Epílogo.

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Ainda me lembro daquela época no internato, tenho boas lembranças remanescentes, das festas que fui com Nicolas, das noites que se tornariam tediosas se não fosse Leta e a Netflix até tarde da madrugada, as conversas que nunca acabavam com Laura, fosse antes ou depois da aula. Me bate uma sensação de nostalgia lembrar das aulas e dos professores, mesmo sabendo que se passaram apenas dois anos desde aquele incidente. Sim, aquele incidente que foi noticiado por meses no mundo inteiro. "O massacre de Primavera mais terrível de todos os tempos". Era assim que faziam a chamada para um programa especial na Tv aberta, aonde mostravam as famílias e amigos daqueles que morreram dentro do internato. Foi cruel da parte deles, até hoje não consigo encontrar uma resposta de o porquê elas terem feito aquilo, mesmo depois da última conversa que tive, a menos esclarecedora de todas, eu achava que teria as respostas lá, mas no final não tive absolutamente nada! Minha melhor amiga bateu na minha cabeça e depois elas me drogaram, quando acordei a primeira coisa que pensei em fazer foi ir até a escola, mas quando cheguei lá... ela estava cercada por policiais, bombeiros e repórteres. A escola era apenas uma estrutura sem vida, cinzenta e cheia de destroços. Foi então que eu entendi o que havia acontecido, a droga era tão forte que eu acordei um dia após as bombas. E nenhuma explicação me foi dada. Minhas duas amigas morreram, se jogaram do prédio e se espatifaram no chão, e foi tudo em vão, ele continua vivo; Marcus. O que sei dele é que seu corpo inteiro foi desfigurado pelas chamas, ele perdeu uma perna e agora vive em uma cadeira de rodas, mal consegue falar direito. Eu ainda tenho os diários e a pasta que mostra quem ele realmente é, por isso fiz questão de tirar várias cópias e mandar para aquela repórter freelance, Ana. Ela vai ter a matéria que vai alavancar a carreira dela, tudo mandado por uma pessoa anônima. De nada, Ana.

Agora sou teoricamente uma adulta, estou morando em São Paulo com meus tios e minha irmã, apesar dos problemas, eu me sinto uma pessoa feliz. Vou para a faculdade, tenho um emprego que detesto, dirijo meu próprio carro. Eu não contei para ninguém sobre o que vivi naquele internato, espero que as coisas continuem assim. Eles nunca descobriram sobre Gohan. A morte do Arthur continua um mistério. Eu sei que a Lucia não está morta, ninguém citou o nome dela nos jornais, ela foi simplesmente esquecida desde o seu desaparecimento. Às vezes me pego pensando: E se eu estiver que nem o Edward Norton no clube da luta? Faria todo sentido, mas isso é o mundo real e não uma ficção, eu sei que a Lucia foi real, disso eu tenho certeza.

E também acho que as coisas vão ser diferentes agora. Encontrei Pedro em um shopping, eu estava passeando com minha irmã e lá estava ele, trabalhando na livraria, hahaha que irônico! Até marcamos um encontro, ele disse que o Lucas qualquer coisa nos chamou para uma festa aqui em São Paulo, é claro que aceitei, afinal, seria meu reencontro com ele, talvez as coisas poderiam ser diferentes agora. Fui estúpida naquela época, mas... eu era apenas uma jovem garota que não sabia muito bem o que queria da vida. Medrosa e insegura, é lógico que seria muito melhor não ter passado pelo que passei, não ter perdido as pessoas que perdi. Mas tudo na vida é uma experiência, as experiências são passageiras, porém deixam marcas em nossos corpos. O que aprendi com isso tudo é que nunca devemos dar as costas a ninguém, todo mundo precisa de ajuda, se aquelas garotas tivessem recebido o apoio necessário ou... ou se aquele monstro tivesse recebido a punição que merecia, talvez as coisas fossem diferentes. Talvez nada daquilo fosse acontecer e... as coisas poderiam ter sido diferentes, com certeza poderiam.


Fechei o arquivo de texto que estava aberto no meu celular. Pedro estava sentado do meu lado no sofá, segurando uma garrafa de cerveja. Lucas qualquer coisa apareceu segurando um engradado com mais cervejas, todos ao nosso redor vibraram de felicidade. Estamos no novo apartamento do Lucas qualquer coisa, ele se casou com sua namorada feminista que se chama Alissa, ela é uma pessoa incrível. Compraram um apartamento aqui em São Paulo e nos convidaram para a festa de inauguração.

-Vamos beber até cair no chão! – gritou Lucas levantando uma garrafa de cerveja.

Quando meus olhos começaram a ficar pesados, Pedro chamou minha atenção.

-Vamos para o telhado do prédio.

Ótima ideia.

Deixamos o apartamento sem avisar ninguém, subimos as escadas e fomos para o telhado. Dali dava para ver a cidade toda, adormecida na madrugada. Pedro colocou a garrafa de cerveja no chão. Encostei na beirada e ele fez o mesmo. Ficamos ali em silêncio, conversando apenas por meio de pensamentos. Então uma lembrança me veio.

Laura.

Maria.

As duas mortas.

Meus olhos se encheram de lágrimas e ele me abraçou.

-Eu... sinto falta delas.

-Eu sei disso. – Seus braços contornaram meu corpo e ele beijou minha testa com toda delicadeza do mundo, sua barba roçou em minha pele me causando um arrepio. – Mas as coisas ficam mais fáceis.

-Como assim?

-Todos os dias, fica mais fácil, mas você tem que tentar todos os dias. E essa é a parte difícil. Mas é assim que as coisas ficam mais fáceis.

Meus olhos se encontraram com os dele. Senti que os planetas haviam se alinhado, o tempo parou, o frio não me alcançava mais. Foi nos olhos de Pedro que enxerguei algo, algo que acendeu uma chama no meu peito.

-Acha que podemos mudar o futuro? – perguntei.

Meu rosto se aproximou do rosto dele.

Lentamente.

-É difícil mudar algo que não aconteceu. – Ele respondeu sorrindo.

-Seu idiota, não estraga o clima.

Nós dois rimos.

Minha mão se apoiou na cintura dele.

-Podemos torna-lo melhor. – Ele disse, por fim.

Nossos lábios se encontraram. E as estrelas parecem ecoar uma música maravilhosa, uma música que nunca ouvi antes, mas que naquele momento fez com que eu me sentisse parte do infinito.

E esse infinito me trouxe um questionamento.

Aonde está você, Lucia?       



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Então meus caros leitores, chegamos ao fim desse livro, esse capítulo foi curto e direto ao ponto. O que acharam do final? Feliz demais? Hahaha, bem, já informo que não tenho nenhuma sequencia planejada para o momento, vou voltar a postar daqui a alguns meses, espero ver vocês na minha futura obra. =) 

Quem sabe eu não me inscreva para o prêmio Wattys no meio do ano e tal. Mas quero deixar meus agradecimentos a vocês que acompanharam essa história ao longo de quase três meses, fiquei muito feliz com o resultado, nunca imaginei que teria essa notoriedade, tudo graças a vocês. Obrigado por tudo. <3 

Até a próxima.

Fuja.Onde histórias criam vida. Descubra agora