Doze

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É exatamente um sábado, que de acordo com a previsão da "garota do tempo" estará chovendo em poucas horas. Amanhã é o dia da minha audiência, onde provavelmente os pais e a querida Liviane vão querer me pôr em um sanatório. Estou em baixo de um chuveiro que derruba uma agua quente sobre meu corpo, enquanto penso no que a professora de Matemática disse.

"Será que eles vão acreditar nisso?" ... eu pensei muito e muito até chegar à conclusão que meu cérebro não funciona sobre pressão. E também que eles provavelmente não vão acreditar nisso e eu provavelmente serei considerada uma louca. Saio do banheiro e coloco uma roupa que consideramos para os dias mais frios.

Pego minha mochila e desço pela escada e olho para a minha mãe, seu olhar estava pesado e eu sabia que era por que a audiência está chegando. Ainda não entendo o porquê de tudo isso ... nos jornais passa direto notícias sobre brigas colegiais e nenhum dos envolvidos eram considerados loucos. Por que logo eu?

― Acha que estou louca? ― pergunto parada no fim da escada olhando para minha mãe que está espremendo laranjas.

― Não ― disse e percebo que ela estava tentando dar um sorriso, o que saiu mais forçado do que os meus quando perguntam se estou bem.

― Então não precisa ficar assim ― digo.

― Eu sei, Mand ― disse e olhou para mim parando de cortar a laranja. ― O problema é que isso torna as pessoas loucas.

― Eu não estou e nem vou ficar louca ― digo e ela balança a cabeça em sinal de "sim" ... mais possivelmente um "compreendo". Saio de casa, e vou para o colégio e para a mesma sala dos professores. Entro e vejo que a professora estava corrigindo algumas provas. Fico observando ela, até que ela tira os olhos dos papeis e olha fixo pra mim.

― Chegou cedo. ― Ela deu um sorriso. Sentei a sua frente tirando o caderno e a lapiseira junto com a caneta da mochila. A professora olhou pra mim novamente e depois guardou as provas em uma pasta.

― Vou te explicar um assunto novo. ― Ela foi até um quadro e começou a escrever e explicar algo que não conseguia prestar atenção. Eu estava com medo. E as palavras não saiam da minha cabeça nunca. "Por que só você tem uma versão diferente?", "Será que eles vão acreditar nisso".

― Acho que você não está em posição de escolher se quer ou não prestar atenção na aula ― disse e percebo que ela está me encarando.

― É que, sobre o que me disse ontem... ― Dei uma pequena pausa. ― Acho que não vão acreditar naquilo.

― Eu sei que não ― disse e se senta na cadeira a minha frente.

― O que devo fazer? ― pergunto antes mesmo de ter tempo de ela pronunciar algo. Eu não parecia desesperada ao me verem, mas eu estava, muito mais do que eu achei estar.

― Você tem duas opções, a primeira continue falando que a Liviane disse aquelas coisas e por isso bateu nela, sem nenhuma prova e a segunda, você concorda com eles e disse que pode ter uma possibilidade de ter entendido ela errado. Porém as duas tem consequências.

― E quais são?

― A primeira, eles vão achar que você está totalmente louca e vão te mandar para um sanatório ou eles vão fazer você ficar louca e acabar não acreditando no que realmente seu consciente disse ser verdade e vai acabar em um sanatório do mesmo jeito.

― Então a segunda é a melhor ― digo a interrompendo, mesmo nem ter deixado ela falar qual era a segunda, parecia impossível ser uma opção pior que a primeira.

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