[Pulsos]

Onze

Passaram-se dois meses desde que ocorreu o enterro de Anne, eu não saia de casa, eu não parava de chorar e raramente eu comia. Era eu e minhas músicas, eu e as mensagens que ela me enviava, eu e as lembranças ... e eu contra a saudade que a cada dia me torturava mais. Hoje não será diferente, vou continuar aqui no meu quarto, sem o que fazer... não consigo sair lá fora e encarar o que fiz. Meu celular começa a tocar era o Boby, ele me ligava todo dia e sempre fazia a mesma pergunta "você está bem?" e eu sempre respondia que "não" e hoje realmente não seria diferente. Tudo bem, pode ser que sim... depois da conversa minha com a Megan ontem, algo mudou. Fui expulsa da aula de Literatura, por faltar muito e apesar de Megan sempre trazer os trabalhos eu nunca conseguia fazer um texto inteiro e acabava por não fazer. Ah, e ela me deu a ótima notícia que estou de recuperação em Matemática, e se eu continuar assim vou reprovar. Odeio essa professora. Todos os outros aceitaram meus trabalhos mandados pela Megan, mas ela não. Oh não.

― Oi ― digo com a voz meio baixa, eu estava com sérios problemas na garganta, por tanto chorar, doía só de falar.

― Ei. Está bem? ― pergunta meio empolgado... não sei como ele ainda tem tanta empolgação comigo.

― Preciso mesmo responder? ― pergunto.

― Claro!

― Oh. Então... tirando o fato que minha melhor amiga se matou, e estou dois meses sem sair de um quarto, e meu pai está morto, é estou ótima ― ironizo e ele fica em silencio.

― Hoje foi ao colégio?

― Devia ter ido?

― Devia.

― Desculpe. Você esqueceu de me informar isso.

― Tem que ir, Mand ― disse calmo.

― Se for para começar a dizer que eu tenho a vida toda pela frente, não foi sua culpa, ela quer te ver feliz, ela gostaria que você fosse... pode ir parando.
― Eu até diria essas coisas repetidamente o dia todo... porque é a verdade. Mas vim te dar uma boa notícia. ― Fico em silêncio, mas ele insiste. ― Mas como não quer saber que te inscrevi no campeonato principal de corrida de rua, tudo bem. Tchau Mand... continue assim.

― Ei. O que disse?

― Tchau? ― ele disse provocando.

― A outra coisa Boby ...

― Ah, te inscrevi no campeonato principal. ― Fico em silêncio, apesar de eu sempre querer participar de um campeonato de corrida de rua assim, eu não sei se estou disposta a sair daqui e voltar a viver minha vida. ― Mand, não faz isso com você mesma, acha que vai aguentar quanto tempo mais antes de enlouquecer?

― Tenho medo.

― Eu sei que tem. Mas você tem que enfrenta-los. ― Fico em silêncio novamente sem saber o que dizer. ― Não insisto mais.

― Não faz isso. Não desista de mim.

― Não aguento mais ver você destruir sua vida e fingir que está tudo bem. E você que desistiu de si mesma...