Ceder ou Desistir? - Final

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No dia seguinte Charlie acordou mais cedo do que o de costume. Ele levantou, ainda sentindo o cheiro das flores e folhas crescendo e do sol batendo em algum lençol branco e velho, e caminhou até o banheiro. Ele não iria esperar mais tempo para colocar seu plano em prática. Hoje mesmo ele trataria de se resolver com Emília.

— Bom dia Jade, bom dia Johnny.

O senhor apenas assentiu com a cabeça e continuou comendo tranquilamente.

— Bom dia Charlie.

Respondeu a senhora se sentando e colocando a xícara de café sobre a mesa.

— Emília já acordou?

Perguntou ele pegando um pãozinho e passando manteiga, logo após se acomodar na cadeira da mesa.

— Ela já está na mercearia.

— Já?

Espantou-se Charlie. Ela certamente estava tentando evitá-lo, e poderia facilmente colocar a culpa no trabalho.

— Sim, a Emília tem o que fazer senhor Charlie, não é uma desocupada como você.

Charlie sorriu observando-a e se inclinou para responder.

— Eu sei que a senhora nunca foi com a minha cara, mas respeito é bom e todo mundo gosta.

Ele se levantou deixando o pãozinho na mesa e a olhou antes de sair.

— E deveria se acostumar com a minha presença, pois eu não tenho a menor intenção de sair da vida da sua filha! Tenha um bom dia.

Charlie se retirou da mesa e voltou pro quarto. Jade olhou para o marido, que sorria satisfeito, e respirou fundo quase soltando fogo pelas narinas.

Inicialmente Charlie não concordava em ficar ali, sabia bem sobre os sentimentos de Jade por si e parece que nem mesmo sua ajuda com o marido amoleceu o coração da senhora. Mas Emília havia insistido, e seria uma boa oportunidade para ficar perto dela, nem que pra isso tivesse que suportar o mal humor de Jade Ericson.

Charlie vestiu um terno azul escuro e saiu apressado da casa de Emília. Ele precisava resolver a situação da casa de sua mãe antes de falar novamente com Emília. Ele chegou minutos depois e adentrou o local observando-o. Ainda era inacreditável que sua mãe estivesse morta. Que ele jamais poderia tocar nela, sentir seu abraço, ouvir seus conselhos, suas broncas. O único conforto era lembrar das últimas palavras, que tinham sido amorosas. Um eu te amo repleto de amor, que se tornou as palavras de uma surpreendente e repentina despedida.

— Senhor Charlie?

Charlie se virou ao ver o senhor e sorriu gentilmente, como se estivesse tentando mascarar a dor.

— Senhor Patrick, pode me chamar de Charlie, não precisa dessa formalidade.

O senhor de poucos cabelos grisalhos se aproximou e soltou um leve sorriso contido pela tristeza, enquanto se aproximava do rapaz.

— Tudo bem, Charlie. O que pretende fazer com esta casa?

— Eu pensei em reformá-la. Não quero mexer no quarto da mamãe, ainda posso sentir seu cheiro lá...

Charlie observava cada centímetro da casa, lembrando de cada instante em que vivera ali. Por fim, ele acabou caminhando em passos lentos e cuidadosos até o quarto de sua mãe, onde parou na porta e respirou fundo fechando os olhos, como se pudesse não só sentir seu cheiro como tê-la em seus braços.

— Compreendo. Vai ficar aqui então?

Perguntou o senhor segurando seu chapéu de palha característico e se pondo atrás do jovem.

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