes caçar o dinheiro? Comigo não vais longe.
— Não é nada disso Dana. - respiro fundo - Aliás, como sabes eu nem aceito dinheiro na primeira consulta, por isso peço que não comeces com julgamentos, porque não é isso que eu vou fazer contigo. Só quero entender o porquê do teu comportamento na escola, estes últimos 3 meses.
— Mas não vais saber, ninguém sabe.
— Podes confiar em mim, eu não vou contar a ninguém. Estou aqui para desabares comigo, se preferires podes ver-me como uma amiga que está aqui apenas para te ajudei, mas sei que há pessoas que preferem desabafar com estranhos.
— Não é o meu caso. Não te conheço para te tratar como amiga.
— Com o tempo vais-me conhecendo e eu vou-te conhecendo a ti.
— Isso quer dizer que posso fazer-te perguntas enquanto me fazes a mim?
— Se responderes às minhas, por mim tudo bem.
— Está bem.
— Posso fazer-te umas perguntas?
— Sim, mas eu também irei fazer.
— Está bem, Dana. Houve algum acidente que tenha ocorrido, e que te tenha feito mudar o teu comportamento?
— Sim. Os teus pais ainda estão vivos?
— Sim, estão. Esse acidente aconteceu há quanto tempo?
— Três meses. Eles estão juntos?
— Quem?
— Os teus pais.
— Sim. Podes dizer o que é que mudou?
— Mudou tudo. Ainda vives com eles?
— Não. Podes ser mais específica?
— Mudou tudo, não há como ser mais especifica. Quando lá vivias, alguma vez os viste foder?
— Não. - respondo um pouco em choque com a pergunta. - Mas do que mudou, o que é que teve mais significado para ti?
— Eu achava que estava tudo bem depois do incêndio, apesar de a minha mãe ter morrido, mas não. Ele odeia-me! Eu só quero a minha mãe de volta!

A rapariga descontrola-se um pouco, mostrando estar revoltada com algo, que me parece que vai além da morte da sua mãe, num incêndio na sua antiga casa, à coisa de meio ano.
Aproximo-me dela e abraço-a, sempre ouvi dizer que tenho os melhores abraços do mundo, por isso tenho que os partilhar com quem mais precisa deles. Ela sossegou e eu não consegui fazer-lhe mais perguntas, deixei-a ir embora.

Chego a casa, pouco depois das sete da tarde, preparo o jantar e como sozinha, tentando concentrar-me no caso da minha primeira paciente, mas a minha mente vagueia entre muita coisa. A sua pergunta em relação aos meus pais foi demasiado pessoal, mas fui honesta com ela. Nunca tinha pensado nisso, aliás, há uns anos atrás eu diria que os meus pais nunca o fizeram, mas sei que sim, se não eu não estaria aqui. Por outro lado, o Afonso também persiste em seguir-me nos pensamentos pelo que se passou entre nós. As coisas que a Dya me disse e o facto de o André não me querer ver à frente corroi-me.
Ouço a campainha tocar e vou abrir as portas, ficando à porta à espera para saber de quem se trata. O elevador abre, e sai de lá o Afonso, que mostra não estar bem, de todo.

— Zara, fogo finalmente! Porque é que não me tens dito nada?
— Porque estou chateada contigo.
— Porquê?
— Porquê pergunto eu. Porque é que não me impediste?
— Era impossível, eu tentei, mas tu estavas demasiado teimosa, e eu não sou uma pedra, eu excito-me quando me põem a mão dentro das calças.
— Sim, tens razão. Desculpa.
— Eu preciso que me expliques o que é que se passa. O André não me fala, só me ignora desde aquela noite.
— Entra.

Dou-lhe espaço para entrar e fecho a porta depois de respirar fundo. Vou ter com ele à sala e sento-me a seu lado, no sofá.

— Queres tomar alguma coisa?
— Não Zara, quero que me digas o que é que se passa. Se sabes de alguma coisa, preciso que me digas.
— Eu não te quero magoar Afonso.
— Prefiro saber das coisas do que não me magoar.
— Tudo bem, mas eu prefiro contar-te quando as coisas estiverem todas resolvidas. Eu prometo que depois disso sabes de tudo e vou falar com o André, pois não faz sentido nenhum ele estar chateado contigo quando devia estar chateado comigo.

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora