25 de novembro. Sábado.
Não achei nada fora do normal, parece até que eu ouvi o gato dizer "Oh puxa! Oh puxa! Eu devo estar muito atrasado!". De vez em quando ele olhava para trás e continuava correndo, eu enxergava um sorriso por trás daqueles bigodes. Ardendo de curiosidade, corri pelo campo atrás dele a tempo de vê-lo saltar uma cerca de madeira. Aquilo marcava o fim do território do Internato. Pulei atrás do gato, mas não sem antes enroscar meu vestido, puxei com tudo e abriu um enorme rasgo que deixava minha perna direita exposta, além também de um pequeno corte por onde escorria um filete de sangue.
Entrei no meio do matagal e conseguia ouvir os passos ligeiros do gato, a escuridão era total e eu iluminava o caminho com a lanterna do meu celular, saltava obstáculos como raízes de árvores e pedras escorregadias. A silhueta do gato se destacava, seus olhos brilhavam no escuro quando voltava a me encarar. No fim daquele matagal eu conseguia enxergar uma luz, por mais clichê que seja isso.
Ele me levou até uma casa, no meio do mato.
"Ou aquilo era muito fundo ou ela caia muito devagar, pois a menina tinha muito tempo para olhar ao seu redor e para desejar saber o que iria acontecer a seguir."
Me aproximei da casa com a lanterna do celular ainda ligada, o gato tinha sumido de vista. É uma casa simples, pintada de branco e caindo aos pedaços, imaginei que tipo de pessoa poderia viver aqui no meio do mato, talvez o zelador do Internato, um dono de sitio ou um psicopata. Senti que se abrisse aquela porta uma motosserra me partiria ao meio no mesmo instante. Talvez por conta dos incidentes mais recentes eu não estava me sentindo tão assustada. Passei a iluminar as janelas, boa parte delas estavam quebradas, imaginei que se tivesse alguém ali dentro já teria dado as caras.
Ou se esconderia na escuridão.
"Primeiro ela tentou olhar para baixo e compreender para onde estava indo, mas estava escuro demais para ver alguma coisa."
Fui até uma das janelas abertas e escalei usando a parede rachada como apoio, tive que desligar a lanterna. Entrei na casa.
Liguei a lanterna.
"Então, ela olhou para os lados do poço e percebeu que ele era cheio de prateleiras."
Eu estava em um quarto, só consegui identificar isso por conta de uma cama destruída em um canto. Nas paredes estavam prateleiras vazias, caminhei pelo cômodo revirando cada canto a procura de qualquer coisa que pudesse usar como arma.
Nada.
A minha frente estava uma porta de madeira, do tipo barulhenta. Girei a maçaneta e minha teoria se comprovou correta. Dei de cara com um corredor, iluminei a área e então consegui identificar melhor aonde estava. O corredor morria em uma cozinha e no final tinha três portas, se eu dobrasse a direita chegaria na sala de estar.
Fui até a cozinha.
"Aqui e ali ela viu mapas e quadros pendurados em cabides."
A cozinha cheirava muito mal. Tentei encontrar a origem do cheiro mexendo em cada armário, gaveta e caixa. Para minha sorte encontrei uma faca em uma das gavetas, mas uma faca inútil já que só serve para passar manteiga no pão. Segurei a faca com a mão direita e o celular na esquerda. Notei um armário que eu não tinha verificado ainda, me aproximei e o abri. Dentro do armário estavam sacos de ração para gato, além também de latas com patê de carne e frango, sardinhas enlatadas, bolinhas de gude e novelos de lã. Aquilo me assustou, parecia que eu tinha recebido um choque que eriçou todos os pelos dos meus braços. Mexi no meio das latas e no fundo do armário encontrei um pote feito de argila.
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Fuja.
Misteri / ThrillerLucia Remis desapareceu nas imediações do Internato Primavera. Suas amigas estranharam, pois, todos seus pertences ainda estavam no quarto, elas ligaram para a polícia e o local virou um ninho de repórteres. Tudo indica se tratar de um sequestro. Re...