Meses

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Três meses depois...

Eu até tentei voltar para o Brasil, mas com a chegada das festas de fim de ano, Agnes implorou para ficar até o natal. Então decidi ficar mais um pouco.  
Minha barriga já esta grandinha e hoje entro para a 29ª semana. Ah desculpa, mas é mania de grávida responder assim, em semanas. 
Quero dizer que estou grávida de sete meses de um menino lindo, mas não vai se chamar Enzo! E graças ao plano da Agnes, tenho todo o auxilio médico e acompanhamento desse bebe, que é forte igual o pai.
Sobre o Will, ele não me procurou mais e também não sabe da minha gravidez. Fiz o Ezequiel jurar de pé junto, que não contaria nada para ele. 
A dor e saudade dele é grande, mas a responsabilidade que tenho em ser mãe é maior.
Tenho curiosidade em saber como ele está, mas as vezes é melhor deixar assim. Ele é como uma ferida aberta na minha vida. Prefiro não mexer para não doer.

_O que é isso? - Agnes pega a caixinha azul embaixo da árvore de natal e já vai abrindo. Curiosa.

A caixinha pintada de azul bebe ficou linda. Dentro coloquei um sapatinho azul e escrevi uma pequena carta a mão, convidando Agnes para ser a madrinha/tia do meu baby. 
Não teria ninguém melhor que ela para ocupar esse cargo. 

_Ah não é nada demais... 

_AAAHHHHHH CLARO QUE EU ACEITO!!! - Agnes surta. Pula, me beija, abraça e dá gritinhos de alegria. 

Como não posso beber, brindamos com suco de laranja e comemos um bolo de chocolate delicioso. Conversamos sobre voltar para o Brasil e como seriam as coisas se eu ficasse aqui. Agnes insiste nisso, mas não posso ficar aqui depois que meu pequeno nascer. E além do mas, minha mãe está nos esperando com tudo pronto.

_Eu tenho que te contar uma coisa, mas só para lembrar que eu não preciso ir, tá? - Lá vem bomba.
_Will nos convidou para passar a noite de natal na casa dele. 

Perdi a fome. 
Merda! O bolo estava tão bom.
Agora o William é família, é? Comemora o natal com ceia e quer todo mundo reunido? 

_Eu não quero ver ele, mas você e Eze devem ir!

_Capaz! Imagina se vou te deixar sozinha no natal. 

_Agora eu não fico mais sozinha. - Aliso minha barriga sorrindo feito uma boba. Esse bebê nem nasceu e eu já o amo incondicionalmente. 
_E eu queria que você visse o Will. 

_Por que?

_Ver como ele está, sabe? Ah, eu sei que ele é um babaca, mas eu tenho curiosidade. 

_Não vou! Vamos fazer uma ceia aqui e pronto. 

_Agnes! - Pego sua mão e coloco na minha barriga. 
_Por nós. Precisamos colocar um fim nisso e voltar em paz. 

_Tá, tá, tá! Mas olha, vou fazer isso pelo meu afilhado ver que o pai dele é um babaca. - Sorrio e abraço Agnes, agradecendo-a por tudo. 

Termino de lavar a louça e vou deitar.
A ideia de saber sobre Will, me perturba a noite toda.
Não consegui esquece-lo e o filho que carrego dentro do meu ventre, sempre vai me lembrar do homem que amei.
Às vezes me sinto uma fracassada, por não conseguir provar a montagem das fotos. Mas a falta de interesse do Will, me lembram que a culpa também é dele. 

-/-

_O que acha desse tom de azul. - Agnes surge com um vestido na mão, me desconcentrando da tradução.

_Bonito! - Volto a digitar concentrada na tradução de um livro de ficção cientifica. 

_Pensei em usar hoje a noite...

_Vai ficar lindo em você! 

_Eu pensei em comprar a tinta da mesma cor e pintar o quartinho dele - Céus! Não.

_Nós já conversamos sobre isso. - Ela não entende que vou voltar para o Brasil e tenta arrumar mil formas para eu ficar aqui.

_Sim e eu ainda não entendo por que você não quer ficar!

_Agnes me escuta. - Largo o notebook e a puxo para sentar no sofá.
_Eu nem sei como te agradecer por tudo que você está fazendo por mim. Mas não posso continuar assim, ainda mais quando o bebê nascer.

_Mas você não dá nenhum trabalho e nem gasta quase nada...

_Ainda! Quando ele nascer, os gastos e trabalho vão aumentar muito. E no Brasil, tenho minha mãe, que vai me ajudar. 

_Olha Fabíola, eu vou te dizer uma coisa! - Agnes fica nervosa e larga o vestido no sofá. 
_Você não fez esse filho sozinha, por isso deveria contar pro William!

_Eu não vou contar!

_Amiga, pense no seu filho! Você está passando dificuldades e o William é obrigado a te ajudar. 

_Agnes, por favor não conta nada pra ele!

_Eu não vou contar, mas me promete que você vai pensar nisso? - Ela pede com os olhos cheios de lágrimas. 

Afirmo com a cabeça e encerramos o assunto. 
Eu poderia arrancar uma pensão bem gorda do Will. Fazer ele pagar em dinheiro todo o sofrimento que eu vivi, mas eu tenho orgulho. E meu orgulho é maior do que ele.
Senti que Agnes ficou meio brava comigo, mas ela tem que entender meu lado. E eu já comprei as passagens para o final de janeiro. Não tenho mais motivos para ficar aqui. 

Às oito da noite, Eze veio buscar Agnes para o jantar e trouxe uma bola de presente para meu pequeno. Claro que vai demorar muito para ele brincar, mas vai ser um dos presentes que ele vai adorar. 
Esquentei a lasanha que sobrou do almoço e fui comer na frente da Tv. 
Em todos os canais, só falam sobre o natal. Nos noticiários mostram as festas na cidade, nas novelas a família na ceia e nos filmes o papai noel dando presentes. Tudo me lembra os natais da minha família. Era uma loucura. 
Todo mundo se arrumava para ficar na sala, assistir Roberto Carlos, falar mal um do outro e no final, aturar o tio Pedro com as piadinhas dele... "É pavê ou pacumê?"
A saudade enche meu peito, que pego o celular o faço uma vídeo chamada para a mamãe.
Estão todos reunidos na casa da minha vó. 

_Oi gente! - Todos me dão oi e ficam ao redor da minha mãe. 

_Filha mostra a barriga pra nós. - A mãe pede toda orgulhosa do primeiro neto. 

Direciono o celular para minha barriga e todos suspiram dizendo que está linda. Minhas tias me perguntam quando eu volto, como estou de saúde e dizem que estou mais linda grávida. Que estou com um brilho incrível. 

Me despeço de todos, mandando beijos e dizendo que estou com saudades. Mas a mãe não sabe desligar a chamada e deixa o celular em cima da mesa. 
Ao fundo, ouço minhas tias cochichando e perguntando quem é o pai. Minha mãe fala que é de um ricão americano e que está apaixonado por mim. 
Aff mãe!
Minhas tias começam a falar mal de mim, que dei o golpe da barriga e que sou uma interesseira. Mas isso não me afeta e até caio na gargalhada. É normal delas falarem mal e terem inveja. Minhas primas não tiveram bons relacionamentos, engravidaram de homens que não gostam de trabalhar e passam a vida sustentando eles. 
Ainda rindo da situação, desligo a chamada e fico olhando pro nada.

Como queria ser uma mosquinha para espiar esse jantar...

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