— Promete não esquecer de mim?
Perguntou Emília ainda encarando os olhos azuis de Charlie, que estavam úmidos pelas lágrimas. Durante alguns longos anos ele morara no Texas, com sua mãe. Mas agora ele estava sendo obrigado a ir morar com seu pai em seu país de origem, na Suécia, por conta da atual situação financeira. Seus pais viveram juntos até que Charlie completou 5 anos. Ele nunca descobrira o verdadeiro motivo da separação, mas sofrera muito com as brigas e terríveis discussões entre seus pais.
— Prometo!
Disse ele passando a mão sobre o rosto delicado de Emília, para limpar as lágrimas que haviam escorrido. Emília ainda estava entrando na puberdade, com seus 13 anos. O corpo estava começando a criar forma. A ganhar seios bonitos, pernas mais longas e definidas, e uma bunda perfeitamente redonda. Charlie com seus 12 anos ainda não tivera nenhum sinal de sua masculinidade. A verdadeira beleza constatava em seus brilhantes olhos azuis e seu cabelo loiro. Uma mistura genética de seus pais. Já Emília tinha os olhos marrons mais profundos e belos que Charlie conhecera.
— Eu sentirei a sua falta pequeno Charles!
— Também sentirei minha grande Emília!
Eles sorriram com os rostos molhados pelas lágrimas e deram um último abraço caloroso e apertado. Emília tinha 6 anos quando Charlie se mudara para Amarillo, uma das cidades do interior do Texas. Ela também não nascerá lá, e sim em Hollywood. Mas aos 3 anos fora morar lá, já que os pais queriam economizar sua pequena fortuna e investir em lojas na região. Charlie nascera na capital da Suécia, mas teve que se adaptar ao clima e costumes durante os 7 anos que vivera em Amarillo.
— Tem certeza de que vai sobreviver lá?
A voz de Emília estava embargada de emoções.
— Não tenho, mas farei por você!
Um sorriso singelo transpareceu nos lábios finos de Emília, enquanto ela passeava sua mão suavemente pelo cabelo sedoso de Charlie.
— Você é um fofo! O melhor amigo que eu poderia ter!
Charlie sentiu algo estranho brotar em seu peito com o ingênuo comentário. Ele quisera ser mais do que um simples amigo. E pensou que não teria outra oportunidade pra dizer o que realmente sentia. Emília por sua vez tentava a todo custo se convencer do que acabara de dizer. O que ela sentia não era um amor de amigo, mas ela também não sabia exatamente o que era.
Só podia dizer que uma enorme necessidade de tê-lo consigo tomava-lhe o peito, e a cada segundo que passava parecia o último.
— Emília...
— Vamos Charlie! Nosso ônibus já chegou!
A voz de Esther Monroe soou rígida, mas com uma pintada de emoção que ela custava a esconder. Esther nunca fora durona, e sim uma mãe frágil e carinhosa, que passou por muitos problemas com o casamento e um filho pequeno. Mas agora, anestesiada pela dor de ver um filho partir ao encontro de um homem que tanto lhe magoara, ela preferia manter uma postura firme, a fim de que ele não notasse sua dor.
— É melhor você ir, não quero que se atrase!
Emília se afastou vagarosamente com relutância e olhou no brilho dos olhos azuis, que pareciam tão apagados quanto seu coração. Charlie se agachou pegando sua mala e a encarou.
— Eu te amo Emília, nunca se esqueça disso.
Ele depositou um beijo em sua bochecha e sorriu olhando na beleza dos olhos marrons e profundos. Com a mão livre ele alisou o cabelo castanho, mantendo o contato visual, e caminhou até sua mãe, que estava por colocar a última mala no bagageiro do ônibus. Entregou a mãe sua última mala e antes de entrar no ônibus, deu uma última olhada em Emília, que estava tomada pelas lágrimas. Ele entrou e correu para o fundo do ônibus assim que o mesmo começou a andar.
Emília limpou as lágrimas e com um sorriso singelo no rosto ela acenou com a mão em sinal de despedida.
Charlie acenou de volta e fez um coração com as mãos em seguida, o que alargou o sorriso de Emília durante os últimos segundos em que se olhavam através do vidro do fundo do ônibus.
— Que você volte para mim são e salvo Charlie...
Emília respirou fundo após o breve pedido e voltou para casa, que ficava a poucos minutos dali. A saudade de Charlie já possuía seu coração. Ela se apegara muito a ele e não imaginava como seria dali em diante.
Ao chegar em casa subiu direto pro quarto. Seus pais não ligavam pro que ela fazia ou com quem andava. O pai, dono de várias lojas, vivia ocupado com seus negócios, a mãe, se mantinha ocupada em cuidar da pequena mansão em que eles moravam, apesar de passar boa parte do tempo fofocando com as amigas sobre a fortuna de seu marido e de como ele era um homem maravilhoso, e que ela tinha uma filha perfeitamente adorável e obediente; era a família perfeita. Somente aos olhos dos outros... Pensou Emília ao adentrar seu quarto e se jogar sobre o colchão confortável.
Charlie se sentou no banco de couro velho ao lado de sua mãe e observou a estrada de terra enquanto o ônibus balançava freneticamente. Ele gostava dos tempo da Suécia, apesar de ter apenas vagas lembranças. Mas amava sua vida no Texas. Sua mãe e Emília em especial. Nunca fora muito próximo de seu pai e não imaginava como seria a partir de agora.
Emília por sua vez estava sozinha. Não tinha irmãos, e os pais pareciam não ligar para a jovem de 13 anos. Ela só tinha uma amiga na cidade, Tiffany, que também estava de mudança. No momento sua vida parecia estar desmoronando aos poucos.
E Emília nem imaginava as grandes surpresas que o destino ainda lhe reservava.
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Amor de Infância
Short StoryTodos nós, em um determinado período, já tivemos um amor, algo que floresce no peito. Quando encontramos o primeiro amor, é inesquecível e como todo o amor de verdade, é inabalável. Assim foi a história de dois amigos na infância, que não entendiam...