Capítulo 20 - Floresta negra.

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04 de dezembro. Domingo.

E se Arthur não fosse um suicida? Eu não consegui formular nada que levasse ele a fazer aquilo. E se ele foi assassinado por alguém? Essa pasta é uma mina de ouro para qualquer aspirante a jornalista, e se... estou viajando demais.

O google tradutor me ajudou a traduzir os títulos de alguns daqueles documentos; cirurgião famoso, mãos de deus, acidente, assassinato, esquizofrenia, psicopatia, pedofilia, estupro. Arthur de alguma maneira descobriu algo que não deveria ser descoberto, isso acarretou em sua morte, eu tinha toda certeza disso. Aquele discursinho ensaiado, o sorriso carregado de cinismo. Meu peito ardia de tanto ódio que eu sentia daquele homem.

Meu celular vibrou, alguém estava me ligando.

Amélia.

-Merda, merda, merda, merda, merda! – Ela repetia, imaginei-a caminhando em círculos com a mão apoiada no rosto, a expressão de desespero típica dos filmes. – Você tem que sair daí. Tem certeza de que não foi vista?

-Tenho certeza... bem... talvez não tenha tanta certeza assim.

O coordenador e a recepcionista devem ter me visto.

-Eu não tenho para onde ir.

-Sim, você tem. E vai seguir exatamente tudo o que eu disser!

Ela me passou todas as instruções, aquilo era impossível, eu teria que correr por quase 20 quilômetros.

-Meu tornozelo... meu pé, não sei... – resmunguei.

-Do que você tá falando?

-Eu acho que torci meu tornozelo ou quebrei meu pé, não sei muito bem.

-Merda...

Estou ofegante, acho que ela percebeu.

-Rebecca, de jeito algum ligue para a polícia! Eu vou pedir para alguém te ajudar.

-Porque não fez isso antes? – perguntei, irritada.

-Bem... depois eu te expli...

-Depois não! Agora!

Escutei ela respirar fundo.

-Ela não queria que... não queria que você soubesse.

Meu deus... naquele momento essa pessoa passou por minha cabeça, como se estivesse flutuando na minha frente. Só podia ser ela, desde o início, não era Amélia que estava me seguindo, é claro que não, ela nem estava aqui na escola. Ela estava infiltrada esse tempo todo, ali do meu lado, no mesmo quarto.

-Laura. – Eu disse.

-Laura. – Ela disse.

Silêncio.

-Fica aí. – Ela disse.

***

Um arbusto se moveu ao meu lado esquerdo, eu estava encostada na árvore e mal conseguia respirar direito. Era apenas um gato passeando. Por um momento achei que fosse Salem, mas não era. Eu estava perto do prédio da enfermaria, entre um amontoado de árvores e arbustos.

Olhei meu celular.

00:57.

Escutei passos, então olhei para minha direita e vi Laura. Ela se ajoelhou ao meu lado e acariciou meu rosto com a palma da mão.

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