Capítulo 21 - Julgamento.

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04 de dezembro. Domingo.

Eu estava com medo, meu coração disparou mais forte ainda quando Laura disse que eu deveria ser vendada. Olhei para trás tentando captar algo no rosto dela, mas meus olhos se desviaram para a chuva forte que cobria a floresta. Devia ser umas três horas da manhã ou talvez mais. Tentei contestar de o porquê da venda, mas ela disse apenas que era necessário, que se eu entrasse lá dentro sem as vendas iria sofrer com as consequências. Naquela hora da madrugada eu não estava em posição de contestar nada. Ela pegou a venda de dentro da mochila e amarrou em meu rosto, depois segurou minha mão e escutei o som da porta se abrindo. O som da chuva se dissipando enquanto a porta se fechava lá atrás e nossos passos ecoando pelo que parecia ser um grande salão vazio.

Eu segurava a mão da Laura com força, sentia que se soltasse acabaria emergindo na escuridão total. Ela pediu para eu me sentar e me ajudou. Sentei em um banco de madeira, o assento é acolchoado e confortável, minhas costas estavam rígidas e senti-as relaxando, meus músculos se soltaram mais e até soltei um pouco do ar que estava entalado em meus pulmões. Sentar depois de uma caminhada longa é a melhor coisa que existe, meu pé continuava latejando. Escutei vozes ao meu redor, vinha de todos os cantos, sussurros e risos, levei a mão ao rosto sentindo o desespero tomando conta de mim, mas a mão da Laura me impediu.

-Não pode tirar a venda. – Ela disse.

Ela segurava minha mão e as vozes continuavam.

-Quem está aí? – perguntei para Laura.

-Não se preocupe.

Aquela não era bem a resposta que eu esperava. Apertei a mão da Laura com mais força após sentir alguém se aproximar, a pessoa passou ao meu lado e os passos cessaram um pouco adiante, escutei o som de uma cadeira se mexendo e depois as vozes pararam. O silêncio durou alguns segundos, então escutei algo pesado caindo encima de uma mesa ou talvez cadeira, pelo som devia ser um livro ou algo do tipo.

Alguém tossiu.

Trovão.

-Rebecca. – Essa voz eu reconheci logo de cara, era Amélia. – Parabéns, você passou por todos os testes. – A voz dela estava diferente, apesar de tudo, o tom não parecia tão debochado como da primeira vez que nos encontramos. -Mas aqui está você, bem na minha frente, bem na nossa frente. -Escutei o som de mais cadeiras se mexendo. -Tenho certeza de que se você tirar a venda vai reconhecer quase todas essas pessoas.

-Mas não posso retira-la. Porque?

-É uma regra.

Okay, aquilo não me convenceu ainda. Isso é assustador.

-Eu não gosto dela. – Essa era a característica voz de pata, então deve ser Camila.

Virei meu rosto em direção a voz tentando mostrar que eu estava ali. Laura apertou meus dedos para chamar minha atenção.

-Fica quieta Camila! – Essa voz eu conheço também, é Maria.

Escutei o som da cadeira rangendo criando um rangido irritante, acho que alguém ficou de pé pois o som dos sapatos colidindo com o chão foi bem alto.

-Eu tenho o direito de falar, não são essas as regras? – Disse a pata Camila. -Ou vão mudar isso também? - Só ela falava. -Essa menina só tá aqui porque é enxerida!

Uma discussão se iniciou, eu não conseguia entender o que falavam, mas ouvi xingamentos e depois risadas de deboche. Ela me chamou de enxerida, o que faz um certo sentido devido a maneira como nos conhecemos.

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