[7] no parents

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- Anne! - escuto o meu nome sendo chamado e me viro para trás para procurar quem a chamou e observo Gilbert Blythe vindo em minha direção, então apenas marco a página do livro em que eu parei e espero ele se aproximar.

- ahm... pois não? - pergunto com cara e tédio quando ele já está perto o bastante para conseguir me escutar.

- bem, desculpa atrapalhar a sua leitura, mas - ele toma um pouco de fôlego e por uns dois segundos parece que esqueceu o que iria dizer.

- mas... ? - o incentivo a continuar e ele balança a cabeça e sorri.

- o seu caderno. você deixou ele na casa do Jerry no dia que você estava nos ajudando com o trabalho. - ele estende o caderno de capa vermelha na minha direção.

- sim, mas isso aconteceu uma semana atrás, por que você não me deu antes ? - pego o caderno e ponho ao meu lado.

- eu não tive oportunidade, você sabe, esse colégio é muito grande. - ele faz uma expressão confusa e eu quase rio.

- então por que você você não o deixou com o Jerry para ele me entregar? - arqueio uma de minhas sobrancelhas.

- bem, eu... - ele coça a nuca. - eu não tenho uma resposta para essa pergunta. talvez eu só estava querendo uma desculpa para falar com você e essa me pareceu boa o bastante. - isso é algum tipo de jogo?

- bem, então... - eu realmente não sei o que responder, o que tá acontecendo comigo? ele sorri.

- não acredito, eu consegui deixar Anne Shirley-Cuthberth sem palavras, vou me lembrar desse momento pelo resto da minha vida. - ele começa a rir mas Josie aparece e fica entre nós dois.

- desculpa por atrapalhar a conversa de vocês dois, mas será que você poderia me emprestar a Anne por um minutinho, Gilbert ?- ela dá um sorriso falso em minha direção.

- ahm... claro. - ela não espera mais um segundo e me agarra pelo meu pulso e me guiando até uma sala de aula vazia que está aberta e fecha a porta assim que entramos.

- o que você acha que estava fazendo conversando com Gilbert Blythe ? você por acaso gosta dele ou algo do tipo ? - ela cruza os braços e eu preciso me esforçar para não gargalhar.

- primeiro, eu seria uma das últimas pessoas que você conhece que poderia um dia "gostar" de Gilbert Blythe. - falo desamassando a minha roupa com a mão. - e segundo, se eu por acaso gostasse dele, por que eu teria que dar satisfações justamente pra você? você não significa pra mim e minha com ou sem você seria a mesma merda, então se me der licença - tento passar por ela para sair daquela sala e dar por fim a conversa mais estranha que eu já tive em toda a minha vida mas ela apenas continua no meu caminho.

- você está se achando demais para uma orfãzinha, Anne Shirley.

- do que você me chamou ? - prendo a respiração, pedindo para os céus que aquilo seja apenas uma provocação sem fundo dela.

- o que? orfãzinha? - ela dá um passo em minha direção com um olhar ameaçador. - não é isso o que você é? uma bastarda imunda? - ela continua andando em minha direção e a cada passo que ela dá até mim eu dou um para trás.

- eu... eu não... - é isso eu estou acabada. 15 anos de segredos, mentiras e todo tipo de coisa voltaram à tona.

todos vão saber. todos vão rir de mim.

e agora eu não vou ser mais Anne Shirley-Cuthberth, a garota esquisita. eu vou ser Anne Shirley-Cuthberth, a esquisita que foi abandonada pelos próprios pais durantes os primeiros dias de vida.

- sério que você já chegou a pensar que ninguém nunca descobriria o seu segredinho? que fosse apenas olhar um pouco mais de perto para perceber que todas as suas histórias malucas sobre os seus "pais" - ela faz questão de fazer aspas com as mãos - não passam apenas de mentiras muito mal contada criadas por uma garota que um dia achou que poderia ser alguém? você é bem mais ingênua do que eu pensei. - me choco com a parede quando não tenho mais para onde andar.

- por favor, para. - suplico sentindo os meus olhos começarem a queimar com as lágrimas que queriam descer.

- parar? mas agora vem a melhor parte e eu tenho certeza de que você não quer perdê-la. - ela volta a sorrir como nunca. - e acho que a parte que você foi mais idiota em toda essa história foi quando você achou que poderia confiar um segredo tão grande nas mãos de pessoas que você nem ao menos conhece. afinal, pode até ser bem fácil de descobrir a farsa que é a sua vida mas uma pessoa bem próxima se você me deu um empurrãozinho. uma dica, tente conhecer melhor as pessoas para quem você conta coisas tão pessoais. dessa vez, só eu descobri, mas você já parou que tipo de monstro poderia ser na próxima ? a gente se fala depois, Anne. - ela dá meia volta e vai até a porta.

mas antes de sair ela se detém e se vira mais uma vez na minha direção.

- e quanto ao Gilbert eu nem deveria estar me sentindo tão ameaçada, como eu consegui pensar em você como uma concorrente? deve ter sido o calor do momento. - ela ri como se tivesse um contado uma boa piada. - se nem os seus pais te quiseram por que ele iria? fico impressionada que os Cuthberths aceitam qualquer lixo para viver com eles sob o seu teto. - então ela só sai dali.

me deixando no chão totalmente sozinha e chorando feito um bebê.

um bebê sem uma família real e aparentemente sem amigos também.

essa é uma boa maneira de começar o dia.

• • •

fiquei escrevendo esse capítulo pelas últimas uma hora e meia e eu espero de todo o coração que vocês tenham gostado.

se tiver algum erro peço perdão mas eu corri pra postar hoje pq na semana que vem eu vou estar lotada de teste e depois do feriado já começam as minhas provas.

boa noite e eu amo muito vocês 💙

iheay - shirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora