Puxo uma mecha para trás enquanto encaro meu reflexo no espelho. Eu o devia ter lavado ontem, passado um secador ou qualquer coisa que o fizesse estar melhor hoje, mas eu não fiz. Pego a escova e começo a penteá-lo desembaraçando os fios. No reflexo do espelho vejo uma figura masculina encostado em frente a porta enquanto me encara. Paro de pentear e sorrio assim que me viro ficando de frente para meu pai.
― Tudo bem, pai? ― pergunto. Ele se desencosta do portal da porta e sorri em seguida.
― Tudo sim ― responde. ― Só vim ver como você estava, mas já irei trabalhar.
― Estou bem. Bom trabalho, pai. Cuida-se.
Ele ri e aponta para mim.
― Eu que deveria estar dizendo isso, não roube o meu prazer de ser pai. ― Sorri e ando até ele e o abraço, depositando um beijo em seu rosto.
Viro-me novamente para frente do espelho, ando para perto e volto a pentear meu cabelo, pego todas as mechas e as juntos enquanto o amarro em um rabo de cavalo. Meus olhos grudam no espelho enquanto vejo minha própria imagem, mas não era eu. Pelo menos não como estou agora. Está chorando sentada no chão desse mesmo quarto, as lágrimas dos olhos caem em cima de seu pulso esquerdo por cima do sangue.
Sangue?
A lamina na mão direita mostra exatamente o que ela estava fazendo. Com um movimento lento novamente a lamina é passada no pulso enquanto perfurava entre as veias. Sua mão se mantinha fechada enquanto o sangue escorria.
― Por que me deixou? ― pergunta. ― Eu te amei tanto ― gritou e perfurou mais a pele enquanto gritava. Talvez estivesse gritando de dor, mas por que não parava? ― Eu te amo tanto ― sussurrou e abaixou a cabeça a encostando em seus joelhos que se mantinham levantados. ― Eu te amo tanto, pai ― repetiu.
Pai?
Olho para trás e começo a correr para fora do quarto, assim que consigo passar o corredor grito atrás dele. Ele não estava mais ali.
Meu olhar rodeou o quarto escuro só iluminado pela luz do sol que vinha da janela passando pela brecha da cortina, fechei os olhos enquanto tentava me acalmar. O choro estava preso em minha garganta e não me parecia que ia demorar muito para eu me render. Mais uma vez eu tive a mesma lembrança em forma de pesadelo. Mais uma vez eu tive que o ver me abandonando. Aperto os olhos e as lágrimas caem sobre minhas bochechas. Hoje faz dois anos que ele se foi e não voltou e cada dia fica mais difícil suportar.
A porta do meu quarto é aberta lentamente, levanto meu olhar e vejo minha mãe a abrindo. Passo o dorso da mão para limpar as lágrimas e tento impedir que mais lagrimas caiam, mas é em vão. Eu não queria que ela me visse chorando, eu não queria a deixar triste, mas agora está sendo inevitável, assim como foi quando ela me viu se cortando no dia do meu aniversário. Com sua mão acendeu a luz, e me encarou.
― E-eu... ― ela disse com a voz falhando um pouco e abaixou a cabeça. Me sento na cama e puxo a coberta para cima de mim enquanto a aperto e mais lágrimas caem. Eu sei que ela não tem culpa, pelo menos não de ele ter nos deixado, e sei que ela também sofreu com isso, e sofre até hoje.
Ela abre mais a porta e se aproxima de minha cama com uma caixa sobre as mãos, provavelmente vazia já que ela nem se quer fazia algum esforço para a segurar.
― Sabe que eu e o William estamos tendo algo sério não sabe? ― perguntou, e em seguida ficou me encarando a espera de uma resposta que não chegou. ― Eu sei que você sabe ― disse e se sentou na beirada de minha cama, aos meus pés. Colocando a caixa sobre a mesma. ― Eu vou me casar com ele, e iremos morar em Londres, Inglaterra. Você já foi lá, até me disse que gostou, não é mesmo?
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[Pulsos]
Teen FictionEssa história não é para ser lida, só vivendo você vai entender. E se um dia seu pai saísse para trabalhar e nunca mais voltasse? Sem dar tchau, sem um adeus, sem um sinto muito? Isso aconteceu com Amanda Swain Carter, uma garota americana que foi a...