Capítulo 55 | Bónus VIII

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— Vamos onde hoje? - pergunta o Hugo. 
— Vamos ao sitio de sempre, isso nem se discute. - diz o Afonso.
— Eu tenho que ir ter com a Zara, eu ainda não estive com ela hoje.
— Tens estado sempre com ela! Já nos substituis-te? - reclama o Zé.
— Eu fico mais uma hora, depois vou ter com ela.
— Claro! - responde o Zé.

A quantidade de shots que bebemos, começa a fazer efeito e apenas andar torna-se uma tarefa difícil de completar corretamente.
Acordo com o som do despertador do meu telemóvel. Parece que já está na hora de preparar tudo e ir apanhar o avião. Credo, que dor de cabeça. Porque é que eu insisto em sair sempre, antes de ir para Itália? Era preferível ter ficado em casa com... a Zara! Ai meu deus, não lhe disse nada.

"Onde estás?"

"Vou dormir, até amanhã."

Ela vai matar-me por não ter respondido às chamadas ou até mesmo por não responder apenas às mensagens. O que é que eu fui fazer?
Ligo uma vez, não atende. Ligo de novo, não atende.

"Desculpa, não vi a mensagem. Fui sair com o pessoal e não me lembrei de te dizer nada. Vou apanhar o voo às 11h, vens comigo? Beijo"

Tomo um duche rápido, visto algo confortável para a viagem e vou tomar o pequeno almoço.

— Então filho, pronto para regressar a Itália?
— Nem por isso.
— Então, o que se passa? Tu estás sempre bem disposto por voltar para lá. Passa-se algo de grave? O que é?
— Não é nada mãe.
— Não vale a pena dizeres-me isso, André. És meu filho, conheço-te melhor que ninguém.
— Eu sei mãe, mas não vale a pena ficares preocupada. Eu vou resolver isto antes de voltar para Itália.
— Não vais ter tempo, vais ter que resolver isso depois.
— Não posso mãe. Não me quero vir a arrepender depois.
— Estou a ver que é algo realmente importante. Tem a ver com alguma rapariga?
— Mãe...
— Tudo bem, não insisto.

"Estou a trabalhar, não dá. Até um dia."

Por impulso, dou um murro na mesa, o que faz com que a minha mãe olhe para mim assustada.

— Desculpa mãe, estou irritado.
— Não estejas assim, vais ver que tudo se vai resolver. A Zara é uma ótima mulher, sei que ela viu em ti o que nunca ninguém viu e gosta de ti como nunca ninguém gostou, - para além de mim, claro - por isso não te preocupes.

Observo a minha mãe que sai da cozinha como se não tivesse dito nada de mais. Como é que ela sabe? Agora acredito quando dizem que as mães sabem e descobrem tudo.
Termino de comer e volto para o quarto, para poder ligar à Zara com mais privacidade.

— O que é que queres?
— Não precisas de responder assim.
— Queres que responda como, depois do que tu fizeste?
— O que é que eu fiz?
— Ainda tens a lata de o perguntar?
— Talvez pergunte, porque eu não fiz nada de mal.
— Olha André como queiras. Quando descobrires o que fizeste avisa.
— Foi de ter ido sair e não dizer nada?
— Achas que foi só isso? André, eu tirei o dia para estar algum tempo contigo e tu decidiste estar sei lá com quem. Fizeste o que quiseste, agora não te queixes de eu fazer o que quero.
— O que é que queres dizer com isso? Zara, vem ter comigo. Eu vou embora daqui a meia hora. Vais mesmo querer amuar por causa disto?
— Só podes estar a gozar comigo. Achas que é assim que vamos chegar a ter uma relação? Esquecer as asneiras que são feitas e nem haver pedidos de desculpas?
— É isso que queres? Eu peço desculpa, aliás, penso que já o tinha feito. Sei que devia de ter ido ter contigo, mas o pessoal quis sair e é o que costumamos fazer quando vou embora. Eu não quero ir sabendo que não estamos bem.
— Tinhas avisado e tínhamos estado juntos à tarde.
— O mal está feito e não há nada que faça o tempo voltar atrás para poder fazer as coisas bem.
— Pois não, não há nada. Mas sabes onde vivo e onde trabalho. Podias ter vindo ter comigo antes de ires para o aeroporto.
— Onde é que estás?
— Onde é que achas que eu estou? A esta hora é óbvio que estou no trabalho. - ouço bater à porta - Agora tenho que desligar, tenho pacientes à minha espera. Boa viagem.

Tudo bem, eu mereço. Não devia de ter feito o que fiz, mas agora não posso voltar atrás. Só há uma solução, compensa-la pelo que fiz e penso que está mais que óbvio que não volto para Itália hoje.
Saio do quarto e volto para a sala, onde está o meu pai a olhar para mim, mais a minha mãe.

— Então rapaz? Onde é que tens o saco? - pergunta o meu pai.
— Que saco?
— Já vi que estás no mundo da lua. Então não tens o voo para apanhar para Itália?
— Ah sim. Quer dizer tenho, mas não vou.
— Então, o que é que se passa?
— Tenho um problema para resolver primeiro.
— Mas a tua carreira está em primeiro lugar. O que é que é mais importante?
— Pai, não vale a pena insistires. Eu vou ficar até ficar tudo bem. Não vou embora enquanto não resolver isto.
— Achava que te tinha ensinado a lutar pelos objetivos, mas pelos vistos estou enganado. Deves de andar distraído com alguma miúda que te anda a pôr na lua de novo, tal como a outra fez. Aliás, não andas de novo com ela, pois não?
— Não ando com ela, nem nunca mais vou andar. E sim, estou a fazer o que me ensinaste e lutar pelos meus objetivos. Neste momento a minha carreira é importante, sim, mas há coisas mais importantes que isso. A família é uma delas e eu não me vou embora, sabendo que a mulher da minha vida está chateada comigo e com toda a razão.
— Mulher da tua vida? - pergunta o meu irmão, assim que entra na sala.

Between Brothers [ Concluída ]Onde histórias criam vida. Descubra agora