Já faz cinco dias que Megan contou sobre sua vida. Confesso que me sinto uma repleta idiota, nunca parei para pensar nos outros, sempre em mim.
Nesses dias ela continuava sorrindo como se nada tivesse acontecido, mas em nenhum momento falou comigo. Nos primeiros dias até insisti muito, mas depois percebi que o melhor era me afastar, e que na verdade nunca nem se quer devíamos ter dito um "a" uma para a outra.
More Than This tocava no meu celular no volume alto, e pela primeira vez não estou chorando a ouvindo, até que esses dias estou me sentindo melhor, e não choro assim só de lembrar do meu pai, mesmo que ainda doa, mesmo que não seja fácil ser abandonada pela pessoa que a gente mais amou e mais confiou no mundo.
Desliguei a música e me levantei, me arrumando para ir a aula, desci, sentando-me a mesa.
― Bom dia ― disse minha mãe e eu concordo com a cabeça, Megan não disse nada, terminou seu café, se levantou, pegou sua mochila e saiu, ela nunca mais me esperou para irmos para a aula, o que deixou minha mãe intrigada.
― O que vocês têm? Reparei que ela nunca mais te esperou e não vi vocês se falando.
― Não é nada ― minto. Esse e o tipo de mentira que eu mesma queria que fosse verdade, por mais que eu ache que estamos melhor assim, não estamos melhor assim. Eu já me apeguei a ela, e a ver sem poder falar com ela, não é algo que eu ache bom, ainda mais sabendo que a culpada disso tudo foi eu e que por um momento eu a deixei triste, logo a pessoa que mais tentou me entender.
― O que você fez com ela?
As mãos de minha mãe fazia com que a faca deslizasse pelo pão o cortando.
― Por que tudo tem que ser eu? ― perguntei.
― Por que eu te conheço muito bem.
― Conhece?
― Conheço, sempre estive com você ― respondeu confiante. Levantei-me da cadeira, pegando minha mochila.
― Reveja suas palavras, mamãe ― digo sarcástica.
― Eu não estive? Nunca deixei te faltar nada. Trabalhei, me esforcei para te dar um futuro. Te deixei faltar algo? ― perguntou e percebi o tom de magoado em sua voz.
― Você ainda tem dúvidas sobre isso? ― perguntei. ― Olhe para mim.
― O que não te dei, Amanda?
― O que eu mais precisava ― respondi. ― Amor. ― Seu olhar se concentrou em mim mais do que nunca. ― Sabe o que é isso? É aquela coisa que geralmente as mães dão para as filhas. Eu sei que você sabe o que é, já me deu um dia, ou eu pelo menos achei que havia me dado, não é mesmo?
Desviei o olhar do dela e sai para fora, enquanto deixava que as lágrimas que estavam presas finalmente escorressem. Eu queria ficar lá, e ouvir suas desculpas, talvez ela tivesse uma boa desculpa para explicar a ausência na minha vida nesses últimos anos, mas preferi fugir, assim como sempre fiz.
Comecei andar para o colégio em passos rápidos, enquanto tentava parar de chorar, e parar de pensar no quanto tudo era uma droga, pelo menos por uns minutos, enquanto via as pessoas nas ruas, e tentava imaginar a vida delas, talvez elas tivessem uma vida bem melhor que a minha.
Vou para a sala, já atrasada e me sento no meu lugar de costume, a aula era de ética, fizemos um texto sobre Paz Mundial, foi muito interessante. Enquanto terminava de guardar meu material uma garota aparentemente "normal" chamou meu nome... mas o que definiria normal? Hum... Talvez alguém que nem é tão nerd e nem tão burra, nem tanto popular, mas não sozinha, alguém que não seja patricinha, mas também que não seja gótica. Se isso define, sim, ela é "normal". Seu cabelo era bem preto e estava solto, indo até a sua cintura, seus olhos eram um castanho cativante. Ela sempre está sentada no outro lado da sala, conversando com o que acho ser seus amigos, não é alguém que passe despercebida facilmente, e nesse momento ela estava na minha frente e eu não sabia a mínima ideia do por quê.
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[Pulsos]
Roman pour AdolescentsEssa história não é para ser lida, só vivendo você vai entender. E se um dia seu pai saísse para trabalhar e nunca mais voltasse? Sem dar tchau, sem um adeus, sem um sinto muito? Isso aconteceu com Amanda Swain Carter, uma garota americana que foi a...