Dirty Dancing

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Charlie sentiu o peso dos olhares sobre si. Ele sabia que voltaria, mas não para ficar. E também não estava nos planos de Charlie revelar o que planejara. Por enquanto era melhor que pensassem que ele realmente estava de partida.

— Dentro de alguns dias. Apenas irei resolver sobre a casa de mamãe e logo voltarei.

Emília abaixou o olhar a confirmação de Charlie e respirou fundo. Ela sabia que isso aconteceria, mas ouvi-lo falar era mais doloroso do que imaginava. Jamais pensou que sentiria tanta dor com a volta de Charlie. Sempre imaginou que sua volta seria para alegrar a todos. Mas nada sai como planejamos.

— Vou para à loja.

Emília se levantou e ouviu sua mãe protestar.

— Mas já? Você mal tocou na comida Emília...

— Estou sem fome.

Respondeu ela ajeitando a jaqueta em seu corpo e observando o tempo pela janela, que chovia com pouca intensidade.

— Vou com você!

Falou Charlie se levantando e encarando-a.

— Não precisa, sei andar sozinha.

— Eu sei, mas quero te fazer companhia, algum problema com isso?

Emília soltou um suspiro e assentiu pegando sua bolsa na cadeira ao lado. Ela estava tentando fugir da companhia de Charlie, mas pelo visto ele não estava disposto a permanecer mais tempo longe dela do que o necessário. Ela não sabia se ficava contente com sua disposição ou se ficava triste por lembrar a cada segundo que em breve não terá a companhia dele.

Emília pegou o guarda chuva e saiu de casa. O trabalho ficava a poucos minutos, então não demoraram muito para chegar.

— Está tudo bem Emília?

— Sim, por quê não estaria?

— Não sei, você anda estranha.

— Impressão sua.

Emília abriu a loja e começou seus afazeres diários. Ela não costumava abrir em dias muito chuvosos, apesar de que a chuva havia diminuído, mas ainda sim acreditava que seria uma boa distração, pelo menos até Charlie vir lhe fazer companhia.

Após arrumar a prateleira de enlatados, começou a atender alguns poucos clientes que adentravam o estabelecimento. Charlie ficou apoiado no balcão, perto das vasilhas de doces. Ele apenas observava o jeito simpático e espontâneo que Emília costumava atender as pessoas. Uma das maiores alegrias dele era vê-la rindo. O sorriso de Emília era uma das coisas mais lindas que Charlie já vira. E ele não se imaginava viver sem ele.

A maioria do povo era simples, mas também era conhecido pela sua boa recepção e forma de tratamento. Quando o movimento parou por alguns instantes, Charlie resolveu puxar assunto.

— O que faz quando não está nessa loja?

— As vezes lendo, cuidando das tarefas de casa ou passeando no lago.

Charlie estava acostumado a mulheres sofisticadas, que saíam para restaurantes chiques e iam pra desfiles de modas e tudo mais. Mas isso que ele estava vivendo com Emília, esse simples convívio social, falando com as pessoas, sendo gentil, lhe trazia uma paz que ele não sabia explicar. De um certo modo, ele se lembrava de sua mãe como era. Gentil, doce, carinhosa, uma mulher guerreira que teve que lutar para ter sua liberdade. E Emília fazia isso inconscientemente todos os dias.

— Acho que você precisa se divertir um pouco.

Ele disse se desencostando do balcão e olhando-a arrumar alguma coisa numa prateleira.

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